13 de agosto de 2009
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, veio ao Brasil para agradecer o apoio do país e pedir posições mais firmes da comunidade internacional contra o golpe que o destituiu do poder em 28 de junho. “A posição do Brasil foi muito firme. O Brasil condenou o golpe, não reconheceu suas autoridades e ainda pediu uma restituição de seu servidor sem condições, imediata”, frisou Zelaya, após encontro de pouco mais de uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Zelaya, que já esteve no México, segue hoje (13) para o Chile e, na próxima semana, deverá se encontrar com a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton. Segundo ele, o objetivo das visitas é traçar estratégias para evitar novos golpes na América Latina. “O que pedi ao presidente Lula e ao presidente Calderón [Felipe Calderón, do México], e amanhã, estarei com a presidente Bachelet [Michelle Bachelet, do Chile], é que todos em conjunto – Estados Unidos e América Latina – deem um exemplo à humanidade: não voltem a esse estado de violência em nossos países porque é retroceder, é perder um direito.
Para ele, é preciso lutar pela democracia e por reformas sociais permanentes. "O retorno de golpes de Estado deve ser condenado pela sociedade civil e pelos mandatários”, afirmou o político hondurenho.
Entre as ações que espera, no âmbito multilateral, Zelaya destacou que espera uma resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) pelo não reconhecimento de eleições que venham a ser convocadas pelo governo atual, liderado pelo ex-chefe do Legislativo Roberto Micheletti. “Esta é uma posição muito firme que já tomou a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], e hoje o presidente Lula ratificou que sua posição segue firme nesse conceito. Eleições surgidas de um Estado ilegal não serão aceitas pelo Brasil", disse Zelaya.
Ele informou que governo brasileiro decidiu congelar projetos de hidrelétricas e estradas em Honduras enquanto o atual governo estiver no poder.
Dos Estados Unidos, Zelaya espera ações mais enérgicas: “Honduras está submetida a uma ditadura. Os Estados Unidos têm que tomar medidas mais firmes para reverter esse processo de golpe de Estado, porque 70% da economia do país dependem dos Estados Unidos”, ressaltou, sugerindo a adoção de retaliações comerciais por parte do governo de Barack Obama.
“Começamos com medidas diplomáticas, como a retirada de embaixadores, o congelamento de contas. Agora vão ser estabelecidas políticas com respeito às eleições. Depois virão medidas comerciais. Esperamos não ter que apelar para outro tipo de medidas. Acreditamos que é o suficiente para que aqueles que tenham um mínimo de razão e de sensibilidade social possam sentir que esse golpe de Estado foi repudiado pela humanidade inteira, por todos os governos, e que o povo hondurenho tampouco o aceita”, afirmou Zelaya.
Ele disse aos jornalistas que não acredita no envolvimento do governo americano no golpe em Honduras, lembrando que os Estados Unidos apoiaram a condenação da ação militar no país pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela OEA. “Os Estados Unidos patrocinaram a condenação das Nações Unidas, patrocinaram a condenação da OEA. Não acredito que, nesse caso, a administração de Obama tenha uma dupla moral."
No entanto, ressaltou Zelaya, parece haver nos Estados Unidos forças internas de extrema direita que têm dupla moral. “Vi declarações de senadores e de congressistas que falam de democracia nos Estados Unidos, mas quiseram impor golpes de Estado e ditaduras na América Latina.”, afirmou. Zelaya destacou que o plano de paz mediado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, foi uma iniciativa de Hillary Clinton. Lembrando que os Estados Unidos estão comprometidos com o Plano Arias, o líder hondurenho disse que o presidente Obama não vai perder seu prestígio, permitindo que os golpistas recusem o que eles propuseram como uma solução para o golpe de Estado.
O presidente deposto contou detalhes da noite de 28 de junho, quando foi retirado de sua casa de madrugada, por cerca de 150 militares, e expulso do país. “Assaltaram minha residência a balaços. Fui praticamente sequestrado de forma violenta, com roupas de dormir, apontaram-me armas”, relatou, frisando que Honduras estava desenvolvendo um processo de pesquisa de opinião pública, não um referendo, nem um plebiscito. Ele foi deposto horas antes de o país iniciar uma consulta sobre a possibilidade de incluir, nas eleições gerais de 29 de novembro, plebiscito sobre a instalação de uma assembleia constituinte para reformar a Constituição. A consulta pública foi considerada inconstitucional pelo Parlamento e pela Suprema Corte de Honduras e as Forças Armadas se recusaram a dar apoio logístico à operação.
“Neste momento, há uma grande repressão contra o povo, foi instalada uma ditadura, não foi apenas um golpe de Estado. O presidente do Congresso, de forma ilegal, com um golpe militar, assumiu a Presidência da República e elegeu a Corte de Justiça”, denunciou Zelaya. “Há apenas um poder, é um poder militar sustentado pelos rifles e pelas armas, há violações dos direitos humanos, muitas pessoas assassinadas, mais de mil presos políticos."
Ele afirmou que há torturas, censura à imprensa e um estado de arbitrariedade em Honduras que se acreditava ser coisa do passado. "Agora, com vergonha, vemos que volta a surgir a violência como um método de resolver problemas que se poderia resolver através do diálogo, da política e através das urnas, da democracia e das eleições.”
Zelaya ressaltou que não desistirá de retornar a seu país. “Ninguém pode me separar da minha família, ninguém pode me tirar o mandato que o povo me deu nas urnas voluntariamente, fazer isso é uma ruptura do pacto social. Eu seguirei lutando indefinidamente, não há tempo determinado, mas, sim, convicção de que somente o meu retorno a Honduras garante a paz ao sistema eleitoral e ao sistema político do país”, concluiu.
Depois do encontro com Lula, Zelaya seguiu para o Congresso Nacional, onde se encontraria com representantes da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ele viaja para Santiago hoje (13) de manhã.
Fontes
- Mylena Fiori. Zelaya agradece apoio brasileiro e pede mais firmeza da comunidade internacional — Agência Brasil, 12 de agosto de 2009
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |