1 de junho de 2021

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Por RBA

Depois de três horas de depoimento em que Nise Yamaguchi tergiversou, fugiu e deixou de responder perguntas na CPI da Covid, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, acuou a depoente e a acusou de não saber “nada” da área de infectologia. O parlamentar quis saber, por exemplo, se, para utilizar a hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, a “especialista” realizou exames pré-clínicos e clínicos. “Quero conhecer todos os nomes e as quatro fases de exames dos (mais de) 370 pacientes”, desafiou Alencar. A doutora atalhou dizendo que o medicamento é usado há mais de 80 anos. “Para outras doenças, minha senhora, não para covid. É usada para malária, lúpus, artrite reumatoide”, interrompeu o senador.

“Usar sem fazer exames pré-clínicos e clínicos não é correto. A senhora está errada, apostou numa droga que poderia dar certo ou não. A ciência não admite isso, apostar no escuro”, acrescentou. Ele questionou a responsabilidade da ex-pretendente ao cargo de ministra da Saúde de Jair Bolsonaro por defender uma droga “que não tem efeito absolutamente nenhum” em pacientes leves e moderados que desenvolvem a doença provocada pelo coronavírus.

“A senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou, doutora. A senhora foi aleatória, simplória, superficial”, disparou o senador. Mais cedo, o relator Renan Calheiros mostrou um vídeo em que Nise aparecia dizendo ser contra a vacinação “aleatória” da população. “A senhora não podia de jeito nenhum estar debatendo um assunto que não é do seu domínio. Isso não é honesto, doutora”, continuou Alencar. Nesse momento, o senador havia perguntado à médica oncologista a que grupo pertence o coronavirus. Ela hesitou. Também não soube responder sobre quando foi identificado o primeiro coronavírus. “A senhora sabe a data?”, quis saber Alencar. A depoente riu. “Eu sei que o senhor gosta de datas”, disfarçou, enquanto procurava a informação em papéis. O primeiro coronavírus foi identificado pela primeira vez em 1964, pela pesquisadora June Almeida, no hospital St. Thomas, em Londres.

Protozoário e vírus

Para questionar a utilização da cloroquina contra a covid-19, Alencar também perguntou a Nise Yamaguchi se ela sabia a diferença entre um protozoário e um vírus do ponto de vista científico. A depoente convidada, como fizera até então, tentou tangenciar o assunto, ou “tergiversar”, como acusou o senador várias vezes. “Doutora Nise, estou perguntando à senhora”, insistiu Alencar. Membros governistas do colegiado tentaram interromper. O presidente da CPI interveio. “Ele só está perguntando qual a diferença entre protozoário e vírus”, disse Omar Aziz (PSD-AM). “Os protozoários são organismos celulares e os vírus são organismos que têm um conteúdo de DNA e RNA. No caso do (sic) Covid…”, continuou Nise.

Alencar interrompeu. “Não senhora, não senhora, não é bem assim… A senhora não é infectologista, se transformou de uma hora pra outra como muitos no Brasil. Protozoários são organismos mono ou unicelulares, e os vírus são organismos que têm uma proteção proteica, capsídeo, e internamente o ácido nucleico. A senhora não soube explicar o que é vírus. Não são nem considerados seres vivos. Portanto, uma medicação para protozoário (hidroxicloroquina) nunca cabe para vírus”, explicou o médico e senador.

Imunidade de rebanho

Ele contestou também a defesa clara que Nise Yamaguchi fez da imunidade de rebanho. Alencar quis saber como seria possível fazer uma quantidade de exames em número suficiente para se verificar a consolidação dessa imunidade coletiva. Aproveitou para perguntar à doutora qual seria o exame necessário para se aplicar às pessoas com esse objetivo. Mais uma vez, ela não conseguiu responder satisfatoriamente.

“A senhora não sabe, doutora. Exame para identificar anticorpos neutralizantes”, explicou Alencar, sobre os organismos que atacam diretamente o vírus Sars-CoV-2, que causa a covid. “A senhora não sabe responder absolutamente nada. Tergiversou sobre tudo” disparou, mais uma vez, o senador da Bahia.

Mentiras

O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), médico infectologista e ex-ministro da Saúde, demonstrou preocupação com a conduta de apoiadores do governo na CPI. Isso porque, segundo o parlamentar, utilizar o espaço de investigação para disseminar desinformação. “O dia de hoje deixou ainda mais claro que a CPI ou qualquer outro espaço não pode ser palco para negacionistas. O resultado do negacionismo televisionado é mais mortes”, disse Padilha. Ele classificou a depoimento de Nise Yamagushi como alinhado com o discurso de presidente Jair Bolsonaro, que negligenciou o programa nacional de vacinação.

O ex-ministro observou ainda contradições no depoimento de Nise. Por exemplo, ao dizer que não propôs mudança na bula da cloroquina por decreto, o que já foi confirmado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. “Nise Yamaguchi foi à CPI com o objetivo de mentir e espalhar desinformação ao povo brasileiro. Mentiu ao falar que não encontrou Bolsonaro e que não falava com o presidente. E espalha falsidades sobre o tratamento precoce”, disse Padilha.

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