Agência Brasil

18 de dezembro de 2009

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A falta de tempo para costurar alianças políticas para as eleições de 2010 foi um dos motivos apontados pelo então pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, para desistir da disputa. O governador de Minas Gerais fez o anúncio na tarde de ontem 17 de dezembro após reunião com o presidente do partido, Sérgio Guerra.

Em seu discurso, Aécio disse que estava “pronto para conquistar uma inédita e necessária convergência nacional”, com “um perfil de alianças mais amplo do que aquele que se insinua no horizonte de 2010”. Mas, segundo ele, a demora do PSDB em “tomar algumas decisões”, referindo-se à escolha do candidato à Presidência para o pleito de 2010, não permitiria mais que se consolidassem as alianças que ele pretendia fazer.

Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira.

Aécio Neves

“Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições. O quadro eleitoral começava a avançar em ritmos e direção próprios e minha participação não poderia mais colaborar para ampla convergência que esperava construir”, afirmou.

Aécio disse ainda que ao colocar o nome à disposição do partido como pré-candidato defendeu a realização de prévias dentro do partido como “uma extraordinária oportunidade de aprofundar o debate interno e criar um novo sentido de mobilização que seria fundamental nas circunstâncias políticas que marcarão as eleições do próximo ano”.

“Não as realizamos, como propus, seja por dificuldades operacionais de um partido de dimensão nacional, seja pela legítima opção da direção do partido pela busca de outras formas de decisão”, apontou.

O governador agradeceu ainda o apoio que recebeu dos líderes de outras legendas e disse que não abandona a disposição para colaborar com o PSDB “nos planos nacional ou estadual”.

A decisão do governador não surpreendeu as lideranças da oposição. Isso porque ele já havia anunciado que em janeiro tomaria uma decisão sobre o assunto. No entanto, a atitude de Aécio foi lamentada pelo deputado Ciro Gomes, possível candidato do PSB ao Palácio do Planalto.

“Ele apenas antecipou o anúncio, porque teve convicção de que o governador José Serra não anunciaria sua pré-candidatura antes de março”, disse o líder do PSDB na Câmara, deputado José Anibal (SP). O parlamentar disse que os tucanos estão se organizando nos estados e se preparando para a campanha eleitoral de 2010 nas disputas estaduais e nacional. Segundo Anibal, a maioria dos tucanos gostaria de ter uma chapa 'puro-sangue' com os governadores de São Paulo e Minas Gerais.

Para o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), o anúncio de Aécio não muda a posição do seu partido em relação à aliança nacional com os tucanos. “Sempre fomos claros que faremos aliança com o PSDB”. Caiado disse que o governador mineiro antecipou sua decisão e que “agora sabemos que o PSDB tem um único candidato, que será oficializado em março de 2010”.

Caso o PSDB lance uma chapa encabeçada por Serra, com Aécio como vice, Caiado disse que não haverá nenhuma dificuldade na aliança com os partidos de oposição. “O DEM sempre foi favorável a uma chapa com duas lideranças nacionais. Se sair a chapa Serra-Aécio seria o quadro ideal para as oposições.”

O presidente do PPS, Roberto Freire, disse que a decisão de Aécio permite que Serra não oficialize a candidatura agora, deixando-o para o final de março. Segundo ele, o PPS acha que o gesto coloca o governador de Minas como melhor opção para compor a chapa com Serra.

O deputado Ciro Gomes emitiu nota na qual se mostra surpreso com a decisão. “A se confirmar a saída de Aécio da disputa presidencial, todos os que como eu torcem pelo novo, contra o passado maléfico ao Brasil, devem lamentar”, diz o parlamentar. Segundo ele, Aécio deve estar sofrendo todo tipo de constrangimento, “especialmente oriundos de clandestinidades e manipulações de setores de mídia, mas o povo mineiro deve anotar tudo isso e reanimar seu jovem governador a voltar à luta”.

Nota

Presidente Sérgio Guerra,
Companheiros do PSDB,
Há alguns meses, estimulado por inúmeros companheiros e importantes lideranças da nossa sociedade, aceitei colocar meu nome à disposição do nosso partido como pré-candidato à Presidência da República.
Como parte desse processo, defendi a realização de prévias e encontros regionais que pudessem levar o PSDB a fortalecer a sua identidade e integridade partidárias.
Assim o fiz, alimentado pela crença na necessidade e possibilidade de construirmos um novo projeto para o país e um novo projeto de País.
Defendi as prévias como importante processo de revitalização da nossa prática política. Não as realizamos, como propus, seja por dificuldades operacionais de um partido de dimensão nacional, seja pela legítima opção da direção partidária pela busca de outras formas de decisão. Ainda assim, acredito que teria sido uma extraordinária oportunidade de aprofundar o debate interno, criar um sentido novo de solidariedade, comprometimento e mobilização, que nos seriam fundamentais nas circunstâncias políticas que marcarão as eleições do ano que vem.
A realização dos encontros regionais foi uma importante conquista desse processo. O reencontro e a retomada do diálogo com a nossa militância, em diversas cidades e regiões brasileiras, representaram os nossos mais valiosos momentos. A eles se somaram outros encontros, também sinalizadores dos nossos sonhos, com trabalhadores, empresários e outros setores da nossa sociedade.
Ouvindo-os e debatendo, confirmei a percepção de um País maduro para vivenciar um novo ciclo de sua história. Pronto para conquistar uma inédita e necessária convergência nacional em torno dos enormes desafios que distanciam nossas regiões umas das outras, e em torno das grandes tarefas que temos o dever de cumprir e que perpassam governos e diferentes gerações de brasileiros.
Ao apresentar o meu nome, o fiz com a convicção, partilhada por vários companheiros, de que poderia contribuir para uma construção política diferente, com um perfil de alianças mais amplo do que aquele que se insinua no horizonte de 2010. E as declarações de líderes de diversos partidos nacionais demonstraram que esse era um caminho possível, inclusive para algumas importantes legendas fora do nosso campo.
Defendemos um projeto nacional mais amplo, generoso e democrático o suficiente para abrigar diferentes correntes do pensamento nacional. E, assim, oferecer ao país uma proposta reformadora e transformadora da realidade que, inclusive, supere e ultrapasse o antagonismo entre o “nós e eles”, que tanto atraso tem legado ao País.
Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o País ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres. Nossa tarefa não é dividir, é aproximar. E só aproximaremos os brasileiros uns dos outros, através da diminuição das diferenças que nos separam.
O que me propunha tentar oferecer de novo ao nosso projeto, no entanto, estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos, tampouco, ser reféns dele...
Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições. Quando, em 28 de outubro, sinalizei o final do ano como último prazo para algumas decisões, simplesmente constatava que, a partir deste momento, o quadro eleitoral estaria começando a avançar em um ritmo e direção próprios, e a minha participação não poderia mais colaborar para a ampla convergência que buscava construir.
Durante todo esse período, atuei no sentido de buscar o fortalecimento do PSDB.
Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da Social Democracia Brasileira.
Busco contribuir, dessa forma, para que o PSDB e nossos aliados possam, da maneira que compreenderem mais apropriada, com serenidade e sem tensões, construir o caminho que nos levará à vitória em 2010. No curso dessa jornada, mantive intactos e jamais me descuidei dos grandes compromissos que assumi com Minas, razão e causa a que tenho dedicado toda minha vida pública.
Ao deixar a condição de pré-candidato à Presidência da República, permito-me novas reflexões, ao lado dos mineiros, sobre o futuro. Independente de nova missão política que porventura possa vir a receber, continuarei trabalhando para ser merecedor da confiança e das melhores esperanças dos que partilharam conosco, neste período, uma nova visão sobre o Brasil.
É meu compromisso levar adiante a defesa intransigente das reformas e inovações que juntos realizamos em Minas e que entendemos como um caminho possível também para o País. Continuarei defendendo as reformas constitucionais e da gestão pública, aguardadas há décadas; a refundação do pacto federativo, com justa distribuição de direitos e deveres; e a transformação das políticas públicas essenciais, como saúde, educação e segurança, em políticas de Estado, acima, portanto, do interesse dos governos e dos partidos.
Devo aqui muitos agradecimentos públicos.
À direção do meu partido e, em especial, ao senador Sérgio Guerra pelo equilíbrio e firmeza com que vem conduzindo esse processo.
Aos companheiros do PSDB, pelas inúmeras demonstrações de apoio e confiança.
Manifesto a minha renovada disposição de estar ao lado de todos e de cada um que julgar que a minha presença política possa contribuir, seja no plano nacional ou nos planos estaduais, para a defesa das nossas bandeiras.
Aos líderes de outras legendas partidárias, pela coragem com que emprestaram substantivo apoio não só ao meu nome, mas às novas propostas e crenças que defendemos nesse período.
Nos reencontraremos no futuro.
A tantos brasileiros, pelo respeito com que receberam nossas idéias.
E a Minas, sempre a Minas e aos mineiros, pela incomparável solidariedade.
Aécio Neves

Nota do Aécio Neves

Fontes