11 de julho de 2021
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Pelo menos 1.019 pessoas diagnosticadas com COVID-19 morreram nas 15 UPAs de Pernambuco enquanto aguardavam um leito hospitalar. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação indicam que esse número pode ser ainda maior, considerando pacientes com exames pendentes ou inconclusivos.
O levantamento da Ouvidoria da SES-PE cobre o período de abril de 2020 a 15 de junho deste ano. Maio de 2020 registrou o maior número de óbitos, com 403 vítimas, enquanto março de 2021 contabilizou 70 mortes, destacando-se no ano. "Há também subnotificação causada pelo registro das unidades que, muitas vezes, optam por escolher como causa da morte a parada cardíaca, por exemplo, e não a COVID-19 que provocou o quadro", afirma um profissional de saúde, servidor da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), sob sigilo para o Marco Zero.
As UPAs com mais óbitos foram a Geraldo Pinho Alves, em Paulista, com 86 mortes em 2020, e a Doutor Emanuel Alírio Brandão, em Petrolina, liderando em 2021 com 73 registros.
A médica sanitarista Bernadete Perez, vice-presidente da Abrasco, avalia o número de mortes como "altíssimo" e aponta que os investimentos nas UPAs em detrimento da Atenção Primária à Saúde (APS) desde 2010 resultou em uma distorção no sistema de saúde.
"A promessa era de atendimento e exames rápidos, tudo fake news. A UPA é, na verdade, uma instituição burocrática de distribuição de senhas gerida por OSs [Organizações Sociais] que não trabalham integradas com a rede. É um modelo centralizado no Estado e desagregador que não favorece o diálogo com os municípios nem entre as próprias cidades. O resultado são unidades com baixa resolutividade que contribuem com o aumento da vulnerabilidade dos pacientes", afirmou Perez, que também é professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Perez também ressalta o desafio aos profissionais da saúde mediante a crise. "Não temos dúvidas de que os locais que ocorreram mais contaminações de profissionais de saúde pelo coronavírus foram as UPAs. Espaços superlotados onde pessoas com COVID-19 ficavam juntas com outros doentes e os profissionais fazendo procedimentos como intubação sem a menor estrutura", explicou.
Maioria dos mortos são negros e pardos
A maioria dos mortos eram homens pretos ou pardos (318 pessoas), em seguida, estão 252 mulheres pretas ou pardas. "Outro dado que chama muita atenção nesse levantamento, embora já tenhamos essa percepção no dia a dia, é esse de que a população mais atingida por essa política equivocada são as pessoas negras e que estão na parcela mais pobre da população. Fica evidente o racismo estrutural", destaca Perez.
O que diz o secretário
Na terça-feira (6), o secretário de saúde de Pernambuco, André Longo, confirmou o aumento da mortalidade.
A gente teve efetivamente uma ocorrência maior de óbitos em Unidades de Pronto Atendimento no ano de 2020 quando a gente estava montando nossa rede de terapia intensiva. A doença traz por vezes um quadro [grave] muito rápido, [mas] Pernambuco tem uma grande rede de UPAs, isso faz com que essa atenção pré-hospitalar seja qualificada. Mesmo quando o doente fica um tempo de permanência maior do que 24 horas, ele tem toda uma segurança do ponto de vista de assistência.
- André Longo
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Fonte
- Kleber Nunes. Mais de mil pessoas morreram de covid-19 na fila de espera da UTI em Pernambuco — Marco Zero, 9 de julho de 2021
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