20 de maio de 2021
Por RBA
O governo de João Doria (PSDB) admite que o número de mortes diárias pela covid-19 em São Paulo pode aumentar até 20% com o aumento das flexibilizações proposto pela nova fase da quarentena anunciada ontem (19), que é praticamente igual à fase verde já existente no Plano São Paulo, embora esteja entre as fases vermelha e laranja. A proposta do governo paulista é que a nova fase comece a valer em 1º de junho, liberando a ocupação de até 60% dos espaços de todos os estabelecimentos comerciais, de serviços, espaços culturais e restaurantes, com funcionamento até as 22h. As estimativas também apontam aumentos de casos e internações nas próximas quatro semanas.
Em coletiva à imprensa na terça (19), ao se questionado sobre os possíveis impactos da nova fase na pandemia, o coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus, João Gabbardo, confirmou que deve haver um aumento nos números de casos, internações em unidades de terapia intensiva (UTI) e mortes nas próximas quatro semanas. Período que englobaria a última semana da atual fase de transição e três semanas de nova fase verde.
“Totalmente inaceitável”
“No momento mais dramático, nós tivemos 13 mil pessoas internadas em UTI. Até as próximas quatro semanas, nós vamos chegar, no máximo, a 11 mil pessoas em UTI. E quando nós tínhamos 13 mil, nós tínhamos leitos para atender essa população. Nós chegamos, no máximo, a 92% de ocupação. Em relação ao número de óbitos, hoje a nossa média móvel de sete dias está em torno de 500 óbitos. Temos expectativa de que ainda possa aumentar. É possível que nós cheguemos a 600 óbitos, como média móvel”, afirmou Gabbardo.
Para o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Artur Chioro, a proposta do governo Doria é “totalmente inaceitável”. “Nós estamos nos aproximando do inverno. Com a queda de temperatura e as pessoas se encontrando, a tendência é aumentar a exposição. Toda doença com as características da covid-19 não são transmitidas apenas no inverno, mas é claro que o confinamento, as pessoas ficaram em lugares mais fechados, vai ampliar as contaminações, se não houver isolamento. Nós não temos condição ainda, nós não temos cobertura vacinal suficiente para a proteção coletiva”, explicou.
Dória igual a Bolsonaro
A infectologista Juliana Salles avalia que o Plano São Paulo sempre foi pouco coerente, com muitas mudanças que descaracterizaram a proposta inicial. “Eles serviram ao setor privado. E não supriram aos trabalhadores condições de fazer isolamento quando precisasse: renda, garantia de moradia, água, luz, transporte com distanciamento. Doria e Bolsonaro são lados de uma mesma moeda. Tentou aparecer como guiado pela ciência em contrapartida ao Bolsonaro, mas nunca o foi”, afirmou.
Hoje, São Paulo tem pouco mais de 10 mil pessoas internadas em UTI. E uma média de 499 mortes por covid-19 por dia, mais alta do que a registrada em todo o ano passado, por exemplo. Os números apresentados por Gabbardo representam aumentos de 10% no número de pessoas internadas e de 20% nos óbitos diários.
E, embora garanta que haverá leitos de UTI para atender os casos graves de covid-19, o governo Doria ignora que metade das pessoas que necessitam desse atendimento morrem, segundo dados do Projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib). Entre pacientes com covid-19 que necessitam de intubação, a situação é ainda pior: 75% morrem. A garantia de haver leito de UTI não é uma garantia de sobrevivência.
Perspectivas
Além disso, o número de pacientes internados vem aumentando. No dia 12 de maio, havia 21.419 pacientes internados no estado, sendo 9.939 em unidades de terapia intensiva e 11.480 em enfermaria. Ontem, já eram 22.112 pacientes internados no estado, sendo 10.129 em unidades de terapia intensiva e 11.983 em enfermaria. Um aumento de 3,24% em sete dias. Apenas ontem, foram registradas 2.692 novas internações, o pior número desde 10 de abril.
O número de pessoas internadas diariamente vem aumentando continuamente desde o dia 5 de maio, pouco mais de duas semanas após o início da fase de transição. A taxa de pacientes internados por 100 mil habitantes cresceu em 15 das 17 regiões. E a taxa de ocupação de UTI está em fase vermelha em 12 regiões, sendo nove acima de 90% e três acima de 80%.
Após seis semanas de fase de transição, os números da pandemia estão estagnados, já apresentando pequenos aumentos, que podem piorar com a nova fase verde. O número de novos casos cresceu 11% na última semana, com média diária de quase 13 mil. É o pior número em 20 dias. Dez das 17 regiões do estado tiveram aumento do número de casos por 100 mil habitantes, e 14 estão com mais de 400 casos por 100 mil, número 300% maior do que os parâmetros mundiais para considerar que a pandemia está fora de controle.
Fim do Plano São Paulo
Na prática, desde a criação da fase de transição, o governo Doria está acabando com o Plano São Paulo. Essa fase possibilitou o funcionamento de todo o comércio quando a situação, na verdade, ainda era compatível com a fase vermelha do Plano São Paulo, em que só os serviços essenciais podem funcionar. Desde o dia 18 de abril, a fase de transição teve três atualizações. Hoje, ela é mais branda que a antiga fase amarela. Com a criação da nova fase verde, o que ocorre é que mesmo com índices de fase vermelha, não haverá praticamente nenhuma restrição de circulação ou abertura de comércio.
O governo Doria aposta no avança da vacinação contra a covid-19 para que os números de casos, internações e mortes comecem a cair. “Os modelos matemáticos indicam que com a progressão da vacinação e com a redução das internações e dos casos graves, a gente vai ter redução, com certeza, do número de casos graves, aqueles que resultam em internações e resultam em óbito. Ainda que a gente tenha que conviver por mais algum tempo com um número de casos identificados por aumento da testagem, por uma falsa sensação de segurança que as pessoas adquirem com a vacinação”, disse Gabbardo.
O argumento mostra que a nova fase verde em São Paulo, é resultado da pressão de empresários que dizem não aceitar mais restrições por conta da pandemia de covid-19. O governo Doria preferiu aceitar que mais pessoas possam adoecer e morrer nos próximos 30 dias, do que dizer aos grupos econômicos que suportem mais algum tempo as restrições, até a vacinação fazer efeito. Além disso, apenas 12% da população do estado já recebeu duas doses da vacina. A estimativa é que seja necessário vacinar 70% da população para uma proteção efetiva.
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Fonte
- Governo Doria admite que nova fase verde deve aumentar mortes por covid-19 em até 20%, RBA - Rede Brasil Atual, 20 de maio de 2021.
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