27 de junho de 2021

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Por Abraji

No dia 25 passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a reagir ao ser questionado por mulheres jornalistas. Irritado, levantou a voz e hostilizou Adriana de Luca, da CNN Brasil, e Victoria Abel, da rádio CBN, que cobriam um evento em Sorocaba, interior de São Paulo. Foi a segunda vez na mesma semana.

Bolsonaro reagiu ao ser indagado sobre o atraso de vacinas contra a covid-19 e o escândalo dos contratos do imunizante indiano Covaxin. O presidente mandou Victoria Abel voltar para a faculdade, e que ela “deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. Em outro momento, disse: "Você está empregada aonde? (sic)”.

Aos gritos, dirigiu insultos à Adriana de Luca: “Responda! Responda! Responda, comprada quando?”. Quando a repórter da CNN tentou finalizar a pergunta e contextualizá-la, o presidente se sentiu ainda mais desafiado e retrucou: “Em fevereiro? Onde é que tem vacina para atender todo o mercado aqui e em todo o lugar do mundo? Responda! Responda! Pare de fazer perguntas idiotas, pelo amor de Deus [...]".

Em nota, a CNN Brasil disse que o presidente Jair Bolsonaro foi, mais uma vez, desnecessariamente ríspido com a imprensa, que apenas estava fazendo o seu trabalho.

A CBN afirmou que repudia o tratamento de Jair Bolsonaro à Victória Abel. "Não foi à repórter que faltou educação nesse episódio. A CBN se solidariza com Victória Abel, que, assim como todos os nossos jornalistas, continuará a fazer seu trabalho para informar os brasileiros."

Na segunda-feira passada, 21 de junho, o presidente mandou uma repórter e integrantes da sua própria equipe calarem a boca, tirou a máscara, reclamou de uma cobertura da CNN Brasil e atacou Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo. Esse ataque desencadeou uma campanha de desinformação contra a jornalista, desmentida pelo site Aos Fatos. No início de junho, Bolsonaro chamou de "quadrúpede" a colunista política e apresentadora da CNN Brasil Daniela Lima, igualmente vítima de um linchamento virtual devido a uma frase distorcida.

A Justiça condenou o governo federal a pagar uma multa por danos morais coletivos no valor de R$ 5 milhões por ofensas contra as mulheres em declarações públicas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e integrantes do Executivo. As respostas de Bolsonaro e seus apoiadores levou a Abraji a desenvolver um projeto para monitorar ataques específicos a jornalistas mulheres.

Com apoio da Unesco, o projeto vai monitorar agressões e ameaças com viés de gênero. Para isso, será feita uma busca ativa por palavras-chave na internet, incluindo as redes sociais, onde ocorre a maior parte dos ataques às jornalistas. Apenas em 2020, o monitoramento da Abraji mapeou que as mulheres foram alvos diretos de 61 violações à liberdade de imprensa, ou 17% do total de ataques. Dentre os ocorridos no meio digital, 56,76% das vítimas eram jornalistas mulheres.

Nos seis primeiros meses de 2021, o presidente atacou diretamente seis jornalistas mulheres contra dois homens. Em 2020, foram nove ataques a sete jornalistas mulheres feitos por Jair Bolsonaro.

A Abraji repudia a forma pela qual a mais alta autoridade do país se dirige às mulheres em geral e às jornalistas em particular. “É vergonhoso que ele e outras figuras públicas apelem ao machismo e à misoginia para intimidar mulheres e tentar retirá-las do espaço público”, afirma a instituição.

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