30 de novembro de 2020

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Logotipo da PEPFAR
Logotipo da PEPFAR, iniciativa dos Estados Unidos para combate da AIDS

Segundo dados de 2018 da UNAIDS, o escritório para combate a SIDA/AIDS das Nações Unidas, em Angola houve um aumento de 33% nas mortes desde 2010, de 10.000 mortes para 14.000 mortes.

O número de novas infecções pelo HIV também aumentou, de 26 mil para 28 mil no mesmo período.

As mulheres são desproporcionalmente afetadas em Angola: dos 300 mil adultos que vivem com HIV, 200 mil (66,67%) eram mulheres. As novas infecções entre mulheres jovens de 15 a 24 anos foram mais do que o triplo daquelas entre homens jovens: 6.800 novas infecções entre mulheres jovens, em comparação com 1.900 entre homens jovens.

O tratamento do HIV foi maior entre os homens do que entre as mulheres, com 30% dos homens adultos em tratamento, em comparação com 27% das mulheres adultas.

O PEPFAR (iniciativa dos Estados Unidos contra a AIDS) tem investido em Angola desde 2007. A representante estadunidense do programa, dra. Evonne Amaka, falou com a agência Voz da América sobre esse programa.

Entrevista

Entrevistador: Como descreveria o impacto do PEPFAR em Angola?

Evonne Amaka: Acho que a cada ano, nos últimos 13 anos, fomos capazes de aumentar nosso apoio ao financiamento e aumentar nosso impacto. Nomeadamente nos últimos dois anos, especificamente, saímos da província de Luanda, onde temos raízes profundas no trabalho com muitas unidades de saúde, bem como com muitas comunidades e parceiros e percebemos a necessidade no interior do país. Atualmente o PEPFAR trabalha em quatro províncias. E o impacto tem sido fantástico, à medida que nos envolvemos mais profundamente nas províncias e continuamos a ajudar a fortalecer a capacidade das unidades de saúde. Continuamos a engajar a comunidade para assegurar que o seu conhecimento sobre HIV aumente.
Mapa: casos de AIDS por país

   Menor que 0,1%

   0,1–0,5%

   0,5–1%

   1–5%

   5–15%

   15–50%

   Sem dados

Entrevistador: Pelo que descreveu, é possível que Angola receba fundos extra para enfrentar este desafio?

Evonne Amaka: O PEPFAR continua a monitorar o impacto anualmente em todos os países que apoiamos, incluindo Angola. Por exemplo, em 2018, o financiamento diminuiu ligeiramente e, ao sair de Luanda, tivemos a sorte de sermos capazes de defender financiamento adicional e, portanto, o nosso financiamento aumentou em cinco milhões, de 10 milhões para 15,7 milhões de dólares.

Entrevistador: Dados de 2018 mostram que 330 mil pessoas em Angola vivem com SIDA. De acordo com as Nações Unidas, desse número, 42% sabiam do seu estado e 27% estavam em tratamento. O que vê como principais obstáculos para aumentar a porcentagem de pessoas conscientes do seu estado e sob tratamento? E também, qual é o maior obstáculo na prevenção de novas infeções?

Evonne Amaka: Sim, tocaste num ponto muito importante e, na verdade, num ponto crítico do PEPFAR e da parceria com governos nos países onde trabalhamos. O PEPFAR continua a impulsionar e fortalecer a estratégia 90-90-90 da Organização Mundial da Saúde. Esta estratégia visa garantir que 90% de todas as pessoas que vivem com HIV conheçam o seu estado, que 90% de todas as pessoas diagnosticadas recebam o tratamento e que 90% de todas as pessoas em tratamento obtenham o que chamamos de supressão viral, a menor quantidade de vírus HIV no corpo, de modo que eles se tornem não detectáveis, tão baixos que parece que o vírus é mínimo no seu sangue e corpo.

Os números de 2018 estão bem abaixo dos 90%, e as ações que tomamos é para garantir que aumentamos o conhecimento e a consciência do povo de Angola sobre o seu estado serológico. As nossas ações e atividades fazem parte do que chamamos de assistência técnica e capacidade de suporte, garantindo que aqueles que administram o tratamento, administram os testes, tenham a melhor formação, que entendam o vírus e como ele funciona, que eles sejam capazes de se comunicar com aqueles que precisam ser testados, para receberem o tratamento na comunidade e nas instalações da melhor forma possível.

Entrevistador: Qual é o progresso nesse foco particular, da transmissão vertical nessas comunidades?

Evonne Amaka: O PEPFAR tem o que chamamos de abordagem focada na família. Mais de 50% das mulheres em Angola dão à luz em casa. Portanto, encontrar mulheres grávidas e apoiá-las na comunidade, testá-las e vinculá-las aos cuidados é o nosso maior objetivo. Este ano, com o financiamento que mencionei em 15,7 milhões de dólares, pretendemos alcançar muitas unidades de cuidados pré-natais. Isso significa preencher a lacuna, fortalecer os vínculos entre essas unidades de saúde e a comunidade e testar e tratar para melhorar a capacidade técnica.
Cazuza
O cantor brasileiro Cazuza morreu em decorrência da AIDS

Entrevistador: Tem alguma história de sucesso?

Evonne Amaka: Com o programa Mães para Mães, que começou na África do Sul e agora alcançou muitos países, acredito que até nove, incluindo Angola, descobrimos que a mentoria de mulheres soropositivas para outras mulheres tem sido extremamente bem-sucedida. E então essas mulheres vão para as comunidades, elas não ficam sentadas atrás da mesa, simplesmente esperando que outras mulheres positivas se aproximem delas. Em vez disso, elas saem e tentam encontrar e identificam-se com essas mulheres. Elas identificam-se com os seus desafios, com seus medos, o estigma e a discriminação que podem sentir. Elas também encontram assim um grupo de apoio, um grupo de mulheres com ideias semelhantes que lidam com questões semelhantes, mas ao mesmo tempo continuam a viver bem e a controlar a sua doença.

Entrevistador: Tem histórias de crianças que nasceram livres do HIV-SIDA?

Evonne Amaka: Sim. Acho que é uma prova do trabalho árduo das mulheres e do seu desejo de ter um filho negativo. Portanto, a maioria das crianças que nasceram dentro do nosso programa e dentro do país, em parceria com o programa nacional, nasceram HIV negativos.

Entrevistador: O seu trabalho envolve muito trabalho de campo. Qual é o impacto que a COVID-19 está a causar?

Evonne Amaka: Do ponto de vista médico, bem como pessoalmente, para muitas famílias nos últimos seis a nove meses, acho que o que vimos ao abordar as necessidades das pessoas seropositivas em Angola é uma resiliência. Tem homens, mulheres e crianças ligando para se informar, isso é uma consciência ampliada e mostra a importância que eles dão à sua saúde, ao que pode acontecer. E então tivemos que ser muito inovadores e criativos com os nossos parceiros para ter certeza de que as pessoas que precisavam de medicamentos os recebiam.

Tem sido um desafio financeiro. É um fardo financeiro para o sistema de saúde. Apesar disso, os programas e serviços de HIV continuaram. Fizemos parcerias com outras organizações de outros países fronteiriços para que possamos continuar a atender às necessidades dos clientes e pacientes.

Fontes