27 de outubro de 2014
Wikinotícias entrevistou a Cecilia Curbelo, comunicadora, editora e escritora uruguaia. Autora de vários livros, comparte sua opinião sobre a motivação da leitura em crianças e adolescentes, para chegar a "dar com os livros que a eles os pegam, que podem ser diferentes aos que nós acreditamos que os podem gostar" porque "na variedade está a riqueza".
Wikinotícias Como descobriu você que queria dedicar-se a escrever?
Cecilia Curbelo Não foi um descobrimento se não um sonho... Aos seis anos quando aprendi a ler e a escrever me imensa no mundo dos livros e comecei a criar minhas próprias histórias, relatos curtos e breves, baseados principalmente no que via pela televisão naquela época que eram desenhos animados japoneses, com guiões [roteiros] muito trágicos (Candy, Marco, entre outros). E o sonho de ser escritora nasceu... porém sempre acreditei que tão só seria isso: um sonho. Comecei a ir a um trailer literário aos 12 anos. Mi vida esteve desde sempre marcada pelo literário.
Wikinotícias Ser editora de uma revista para adolescentes ajuda a estar em contato com esse universo?
Cecilia Curbelo Em um início sim. Agora te diria que da igual porque o contato o tenho através das redes sociais. Algo interessante é que o início, há uns anos, me conheciam como a editora da revista. Agora a maioria nem sabe que sou editora da Revista Upss!... Conhecem os livros e me conhecem por isso e realmente é uma alegria imensa haver-me decolado porque tanto a revista como os livros são produtos que têm que ver com a escritura porém estão sumamente longe ao um do outro. Em temáticas, em estética, em ritmos, em tudo!
Wikinotícias Seus livros abordam temas como divórcio, drogas, álcool, há que pô-los sobre a mesa?
Cecilia Curbelo A mim me parece que há que por sobre a mesa todo o que toque ao mundo adolescente. Os temas que lhes preocupa, lhes chega, os comove. E há que faze-lo de una maneira informal porém direta. A forma de comunicar tem que ser diferente à que se usava há anos porque a maneira de compreender e assimilar é outra. Captar isso, creio que é essencial para poder abrir um diálogo.
Wikinotícias Como é apresentar seus livros em outros países, as problemáticas adolescentes se repetem no mundo?
Cecilia Curbelo É interessantíssimo. Tenho apresentado livros na Argentina, México, Costa Rica, Guatemala, Panamá, Paraguai, entre outros e em cada caso me assombro de como os leitores se identificam tanto com as problemáticas que plantei nas novelas. Assim que a resposta é sim, se repetem no mundo... De repente em outros lugares há alguns temas que acá não nos são tão alegados, como as gangues, porém o álcool, a droga, os amores não correspondidos, os desordens alimentícios, o divórcio, a fidelidade na amizade, a depressão... enfim, são temáticas que estão presente em todos os estratos sociais das diversas culturas que me há tocado chegar.
Wikinotícias Qual é a responsabilidade de escrever para adolescentes, influi no que escreve ter uma adolescente perto?
Cecilia Curbelo A responsabilidade é enorme porque eles buscam um referente sempre. Às vezes o encontram em um cantor, outras em um escritor. Necessitam ver-se e sentir-se refletidos em alguém. E em meu caso, que poderia ser sua mãe pela diferença de idade, es ainda mais forte o vínculo. Portanto cada palavra que digo ou reflexão que realizo, está baixo a lupa não só de meus leitores mas também dos pais, avós e adultos envolvidos com os leitores. Pessoalmente não me influi para nada o ter una filha adolescente. De fato ela é completamente atípica à maioria e quando comecei a escrever para essa idade era apenas una menina.
Wikinotícias Se identifica mais com personagens de fantasia ou personagens mais perto à realidade?
Cecilia Curbelo Mais perto à realidade. Me alieno o mais que posso dos personagens de fantasia. Não estou em contra, porém não me atraem. Tenho que sentir que o personagem pode atravessar determinada situação e portanto o personagem e a situação têm que ser credível. Sou muito terrena assim que não acreditaria nada que tenha que ver com vampiros, feitiços e demais.
Wikinotícias Se conectam os personagens de todos seus livros?
Cecilia Curbelo Não. O único que liga um livro com outro (embora as histórias se podem ler de forma independente e em diferente ordem) é que a protagonista de una novela foi nomeada na anterior. Pode haver tido um papel importante como uno muito, muito secundário. A idéia é transmitir que todos, absolutamente todos teremos algo que contar. Desde a persona que nos cruzamos em um ascensor à prima irmã.
Wikinotícias Que se sente ser ícone de una geração de adolescentes?
