20 de janeiro de 2021

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

O Brasil não enfrenta um impasse só com a aquisição de insumos na China – segundo analistas, devido à uma retaliação do governo chinês após às críticas grosseiras dos Bolsonaro ao país nos últimos meses – mas também não conseguiu, ainda, enviar um avião para a Índia para trazer o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) a fim de começar a envasar e distribuir 2 milhões de doses da vacina de Oxford, a ChAdOx1, em solo brasileiro.

O avião deveria ter rumado para o país asiático na sexta-feira passada onde buscaria o material no Serum Institute of India, mas poucas horas antes de decolar de Recife, a imprensa começou a reportar que o governo indiano havia comunicado o governo brasileiro de que era cedo para começar as exportações.

No entanto, cinco dias depois do impasse iniciar, a Índia enviou hoje 2 milhões de vacinas covid-19 para seu vizinho Bangladesh, "esquecendo" do Brasil.

O governo do Brasil, que havia divulgado uma nota na quinta-feira passada sobre a decolagem do avião, não se manifestou mais em seu website.

O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking global de casos de coronavírus, atrás dos Estados Unidos (EU) e da Índia. O país é também o segundo em quantidade de mortes por covid-19, atrás apenas dos EU.

Atraso na vacinação e falta de vacinas

Com o impasse do Brasil com a Índia - e a China - a vacinação, numa escala maior, deve atrasar. A importação da ChAdOx era considerada excepcional e visava antecipar a imunização no Brasil, que começou ontem, após na segunda-feira passada 4 milhões de doses da CoronaVac terem sido distribuídas aos estados. No entanto, estas doses, que foram destinadas a profissionais de saúde da linha de frente no combate à pandemia e idosos em instituições de longa permanência, não foram nem sequer suficientes para vacinar este grupo de pessoas. Estima-se que apenas para este grupo seriam necessárias ao menos 11 milhões de doses - considerando que são necessárias duas doses da vacina para a imunização se completar.

Inicialmente, a Fiocruz, parceira da Universidade de Oxford no Brasil na produção da ChAdOx, já havia previsto o início da vacinação apenas para fevereiro, devido a falta de "coordenação mais harmônica e centralizada" do governo Bolsonaro.

As ofensas dos Bolsonaro à China

Não só o presidente Jair Bolsonaro nos últimos meses várias vezes tripudiou da vacina CoronaVac, chamando a pejorativamente de "a vacina chinesa de João Dória", dizendo que não a compraria com a justificativa de que "não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem" e que "diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", como também seu filho Eduardo Bolsonaro se envolveu em incidentes diplomáticos graves, sendo que no último o embaixador chinês disse que o Brasil poderia sofrer retaliações.

Em março passado Eduardo escreveu em seu Twitter que a pandemia de covid-19 era "culpa da China", fazendo uma comparação com o acidente nuclear de Chernobil, dizendo que tanto a Rússia como a China eram "ditaduras que preferiam esconder algo grave a se expor para salvar vidas", e em novembro acusou os chineses de espionagem cibernética envolvendo a tecnologia 5G.

Notícias Relacionadas

Fontes