10 de setembro de 2015
Na véspera do dia em que se completam 14 anos do atentado terrorista de 11 de Setembro nos Estados Unidos, em uma mensagem de áudio divulgado por sites jihadistas, o líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri (que substituiu Osama bin Laden, morto em 2011 por soldados americanos na residência-esconderijo em Abottabad, Paquistão) acusou líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, de insubordinação e que com isso, a Al-Qaeda declara guerra ao Estado Islâmico.
“ | Nós preferimos responder o mínimo possível, centrados na preocupação de extinguir o fogo da insubordinação, mas al-Baghdadi e os seus irmãos não nos deixam outra opção.
Todos nós ficamos surpresos [quando al-Baghdadi se autoproclamou como chefe do quarto califa de história do islamismo] e fez tudo isto sem consultar [nenhum] dos muçulmanos [da Al-Qaeda], pois exigiram que todos os guerrilheiros renunciassem às alianças e jurassem aliança ao que dizem ser um califado. |
” |
Ayman al-Zawahiri |
No entanto, a declaração do líder da Al-Qaeda contra o líder do Estado Islâmico contraria o que ele disse em outro áudio divulgado ontem, em que classifica o grupo e o chefe de ilegítimos, mas que seus seguidores irão se juntar a eles na luta contra a coalizão capitaneada pelo Ocidente no Iraque e na Síria se possível. Não ficou claro quando esta gravação foi feita, mas referências a certos eventos dão a entender que ela foi feita pelo menos oito meses atrás, no começo de 2015.
Apesar das rivalidades entre a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, o ex-médico egípcio Zawahri insinuou que ainda existe chance de cooperação quando se trata de combater o Ocidente, mas não explicitou suas intenções ao fazer tais comentários, mas eles implicam a possibilidade de que ele esteja insinuando alguma forma de reconciliação.
“ | Não reconhecemos este califado. (...) Apesar dos grandes erros [do Estado Islâmico], se eu estivesse no Iraque ou na Síria cooperaria com eles para matar os cruzados e secularistas e xiitas, embora não reconheça a legitimidade de seu Estado, porque a questão toda vai além disso. | ” |
Ayman al-Zawahiri |
Reações
A declaração do líder da Al-Qaeda contra o líder do Estado Islâmico surpreendeu os especialistas de contra terrorismo e da imprensa, que consultados pela imprensa, a mensagem mostra a divisão dos dois grupos e sugerem que as diferenças entre eles são irreconciliáveis. Com isso, espera-se a divisão poderia fornecer uma abertura para agentes de combate ao terrorismo a explorar.
Em declarações à 6abc, especialista em contra-terrorismo Matthew Olsen disse táticas de desinformação poderia colocar as duas ameaças jihadistas contra os outros.
“ | Zawahiri até agora não foi disposto a condenar abertamente Baghdadi e Estado Islâmico ele destaca quão profunda é a divisão é entre a liderança da Al-Qaeda e EI. Isso sugere que as diferenças são irreconciliáveis. Se EI e Al-Qaeda realinhassem, unindo forças, seriam terríveis. | ” |
Matthew Olsen |
Rob O’Neill, o homem que matou Osama Bin Laden, reagiu a esta notícia no mesmo dia em declarações à Fox News, que esta disputa é estranha já que os dois grupos partilham “os mesmos ideias islâmicos e os mesmos objetivos”. O’Neill sugeriu ainda que esta declaração de guerra pode estar relacionada com a necessidade de publicidade por parte da Al-Qaeda e de fundos de países como a Arábia Saudita.
Histórico
O Estado Islâmico, anteriormente chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL, entre 2013 a 2014) e Estado Islâmico do Iraque (entre 2006 a 2013) era do ramo da Al-Qaeda que atuava apenas no Iraque. Na década passada, chegou a se chamar Al-Qaeda no Iraque, após fusão com outros grupos terroristas que lutaram contra tropas americanas e estrangeiras que ocuparam o Iraque após depor ditador iraquiano Saddam Hussein (morto em 2006) em 2003.
O início da ruptura do Estado Islâmico do Iraque e do Levante com a rede terrorista Al-Qaeda aconteceu em junho de 2013, quando o EIIL passou a atuar também na Guerra Civil Síria, o que contrariou alta cúpula da Al-Qaeda, que preferiram apenas a filial do grupo, a Frente Al-Nusra atuasse na Síria, enquanto a EIIL apenas no Iraque.
Depois do EIIL recusar de acartar ordens da alta cúpula da Al-Qaeda por oito meses, a rede terrorista decidiu anunciar pela internet em 8 de fevereiro de 2014, que não tem mais ligação com EIIL e que não faz parte dos quadros do que era então maior grupo terrorista internacional.
Após a ruptura, o EIIL iniciou ofensas no Iraque e da Síria, entre fevereiro a junho de 2014, que passou a controlar vastas áreas dos dois países equivalente ao tamanho do Reino Unido. Em 29 de junho, estabeleceu o primeiro califado islâmico no Oriente Médio desde 1924, declarando a separação das áreas controladas dos dois países e a mudança do grupo para apenas Estado Islâmico, ato não reconhecido internacionalmente. Após esta declaração, Ayman al-Zawahri o classificou o grupo rebelde e seu chefe como ilegítimos.
Entre agosto e setembro, o grupo que professa o islamismo sunita, deu amostras de ser mais violento e extremista do que a qualquer grupo terrorista islâmico conhecido até então, com notícias de assassinatos, torturas, conversões forçadas, escravidão, perseguições contra não-muçulmanos (cristãos, yazidis e judeus) e muçulmanos (xiitas, alauitas), vídeos de decapitações de reféns estrangeiros, razões nas quais o grupo está sendo atacado desde outubro por coalizão internacional desde outubro.
Desde que o Estado Islâmico impôs práticas de ultra-radicalismo contra população civil, levou fuga em massa de iraquianos e sírios para os países vizinhos, como Líbano, Jordânia e Turquia, a mais recente viagens arriscadas por Mar Mediterrâneo para a Europa, de países de maioria cristã.
No Afeganistão e no Paquistão, o Estado Islâmico tem lutado sem parar contra o Taliban e a Al-Qaeda, desde primeiros dias de 2015. Na Síria, há também relatos de que EI e Al-Qaeda e seus aliados têm lutado entre si.
Fontes
Esta página está arquivada e não é mais editável. |