Cecilia Curbelo Que pergunta difícil de contestar! E digo "difícil" porque não sei si me considero dessa maneira... Não sé que sinto, porém se poderia decidir que muitíssima alegria quando me comentam, tanto pais como leitores, que graças a mi ou a meus livros, seus filhos ou eles se correrá risco a estudar para ser escritores também. É como que antes, de repente, havia uma idéia de que aqui em Uruguai não se podia. Não se podia ser guionista [roteirista], não se podia ser músico, não se podia... E de um tempo a esta parte, muitos temos ido tirando abaixo essas barreiras e demonstrando que sim se pode. Que teremos muito para oferecer e que com perseverança podemos alcançar aquilo que parecia impossível.
Wikinotícias Como vês a vida dos adolescentes no Uruguai, onde os maiores têm mais presença nos meios de comunicação?
Cecilia Curbelo O veio com maiores possibilidades de desenvolvimento que as que tive eu, quando a sociedade te decidia que para ter "êxito" terias que estudar medicina, advogada ou ser contador. Hoje têm um ventilador mais amplo. E o feito de que haja muitos maiores nos meios de comunicação, não sei si é tão assim. Creio que a presença de gente jovem está tomando seu lugar também e a mescla é interessante, todos aprendem de todos.
Wikinotícias São seus livros para que também leiam os pais e permanecer imersos a outra cara dos adolescentes?
Cecilia Curbelo Sim. Embora eu os escrevo para os adolescentes, há um piscadela sempre para os papais. E por isso o vínculo que formamos é belo, transcende ao relato e passa a ser humano, familiar. Quando uma mãe ou um pai me escreve para dizer-me que com tal tema de uma novela puderam retomar o diálogo com seus filhos es como... bom, indescritível. Através dos livros que leem teus filhos podes (sem dúvida) entende-los mais e acercar-te de outra forma, como dizia antes, mais informalmente, o que faz um diálogo mais sincero e menos acartonada [fino como papel].
Wikinotícias Recebeu críticas de alguns pais que leriam os seus livros?
Cecilia Curbelo Sim, recebo em forma permanente. Por sorte até agora sempre tão sido positivos, de feito me fazem lagrimejar dois por três. Há histórias que são muito fortes. Com o livro de La Confesión de Micaela [A Confissão de Micaela, em espanhol] recebi um montão de mensagens de agradecimento de pais que, através do livro, seus filhos buscaram ajuda para tratar seus problemas de anorexia ou bulimia, que seus pais ignoravam até o momento. Também os próprios pais logo de ler a novela se perceberam que havia similitudes no comportamento de sua filha ou filho com a protagonista e de aí começaram um trabalho familiar para superar a problemática. São coisas que, como escritor, não te esqueceras mais. Isso são os verdadeiros prêmios.
WikinotíciasQue livro leu ultimamente que lhe gostou?
Cecilia Curbelo Ui, é complicado eleger um só porque leio um par de livros à semana. Sou adita à leitura. A semana passada terminei de ler Mueros Acá Nomás [Mortos Aqui Nunca Mais, em espanhol], do meu colega e compatriota César Bianchi. Um livro excelente. Ontem terminei Paper Towns [Cidades de Papel, em inglês], de John Green. Embora eu gostei não ambos como Looking for Alaska [Busca por Alasca, em inglês] ou The Fault in Our Stars [A Culpa É das Estrelas, em inglês]. E agora estou lendo o último de Gioconda Belli, El Intenso Calor de la Luna [O Intenso Calor da Lua, em espanhol].
WikinotíciasComo se pode acercar às crianças e adolescentes ante tanto estímulo digital, para que leiam e que lhes recomenda?
Cecilia Curbelo Eu recomendo que nunca se os obrigue a ler. É um erro... Se lhes impor-nos algo, o vão a detestar em seguida só pelo simples aceito de que seja uma imposição. A mi me parece que o que eles nos vejam ler é uma forma de que também aprendam e aprendam. Porém também si há um livro que trata sobre alguma problemática que estão vivendo, podemos como de forma casual ler-lhes em voz alta um parágrafo e deixar o livro aí pertinho. O tema é dar com os livros que a eles lhes armadilha, que podem ser diferentes aos que nós acreditamos que lhes poderiam gostar. Sem ir mais longe, minha filha ler livros de ficção que eu não entendo como lhe atrai, porque são dos que corro! Porém... na variedade está a riqueza e no respeito a essa variedade está a feliz convivência, que começa em casa, na família e se muda logo a toda a sociedade.
Fontes
Esta notícia é uma tradução completa ou parcial de "Wikinoticias entrevista a Cecilia Curbelo, comunicadora y escritora", proveniente de Wikinotícias em Espanhol em sua versão de 17 de novembro de 2014. |
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