16 de maio de 2024

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A difusão do judô no Brasil foi grandemente influenciada pela imigração japonesa, iniciada em 1908. O modelo explicativo mais usual entre autores sugere que a introdução do judô se divide em duas vertentes: a “intencional” e a “ocasional”. A primeira é centrada nos pioneiros que utilizavam a modalidade como atividade profissional, participando de desafios e lutas por entretenimento. A segunda considera como principais introdutores os imigrantes que usavam a prática como modo de fomentar a cultura japonesa, e como ferramenta de socialização entre os imigrantes.

Para compreender a popularização da luta no país, o pesquisador Gustavo Maçaneiro, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, analisou a trajetória de Sumiyuki Kotani, judoca japonês que teve papel essencial na popularização da modalidade no Brasil, em suas visitas a partir de 1939. A pesquisa, realizada sob orientação do professor Emerson Franchini, consistiu na análise de diversas fontes bibliográficas, como jornais, relatos e até escritos do próprio Kotani. A principal fonte desses documentos foi a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e o acervo digital do International Research Center for Japanese Studies.

Kotani foi aluno de Jigoro Kano, criador do judô, cuja ideia era unificar os conhecimentos das antigas escolas de jiu-jitsu em um sistema que pudesse atender às demandas de sua época. Para isso fundou seu próprio dojo, o Kodokan. Neste começo, Kano e seus alunos, entre eles Kotani, viajaram pelo mundo para difundir a luta.

Na primeira visita de Kotani ao Brasil, em 1939, o judô ainda estava no seu início. Embora a comunidade japonesa tenha fundado a Federação de Judô e Kendô do Brasil (Hakkoku Jukendo Renmei) em 1933, conhecida como “Jukendo”, poucos brasileiros participavam de seus campeonatos. A maioria de seus membros fazia parte da colônia japonesa. Além disso, grande parte dos praticantes brasileiros naquela época ainda conhecia o judô por jiu-jitsu, erro compreensível tendo em vista a origem do esporte.

A partir dessa visita, Kotani assumiu um papel fundamental de aproximar o Kodokan à colônia japonesa, e ao judô do Brasil e seus praticantes. As informações transmitidas pelo judoca influenciaram até mesmo um grupo de pesquisadores da USP que, em 1940, realizou uma viagem de campo ao Japão. Buscando compreender melhor a cultura do país nipônico, esse grupo visitou o Kodokan para entender como o judô era praticado em seu país de origem. Um dos membros da comitiva, Mario Botelho de Miranda, permaneceu no Japão e tornou-se membro do Kodokan.

Após a Segunda Guerra Mundial, Kotani teve uma influência importante na reconexão da Confederação Brasileira de Pugilismo e o Kodokan. Ele também intermediou a realização do Mundial de Judô Masculino no Brasil em 1965. Segundo os autores do estudo, a pesquisa demonstrou que Kotani era visto no país como um herdeiro legítimo do legado de Jigoro Kano. Assim, assumiu “o papel de autoridade carismática e tradicional no Brasil”, impactando o alinhamento do judô no país aos ideais do Kodokan.

O estudo foi publicado no The International Journal of the History of Sport, sob o título Sumiyuki Kotani, the Kodokan Emissary to Brazil (Sumiyuki Kotani, o emissário do Kodokan no Brasil).

O judô é um dos esportes mais praticados no Brasil. Segundo a Confederação Brasileira de Judô, cerca de 2 milhões de pessoas praticam o esporte no país, número 12 vezes maior que o do Japão, que tem cerca de 160 mil praticantes. Essa popularidade se reflete em resultados nas grandes competições da modalidade. O judô brasileiro já conquistou 22 medalhas olímpicas (4 ouros, 3 pratas e 15 bronzes). Desde os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, o Brasil subiu ao pódio em todas as edições.

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