19 de maio de 2021

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Por VOA News

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, esteve ontem em Ceuta para ajudar, pessoalmente, a resolver a crise causada com a entrada ilegal de cerca de 6.000 migrantes, vindos do Marrocos, na ilha espanhola.

“Esta chegada repentina de migrantes ilegais é uma crise séria para a Espanha e a Europa”, disse Sanchez num discurso transmitido pela televisão antes de viajar para Ceuta e Melilla, que também faz fronteira com o país africano.

Tropas militares e policias extras foram enviadas para Ceuta para tentar conter a chegada de novos migrantes, que tentam atravessar as cercas marroquinas fronteiriças para entrar em Ceuta.

Reação da União Europeia

Os líderes da União Europeia apoiaram a Espanha, dizendo que a incursão em massa na ilha foi uma violação das fronteiras do bloco.

A vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, apelou a uma "forte proteção das nossas fronteiras".

Jogo político

Especialistas sugeriram que esse grande influxo, que incluiu famílias inteiras, foi uma tentativa do Marrocos de pressionar a Espanha a alterar sua política em relação ao Saara Ocidental, o território disputado que Rabat reivindica.

Marrocos e Espanha estão envolvidos em uma disputa diplomática pela presença na Espanha de um líder da Frente Polisário, cujo movimento tem lutado pela independência do Saara Ocidental. O líder da Frente, Brahim Ghali, está recebendo tratamento em um hospital de Logroño, no norte da Espanha, após ser diagnosticado com covid-19.

A Frente Polisário travou uma longa guerra contra o Marrocos para conquistar a independência do disputado território do Saara Ocidental, que foi uma colônia espanhola até 1975. Já Rabat reivindica o território como parte do Marrocos em parte porque contém importantes depósitos de fosfatos

Ignacio Cembrero, um jornalista espanhol que escreve frequentemente sobre o Marrocos, disse que Rabat relaxou as medidas de segurança na fronteira com Ceuta para tentar forçar Madrid a mudar sua posição sobre o Saara Ocidental. “O ministro das Relações Exteriores marroquino, Naser Burita, disse em janeiro que Rabat queria que a Espanha mudasse sua política e apoiasse as reivindicações marroquinas sobre o Saara Ocidental. É assim que pressiona Madrid ”, disse à VOA.

O chanceler marroquino, Naser Burita, perguntou na semana passada se a Espanha queria “sacrificar as relações com o Marrocos” ao não informar Rabat sobre a presença de Ghali na Espanha.

“O que aconteceu em Ceuta é mais um exemplo de como Marrocos joga com a migração como forma de perseguir os seus próprios interesses. A UE não deve ceder perante esta pressão ”, disse à VOA Estrella Galan, diretora da Comissão Espanhola de Ajuda aos Refugiados, sem fins lucrativos.

A ministro das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya, rejeitou as alegações de que a chegada de milhares de marroquinos a Ceuta esteja ligada à disputa por Ghali. “Não posso falar pelo Marrocos, mas o que nos disseram há algumas horas, esta tarde, é que isso não se deve ao desentendimento sobre Ghali. A Espanha foi muito clara e detalhada sobre o caso (Ghali). É simplesmente uma questão humanitária” , disse.

A Frente quer um referendo, mas a resolução deve vir mesmo de um acordo intermediado pelas Nações Unidas.

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