21 de janeiro de 2021

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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou ontem, após reunião virtual com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, que o atraso na liberação de insumos chineses para a produção da Coronavac no Brasil se deve a razões técnicas e não políticas.

Maia destacou que o encontro foi positivo e que o embaixador deixou claro que não há obstáculo diplomático para entrega do material para os imunizantes. Segundo o presidente, há empenho do governo chinês para que os insumos cheguem o mais rapidamente possível ao Brasil.

"O governo chinês vai trabalhar para acelerar a chegada desses insumos. O diálogo com o governo de São Paulo e o Instituto Butantan vai fazer com que a gente consiga avançar o mais rapidamente possível. A decisão do governo chinês é atender a população brasileira", destacou.

Rodrigo Maia disse ainda que, até o momento, o governo não procurou a embaixada chinesa e não houve nenhum tipo de diálogo para tratar do tema. Para Maia, não é o momento de olhar para os conflitos políticos. "É uma falta de diálogo incrível. A questão ideológica tem prevalecido sobre a questão de salvar vidas", criticou Maia.

Maia destacou ainda a necessidade de manter a boa relação econômica com a China, sobretudo, para o agronegócio. "A relação traz dividendos para a China e para o Brasil, mas só a decisão do embaixador [de fazer essa reunião] é a certeza da aceleração da exportação dos insumos", afirmou.

O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, como Maia atribuiu a problemas burocráticos e à elevada demanda internacional o atraso na liberação de 2 milhões de vacinas prontas do laboratório AstraZeneca e do chamado ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da Sinovac e da AstraZeneca já comprados pelo Instituto Butantan na China e pela Fiocruz e na Índia.

O ministro afirmou que o Brasil mantém “relação madura e construtiva” com a China e a Índia e descartou problemas políticos e diplomáticos nesse atraso. “Todo o processo está avançando e queremos acelerar justamente para que possamos manter o cronograma de vacinação. O comércio com a China cresceu expressivamente nos dois anos do nosso governo. Em 2020, cresceu 30% em comparação com 2019. Estamos juntos no Brics e tenho certeza que isso se refletirá também neste caso. Não é um assunto político, é um assunto de demanda por um produto”, disse Araújo.

Para acelerar a liberação das vacinas e do princípio ativo que permitirá a produção nacional, Ernesto Araújo disse ter conversado pessoalmente com o ministro de Relações Exteriores da China. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, também relatou reunião do ministro Eduardo Pazuello nesta quarta com o embaixador da China no Brasil.

No entanto, o coordenador da comissão externa, deputado Dr. Luiz Antônio Teixeira Jr., cobrou a formação de uma missão internacional de parlamentares e autoridades do Executivo para contato direto e imediato com os governos chinês e indiano. “Eu não acredito que a gente possa iniciar uma campanha de vacinação e parar. Não é possível que, nessa altura do campeonato – em que todos sabiam que precisaríamos de insumos da China e da Índia –, que a gente ainda esteja dependendo dessa liberação. A gente precisa de uma medida um pouco mais efetiva, talvez com uma comitiva diretamente na Índia e na China”, disse.

O que pensam outros políticos e especialistas

O próprio Maia chegou a dizer, na nota liberada pouco após às 13 horas de ontem, que o governo não havia procurado a embaixada chinesa para conversar sobre o assunto. Ele também opinou que havia uma "falta de diálogo incrível" e que "a questão ideológica tem prevalecido sobre a questão de salvar vidas".

Já a deputada Jandira Feghal rebateu os argumentos do ministro Araújo quanto à relação Brasil-China. “Até aqui, tudo o que o governo brasileiro fez nas relações com a China não foi no trato da diplomacia correta, com muitas agressões da família Bolsonaro e não foi tomada a devida proteção das relações diplomáticas pelo Itamaraty”.

o diplomata aposentado Roberto Abdenur, tem opinião parecida com a de Feghal. Falando para a BBC Brasil ele disse: "existe o ingrediente de mal estar dos dois países com o governo brasileiro devido aos erros cometidos nesses primeiros dois anos (do governo Bolsonaro)".

"Há um incômodo em Pequim com as múltiplas desfeitas desferidas contra a China pelo próprio presidente Bolsonaro, por seus filhos, por seus assessores mais próximos e pelo chanceler Ernesto Araújo", enfatizando que a política de relações exteriores "perdeu o crédito que tinha junto aos governo dessas duas grandes potências".

Quinze governadores assinaram ontem uma nota, enviada ao presidente Jair Bolsonaro, solicitando que o Governo Federal acione a diplomacia brasileira para abrir diálogo com os dois países.

As ofensas dos Bolsonaro à China

Não só o presidente Jair Bolsonaro nos últimos meses várias vezes tripudiou da vacina CoronaVac, chamando a pejorativamente de "a vacina chinesa de João Dória", dizendo que não a compraria com a justificativa de que "não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem" e que "diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", como também seu filho Eduardo Bolsonaro se envolveu em incidentes diplomáticos graves, sendo que no último o embaixador chinês disse que o Brasil poderia sofrer retaliações.

Em março passado Eduardo escreveu em seu Twitter que a pandemia de covid-19 era "culpa da China", fazendo uma comparação com o acidente nuclear de Chernobil, dizendo que tanto a Rússia como a China eram "ditaduras que preferiam esconder algo grave a se expor para salvar vidas", e em novembro acusou os chineses de espionagem cibernética envolvendo a tecnologia 5G.

O problema com a Índia

Segundo analistas, o problema com a Índia se deve a uma posição do presidente Jair Bolsonaro que votou contra uma proposta do país asiático para que patentes (direito de propriedade) sobre vacinas fossem abolidas. O jornalista Jamil Chade em sua coluna no UOL escreveu: "na busca por se aliar aos interesses dos países ricos, de atender demandas de Donald Trump e em seu sonho de entrar na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o governo de Jair Bolsonaro passou os últimos meses atacando a proposta feita pela Índia ainda em 2020. (...) Agora, Nova Déli diz que é justamente a falta de produção de versões genéricas da vacina contra covid-19 que impede o abastecimento global de um imunizante".

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Fontes