Agência Brasil

Montevidéu, Uruguai • 25 de outubro de 2009

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As eleições no Uruguai devem levar hoje (25) cerca de 2,5 milhões de eleitores às urnas para definir quem será o presidente que vai comandar o país por cinco anos, além de senadores e deputados.

O processo eleitoral é acompanhado atentamente pelos articuladores brasileiros, em decorrência de queixas dos uruguaios por causa do Mercosul e das tensões causadas a partir da construção de duas usinas de celulose no Rio Paraná - que colocou em lados opostos o Uruguai e a Argentina.

Na disputa à sucessão do atual presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, o favorito é José "Pepe" Mujica, senador e ex-guerrilheiro tupamaro, da coalizão governista Frente Ampla.

O segundo colocado, de acordo com as pesquisas de intenções de voto, é Luis Alberto Lacalle, ex-presidente e representante do oposicionista Partido Nacional. Em terceiro lugar está Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, e em quarto, Pablo Mieres, do Partido Independente. Os indecisos chegam a 8% do eleitorado.

Paralelamente às eleições, os uruguaios vão votar em dois plebiscitos. Um deles questiona se os militares que participaram da ditadura devem ser punidos, e o outro, se é possível autorizar aos eleitores que moram fora do país o direito de votar.

O plebiscito mais polêmico é o que trata da revisão da lei de anistia denominada Lei de Cadulcidad, pois o período militar dominou a política do Uruguai por 12 anos e a estimativa é de que 164 cidadãos uruguaios tenham sido assassinados na ditadura.

A possibilidade de autorizar que uruguaios que vivem fora do país votem é também bastante controvertida, uma vez que se estima que cerca de 600 mil, dos 3,5 milhões de cidadãos, morem no exterior. No Brasil, os eleitores brasileiros que moram fora do país podem votar para presidente da República desde os anos 80.

Analistas políticos que acompanham as pesquisas de opinião e os debates evitam arriscar se a definição sobre o novo presidente será resolvida em um único turno ou será necessário um segundo. Como no Brasil, o candidato para ser eleito no primeiro turno deve obter mais de 50% dos votos.

Presidente eleito do Uruguai assume com o dever de resolver crise das papeleiras e com o Mercosul

Em comum os candidatos à Presidência do Uruguai têm dois temas que preocupam o governo brasileiro: as queixas sobre a integração do país no Mercosul e a chamada “crise das papeleiras” - impasse envolvendo fábricas de celulose decorrente da construção de duas usinas na fronteira entre Uruguai e Argentina. O próximo presidente do Uruguai terá de dar uma resposta à sociedade às duas questões. Até a posse em 1º de março, o vitorioso deverá negociar os termos de um acordo.

Os uruguaios reclamam da falta de apoio do Brasil e do bloco na solução da controvérsia. Analistas políticos afirmam que entre os candidatos a presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica, da Frente Ampla, seria o mais compreensivo com a política adotada pelo Brasil, enquanto Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, são mais severos.

A construção da usina foi rejeitada por moradores do lado da Argentina que temiam a contaminação provocada por essas fábricas. A tensão bilateral fez com que a espanhola Ence mudasse a localização de sua fábrica para outra área no Uruguai, enquanto a finlandesa Botnia decidiu manter a construção. O assunto está na Corte Internacional de Justiça à espera de uma decisão.

Paralelamente, os uruguaios negociam acordos bilaterais com o Brasil destinados a investimentos nas áreas de infraestrutura, energia e modernização portuária e de transportes.

Favorito nas eleições, Mujica é amigo de Lula a quem conhece dos tempos de sindicalismo

O quadro político no Uruguai envolve três candidatos com perfis muito próximos e apenas um diferente. Favorito na disputa eleitoral de domingo, José "Pepe" Mujica se distancia de seus adversários pela história de ex-guerrilheiro tupamaro e um perfil de extrema esquerda.

Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem conheceu ainda dos tempos em que o petista era metalúrgico, Mujica disse admirar o brasileiro e querer aproximar-se do Brasil. A mulher dele, Lucia Topolansky deve ser eleita a senadora mais votada do país nestas eleições. Com a possível vitória de Topolansky, ela fica como terceira na linha sucessória do próprio marido.

O segundo colocado nas pesquisas de intenções de voto, Luis Alberto Lacalle, do oposicionista Partido Nacional, foi presidente da República entre 1990 a 1995. Lacalle representa os conservadores. No seu discurso, ele se disse contrário à elevação de impostos e chama Mujica de radical.

Outro representante dos conservadores é Pedro Bordaberry, do Partido Colorado. Bordaberry é filho do ex-presidente uruguaio Juan Maria Bordaberry, que foi o primeiro presidente do período da ditadura no Uruguai. O pai do candidato está em prisão domiciliar, acusado de crimes cometidos naqueles anos. Bordaberry, assim como Lacalle, é contrário à anulação da Lei de Anistia, que pode levar à punição dos envolvidos nos crimes cometidos no período militar.

Fontes