Agência Brasil

Washington, D. C., Estados Unidos • 9 de abril de 2012

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A Presidenta da República, Dilma Rousseff se reúne hoje (9), a partir das 11h45 (12h45 de Brasília), com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, em Washington, capital norte-americana. Em discussão, pelo menos dez acordos de cooperação bilateral, nas áreas de ciência, tecnologia e energia, além de temas como a crise econômica internacional, a Conferência Rio+20 e questões de direitos humanos.

Obama e Dilma farão uma declaração à imprensa ao fim do encontro. Obama oferecerá um almoço para Dilma e, em seguida, ela se reunirá com os empresários do grupo Estados Unidos-Brasil, no Eisenhower Executive Office Building. No fim da tarde, a presidenta participa do seminário Brasil-Estados Unidos: Parceria para o Século 21, na Câmara de Comércio. Amanhã (10), ela segue para Boston, onde fará duas palestras.

Há 24 mecanismos bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, alguns deles considerados prioritários, como o Diálogo de Parceria Global, o Diálogo Econômico e Financeiro e o Diálogo Estratégico sobre Energia. Um dos temas em discussão entre Dilma e Obama é a questão da concessão de vistos. Os Estados Unidos passaram a facilitar a concessão a partir deste ano e a expectativa é acabar com a obrigatoriedade do documento.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar Nunes, reiterou que a decisão é definida pelo governo norte-americano, pois a questão migratória faz parte dos temas de política interna dos países.

No ano passado, o Brasil foi o sexto país que mais enviou visitantes para os Estados Unidos (atrás do Canadá, México, Japão, Reino Unido e da Alemanha). Depois da Argentina, os Estados Unidos são os que mais enviam turistas ao Brasil.

A expectativa é que durante a visita de Dilma sejam definidas parcerias para o programa Ciência sem Fronteiras. Atualmente, dos cerca de 800 bolsistas do Ciência sem Fronteiras nos Estados Unidos, 31 estudam em oito universidades de destaque.

Paralelamente, temas da política internacional devem ser mencionados na reunião entre os dois presidentes. Assim como o Brasil, os Estados Unidos apoiam a missão do enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe, Kofi Annan, à Síria. Porém, o governo brasileiro insiste na defesa da busca pelo diálogo e da negociação pacífica na região.

Dilma vai reiterar o convite para que Obama participe da Conferência Rio+20, em junho. Porém, na ocasião Obama estará a cinco meses das eleições presidenciais, nas quais tentará a reeleição, enfrentando duras críticas dos adversários e o desafio da crise econômica internacional.

A crise econômica também é tema que deve predominar na Cúpula das Américas, em Cartagena das Índias, na Colômbia, nos próximos dias 14 e 15. A cúpula virou assunto polêmico, pois alguns presidentes sul-americanos, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), ameaçaram boicotar a reunião devido à ausência de Cuba, por pressão norte-americana. A posição do Brasil é que esta deve ser a última cúpula sem Cuba.

Cachaça

As relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos vão parar muitas vezes na Organização Mundial do Comércio (OMC) por divergências na imposição de barreiras tributárias e elevados impostos. Mas, na reunião hoje (9) entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama as tensões ficarão de lado devido ao reconhecimento da cachaça como produto tipicamente brasileiro, facilitando sua exportação para os Estados Unidos.

Obtida pela destilação do caldo de cana-de-açúcar fermentado, a cachaça é tradicionalmente usada na elaboração da caipirinha, que virou marca do Brasil no exterior. No país, são produzidos por ano cerca de 1,5 bilhão de litros de cachaça (a maioria em destilarias e uma parte de fabricação artesanal, em pequenos alambiques). São mais de 30 mil produtores e 5 mil marcas.

Paralelamente, Obama e Rousseff negociarão acordos sobre aviação e comunicações. Também foi solucionada a pendência sobre o suco de laranja, pois os norte-americanos vetaram a entrada do produto brasileiro no país. No entanto, após a interferência da OMC, os Estados Unidos aceitaram rever suas leis.

Estarão ainda em discussão acordos sobre a carne suína e a lei agrícola. O mercado dos Estados Unidos se abriu para a carne suína de Santa Catarina, e os negociadores tentam ampliar a parceria para que a certificação beneficie outras áreas. As discussões sobre a nova lei agrícola norte-americana são acompanhadas pelos negociadores brasileiros, pois isso pode causar impacto nas exportações nacionais.

No ano passado, os Estados Unidos foram o segundo principal parceiro comercial brasileiro, depois da China. De 2007 a 2011, o intercâmbio comercial brasileiro com o país cresceu 37%, passando de US$ 44 bilhões para US$ 60 bilhões.

De janeiro a fevereiro de 2012, o intercâmbio comercial dos Estados Unidos com o Brasil aumentou em 20% em relação ao mesmo período de 2011, passando de US$ 7,9 bilhões para US$ 9,5 bilhões. As exportações brasileiras cresceram em 38% e as importações, 6% no mesmo período.

