Agência VOA

O seu irmão mais velho, José Van Dunem, e a cunhada, Zita Valles, foram mortos no fraccionismo em Angola.

24 de novembro de 2015

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Francisca Van Dunem é um nome de topo entre os magistrados portugueses. Procuradora-geral-adjunta, que dirige actualmente a procuradoria-geral distrital de Lisboa, é conhecida pelo seu espírito reservado. Será a primeira magistrada a assumir funções ministeriais depois de Laborinho Lúcio, nos anos oitenta.

Francisca, com 60 anos completados a 5 de Novembro, nasceu em Luanda, pertencendo às famílias mais conceituadas de Angola, presentes em qualquer Governo deste país: Vieira Dias, pelo lado da mãe, Van Dunem pelo do pai.

Numa entrevista ao jornal Expresso, explicou a origem do nome de uma das famílias mais respeitadas e com fortes ligações ao partido no poder, MPLA: "É um nome tradicionalmente angolano, com quatro séculos. Vem de um holandês que trabalhou para a coroa portuguesa e se estabeleceu em Angola. Relacionou-se com uma angolana com quem teve uma larga prole. Os respetivos descendentes decidiram seguir o exemplo e há imensos Van Dunem”

Todavia, nem sempre a sua relação com Angola foi fácil. O seu irmão mais velho, José Van Dunem, e a cunhada, Zita Valles, membros activos do golpe de estado de 27 de Maio de 1977, foram mortos na repressão que lhe sucedeu. Fraccionismo foi o nome dado ao movimento, liderado pelo membro do Bureau Político do MPLA, Nito Alves, em oposição a Agostinho Neto.

O golpe apanha Francisca em Lisboa, a estudar, mas foi ela que criou o sobrinho Che. Só muitos anos depois voltaria a Angola.

Francisca só foi para Lisboa aos 18 anos, para tirar o curso de Direito. Logo depois, em 1979, entra na carreira da magistratura, onde foi progredindo, tendo sido nomeada procuradora-geral-adjunta em 2007. Estaria prestes a ser promovida a conselheira.

Acreditando que a Justiça deve ser transparente e prestar contas, foi pioneira ao criar um site onde se reporta diariamente a actividade do Ministério Público.

No ano passado, concorreu aos lugares existentes no Supremo Tribunal de Justiça para procuradores e ficou em terceiro lugar, podendo ainda vir a ocupar um lugar de juíza conselheira se entretanto abrirem vagas.

Um dos poucos perfis sobre Francisca Van Dunem, feito pela revista Visão em 2007, dá conta de que a magistrada coordenou megaprocessos relacionados com o tráfico de armas na PSP e a corrupção na Marinha. Gosta de cozinhar, de arte — cinema incluído — e de música clássica, mas nem todos lhe apreciam a distância que mantém para com os subordinados. Foi representante de Portugal no Comité Europeu para os Problemas Criminais no Conselho da Europa.

É casada com o advogado e professor catedrático Eduardo Paz Ferreira e tem dois filhos.

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