20 de abril de 2022

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Ricardo Noblat: “ele dormia num ponto de ônibus, acordou com corpo em chamas”

Há exatos 25 anos atrás, Galdino Jesus dos Santos — ou simplesmente índio Galdino — da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe, morreu num hospital horas depois de ter o corpo incendiado por cinco jovens de classe média alta, que o encontraram dormindo numa parada de ônibus no centro de Brasília. Aos policiais os jovens posteriormente disseram que tudo havia sido uma "brincadeira", pois o objetivo era "dar um susto" numa pessoa que acreditavam ser um mendigo.

Um dia antes, no Dia do Índio, Galdino havia participado de atos relativos à demarcação de terras indígenas e, finalizadas as celebrações, ao encontrar a pensão onde estava hospedado fechada, abrigou-se em uma parada de ônibus, onde os cinco assassinos o encontraram. “Um dos criminosos era filho de um juiz federal. Outro, enteado de um ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Max Rogério Alves, Eron Chaves de Oliveira, Tomás Oliveira de Almeida, Antonio Novely e um menor de idade, todos de 17 a 19 anos, jogaram sobre Galdino um líquido inflamável e riscaram palitos de fósforo”. O menor era “Gutemberg Nader de Almeida Júnior, hoje servidor concursado da Polícia Rodoviária Federal (PRF)”, reportou O Globo ainda em 2021.

Gutenberg conseguiu até mais: em 2020, durante o governo Bolsonaro, André Luiz Marçal da Silva, coordenador de Recursos Humanos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, então chefiado pelo ex-juiz Sérgio Moro, designou Gutemberg para um cargo comissionado, denunciou a Brasil de Fato também no ano passado. “Nos 11 meses em que esteve no cargo de substituto do chefe da Divisão de Testes, Qualidade e Implantação, ele recebeu gratificações mensais de aproximadamente R$ 2 mil (o comissionamento é identificado pelo governo federal pelo código FCPE 101.2). Os ganhos foram acrescidos ao seu salário bruto, de mais de R$ 9 mil”, reportou a mesma publicação hoje, ao relembrar a data.

Penas

Por ser menor, Gutemberg tinha sido condenado à internação de três anos, mas em setembro de 1997 sua pena foi comutada por liberdade assistida. Ao completar 18 anos, o registro do crime foi apagado, como determina a legislação brasileira quando há crimes envolvendo menores de idade.

Já os outros quatro assassinos (Tomás, Max, Eron e Antônio) haviam sido condenados, em 2001, a 14 anos de prisão em regime fechado por homicídio doloso. No entanto, sete anos depois, todos já estavam soltos.

Fontes