Consulados

Na visita a Washington, nos Estados Unidos, a presidenta deve ser informada hoje pelo presidente Obama, que serão abertos mais dois consulados do país no Brasil. As unidades deverão estar em funcionamento a partir de 2014 em Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

A decisão de abrir novos consulados cabe a cada governo, segundo diplomatas. Definida a medida, o governo informa a decisão ao país no qual serão abertas as unidades. No Brasil, a Embaixada dos Estados Unidos fica em Brasília e há consulados na capital federal, no Rio de Janeiro, em Recife (Pernambuco) e em São Paulo.

A presidenta se reúne com o presidente e o assunto deve ser tema da conversa, assim como a negociação para o fim da exigência de vistos obrigatórios para brasileiros que desejam ingressar nos Estados Unidos.

No começo deste mês, a Embaixada dos Estados Unidos informou que o número de vistos concedidos a brasileiros apenas em março deste ano aumentou 62% em comparação ao mesmo período de 2011. No total, foram concedidos vistos a 115.269 brasileiros.

O consulado do Rio de Janeiro registrou o maior aumento no número de vistos concedidos em março, em comparação ao mesmo mês do ano anterior, com aumento de 103%, seguido por Brasília (69%), São Paulo (52%) e Recife (14%).

Em janeiro deste ano, Obama assinou ordem executiva para agilizar em 40% a capacidade de tramitar vistos em seus consulados no Brasil e na China, em 2012, entre outras medidas para potencializar o turismo.

Pelos dados do governo dos Estados Unidos, nos últimos cinco anos, os pedidos de vistos de não imigrantes aumentaram 230%. Apenas em 2010, o Consulado Geral em São Paulo emitiu cerca de 320 mil vistos (mais que qualquer seção consular dos Estados Unidos no mundo).

Encontro

Ao se encontrar hoje com o presidente Obama, a presidenta Dilma Rousseff criticou a política de expansão monetária adotada pelos países desenvolvidos com o objetivo de sair da crise que abalou a economia internacional. Dilma disse que essas políticas provocam desvalorização das moedas, entre essas o dólar, e acabam dificultando o desenvolvimento econômico dos países emergentes. A dirigente já usou o termo "tsunami monetário" como metáfora para a situação que o Brasil enfrenta no ano passado que provocou repecussão internacional e voltou a usar esse termo hoje.

Manifestamos ao presidente Obama a preocupação do Brasil com a expansão monetária, sem que os países com superávits equilibrem essa expansão monetária com políticas fiscais baseadas na expansão dos investimentos. Essas políticas monetárias solitárias, no que se refere a políticas fiscais, levam à desvalorização das moedas dos países desenvolvidos, levando ao comprometimento dos países emergentes.

Dilma Rousseff junto com Barack Obama

A presidenta ainda ressaltou que, em médio prazo, o crescimento da economia norte-americana terá mais efeitos positivos para economia mundial que o peso das economias dos países que fazem parte do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Os países do Brics respondem hoje por uma parte muito expressiva do crescimento econômico, mas é importante perceber que a retomada do crescimento, num horizonte de médio prazo, passa também pela retomada expressiva da economia norte-americana. Consideramos que o papel dos Estados Unidos, nessa conjuntura e nesse mundo multilateral que vem surgindo, é muito importante. A grande flexibilidade da economia norte-americana, a liderança na área de ciência e tecnologia e inovação, e, ao mesmo tempo, as forças democráticas que fundam a nação americana tornam (o país) importante na contenção da crise e na retomada da prosperidade.

Dilma Roussef

A presidenta brasileira também destacou que o estreitamento das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, principalmente na área de geração de energia, além das parcerias na área de desenvolvimento tecnológico, são pontos estratégicos para o Brasil. Essa parceria, na opinião da presidenta, deverá alcançar a exploração de gás e petróleo:

O Brasil, com os Estados Unidos, tem áreas estratégicas nas quais cooperar, ou melhor, aprofundar nossa relação, por exemplo, na área de energia. Temos um grande campo de cooperação quando se considera o petróleo e o gás. Tanto no que se refere ao fornecimento de equipamentos e serviços, tanto no que se refere à participação nas relações comerciais.

Dilma Rousseff

Dilma também aproveitou para agradecer a redução de tarifas ao etanol brasileiro. “Nós também somos parceiros na área de biocombustíveis. Queria saudar a redução às barreiras de etanol ocorrida recentemente. Queria ressaltar também um grande espaço de cooperação na área de eficiência energética, que é tão cara ao presidente Obama”, elogiou a presidenta.

A dirigente também agradeceu a parceria dos Estados Unidos no programa Ciência sem Fronteiras, que leva ao exterior estudantes brasileiros. “É importante a participação dos Estados Unidos no programa Ciência sem Fronteiras, no qual temos estudantes brasileiros vindo aqui para os Estados Unidos desenvolver parcerias em universidades americanas. Queria aqui agradecer de público o apoio que tivemos”, disse a presidenta.

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