Brasil • 26 de novembro de 2014
A busca pela audiência das televisões públicas, em um mundo com opções midiáticas cada vez maiores, é um dos temas centrais da 23ª Conferência da Public Broadcasters International (PBI). O encontro reúne, de hoje (26) a sexta-feira (28), no Rio de Janeiro, os principais representantes de emissoras públicas da África, América Latina, América do Norte, Ásia e Europa. O vice-presidente para Planejamento e Estratégia em Tecnologia da PBS, dos Estados Unidos, Eric Wolf, contou que a empresa conseguiu voltar a figurar entre as cinco maiores audiências televisivas de seu país, incluindo canais abertos e por assinatura, após estar na 11ª posição.
“Nos últimos anos, trabalhamos duro em nossa programação, que vem melhorando muito. Isto é desafiador, da mesma forma como em todos os demais países. Temos recursos limitados e objetivos ilimitados. Queremos ajudar nossa sociedade com o máximo de impacto educativo e de informação, mas nunca há dinheiro suficiente para isso. Não há mágica [em ganhar audiência]. Temos muitas pessoas escolhendo a melhor programação que o público quer”, contou Wolf.
O orçamento da PBS, segundo o executivo, gira em torno de US$ 400 milhões, sendo 15% originários do governo americano e o restante é proveniente de doações, incluindo telespectadores, empresas e fundações. Para contornar o valor, que não é alto, a solução é contar com 170 emissoras regionais espalhadas por todo o país, que têm orçamentos e conteúdos próprios. O número de funcionários da PBS é 400 pessoas, sendo que a maior parte das produções é terceirizada.
A programação da PBS não inclui transmissão de esportes, mas tem uma grande vertente dirigida a documentários, ciência, notícias e ao público infantil, sendo que 80% das crianças dos EUA assistem, ao longo do ano, a programação da emissora. O secretário-geral da PBI, Charles Greber, enfatizou que o maior desafio para as emissoras públicas é a busca de audiência dentro das novas opções midiáticas que concorrem entre si. “Nós vamos discutir, neste encontro, as novas tendências, e como lutar pela sobrevivência nas muitas plataformas que estão chegando.
Temos que nos ajustar e melhorar o que fazemos. Tudo mudou nos últimos dez anos. Durante muito tempo, era quase um monopólio. Hoje temos uma competição muito difícil com as novas tecnologias, como Google e Netflix [serviço de filmes online]. Para sobrevivermos, temos que focar na qualidade, e fazermos coisas que os outros não querem fazer, porque estão interessados em dinheiro. Nós queremos é audiência, que é o nosso objetivo. Se formos copiar as televisões comerciais, estaremos mortos”, disse Greber, que trabalhou durante anos na televisão pública francesa.
O diretor presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Nelson Breve, ressaltou que existem, atualmente, duas realidades no campo das televisões públicas, mas que ambas convergem para o mesmo ponto, que é a busca pela audiência. “Uma realidade é a dos países europeus, que têm na sua cultura a comunicação pública, valorizando o serviço público de radiodifusão como prestação de serviços à sociedade na formação de cidadania, e que vem perdendo audiência, porque vem diminuindo os recursos disponibilizados em seus orçamentos, em função da crise financeira internacional. Do outro lado, temos nós, na América Latina, principalmente, que criamos os nossos meios de comunicação, ainda novos, da mesma forma que os africanos, e temos o desafio de enfrentar uma estrutura que já estava oligopolizada pela comunicação comercial. Portanto, para nós é mais difícil alcançar a audiência”, disse Breve.
Para o diretor presidente da EBC, o caminho para aumentar o número de telespectadores é a busca incessante pela qualidade na programação, o que acaba percebido pelas pessoas que passam a assistir com mais frequência os canais públicos. “Nós vamos ter a ampliação de audiência na medida em que a sociedade vai percebendo a qualidade de nossos conteúdos. Neste sentido, temos mais condições de aumentar o nosso público, mesmo com os desafios das novas plataformas. O grande problema, para todos, é convencer a sociedade de que somos um serviço importante para a construção da cidadania e da democracia, e que isso demanda recursos”, frisou Breve.
Participam dos debates representantes das emissoras KBS (Korea), RTP (Portugal), ARD (Alemanha), BBC (Inglaterra), PBS (Estados Unidos), NHK (Japão), Radio e Televisión Argentina e Telemellín (Colômbia), da Asociación de Televisiones Educativas y Culturales Iberoamericanas, além de convidados brasileiros representando a Unesco, o SBT, o Ministério da Cultura, a Ouvidoria e o Conselho Curador da EBC. O encontro é restrito aos dirigentes e representantes das emissoras.
Fontes
- ((pt)) Vladimir Platonow. Dirigentes de tevês públicas mundiais discutem no Rio como garantir audiência — Agência Brasil, 26 de novembro de 2014
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