3 de agosto de 2016
Grupos usam quadras esportivas, ciclistas passeiam pelas áreas abertas e um casal caminha abraçado em clima de romance entre os edifícios na Barra da Tijuca. Na academia, nas piscinas e nas portarias, o movimento de moradores não para, e a segurança mantém vigilância constante para que ninguém entre sem autorização. O que se vê na Vila Olímpica e Paralímpica da Rio 2016 – com a chegada das delegações, suas bandeiras, uniformes, idiomas e rostos de dezenas de nacionalidades – é o símbolo maior da diversidade cultural reforçada pelo esporte.
Os 31 edifícios do condomínio, que serão vendidos pela iniciativa privada após os Jogos, são um mosaico de bandeiras de mais de 200 delegações que reúnem menos de 10 atletas, como a de Moçambique, a mais de 500 integrantes, no caso dos Estados Unidos. Os americanos, australianos, brasileiros, chineses, russos e outros países com maior número de atletas ocupam prédios inteiros ou quase isso.
Outros edifícios trazem nas varandas bandeiras variadas que em algumas vezes estão agrupadas por região, como no prédio que abriga África do Sul, Moçambique e Uganda ou no de Dinamarca, Finlândia e Suécia. Outro critério aparente é o idioma, como no da Irlanda e Nova Zelândia, o que facilita a convivência, para a líder da equipe de ginástica olímpica irlandesa, Sally Filmer.
"Estamos sempre com a equipe da Nova Zelândia. É quem a gente mais encontra e até já viemos ao refeitório", conta ela. Os irlandeses elogiaram o espaço dos apartamentos, e Sally relata que os problemas que outras delegações encontraram ao chegar à vila foram resolvidos com mais antecedência, já que a equipe técnica chegou antes dos atletas.
Restaurante
Sally conversava com outra integrante da equipe irlandesa na porta do restaurante. Lá, os atletas podem se servir em cinco “ilhas" num espaço com capacidade para 5,3 mil pessoas. Furar a dieta na vila é fácil, com lanches e guloseimas disponíveis, mas a líder de equipe diz não ter trabalho em segurar o restante do time. "A maioria dos atletas é muito disciplinada. Eles seguem as dietas para ter a melhor performance. Não chegam a abusar."
A parte brasileira do restaurante – com farofa, chapas de carne, arroz e feijão – é uma das mais procuradas. Há também comida asiática, pizza, saladas diversas, iogurtes e bebidas. O menu atende também aos religiosos, e uma das partes do restaurante serve lado a lado comida kosher para os judeus e halal para os muçulmanos. Para quem observava a entrada e a saída do restaurante, não demorava a aparecer um atleta com sorvete ou picolé. Mais comedido, o saltador egípcio Mohab Elkordy saiu do jantar de ontem (2) com apenas uma água.
"Estou adorando andar pela vila. Amo a piscina e adoro o centro de entretenimento. Aqui é muito grande", admira o jovem de 18 anos, que pediu para olhar na câmera se sua foto havia ficado boa e concedeu entrevista sorridente.
Mohab já tinha vindo ao Brasil no evento-teste dos saltos ornamentais, no Parque Aqúatico Maria Lenk, e gostou das instalações. Em seu prédio, a convivência é com Casaquistão e Mongólia, mas o diálogo tem que ser em inglês. "Conheci alguns atletas do Casaquistão, e eles foram bem amigáveis. Tentamos sempre nos comunicar em inglês, mas nem todo mundo fala."
O clima descontraído da vila não dura muito mais do que algumas perguntas e logo surgem o foco, a ansiedade e o profissionalismo. O chefe de missão da Gâmbia, Haruna Cham, que veio ao Rio com uma equipe de um nadador, um judoca e quatro competidores do atletismo, lembra que ninguém está ali para relaxar. "Quando os atletas não estão treinando, pedimos que fiquem nos quartos, porque o propósito de estar aqui é competir. Não viemos aqui para um piquenique."
Problemas
Apesar de os irlandeses dizerem não ter reclamações, há relatos de problemas por outras delegações. A alemã Annekatrin Thiele, do remo, conta que ficou sem água no chuveiro e para lavar as mãos na segunda-feira (1º). Isso não faz com que a vila deixe de ser um lugar muito bonito em sua avaliação, e a competição no Rio de Janeiiro tem a vantagem da paisagem: "Ver o Cristo bem perto e a gente ali, isso é bem legal."
O médico espanhol José Salo Cuenca diz que o que funciona bem na vila é ótimo, e o que funciona mal é bem ruim. Ele evita comparações com outras vilas e aponta que o acabamento dos apartamentos é um dos pontos fracos do condomínio. Já a policlínica é o ponto forte. "Tem muitas especialidades e funciona perfeitamente. Eles são muito pontuais."
Problemas enfrentados pelas delegações não ficam apenas dentro do condomínio. O líder da equipe de natação de Moçambique, Fernando Miguel, conta que a distância da Lagoa Rodrigo de Freitas para a vila tem gerado transtornos aos dois competidores moçambicanos da canoagem de velocidade.
"É a nossa única reclamação. O local de canoagem fica muito distante daqui e ainda não há um trajeto acessível para tornar o tempo curto. É um transtorno muito grande. Duas horas para ir e duas horas para voltar", diz ele, que afirma que, em um dos dias de treino, o deslocamento chegou a durar mais de três horas, porque até o guia se perdeu. “Acredito que esses percalços sejam resolvidos à medida que os Jogos Olímpicos comecem.”
Academia
As vagas no restaurante da vila não são tão disputadas quanto os aparelhos do centro fitness, onde exercícios aeróbicos e musculação põem lado a lado atletas de diferentes países, biotipos e modalidades. Quem já tentou frequentar uma academia em horário de pico com certeza reconhece a expressão dos atletas brasileiros dos saltos ornamentais Ingrid Oliveira e Luiz Outeiro, que precisavam fazer a musculação para a manutenção da força física e não viam uma brecha para usar os equipamentos. Depois de alguma espera, eles conseguiram malhar e elogiaram os aparelhos.
“A gente fica malhando, mas olhando e imaginando de que esporte eles devem ser. A gente vê o pessoal remando direto e pensa que, com certeza, é de remo. Vê uma menina 'sinistra' na barra e já vê que é do levantamento de peso. É bem interessante ver o que os outros esportes exigem", conta Ingrid, que faz principalmente exercícios de explosão para manter a força das pernas.
Luiz Outeiro conta que o treino na academia está mais leve esta semana por causa da proximidade dos Jogos, e que é no Parque Aquático Maria Lenk que os movimentos dos saltos são aprimorados. "Agora, a gente chama de polimento. Estamos polindo a nossa técnica na água, e aqui estamos mantendo o nosso condicionamento físico."
Outro ponto disputado da vila são os Aros Olímpicos, instalados em uma praça no meio dos prédios. A fisioterapeuta grega Ivana Djuric foi tirar fotos com os aros, o único ponto turístico que pôde conhecer até agora. Ela afirma o Cristo Redentor e outros locais famosos da cidade estão nos seus planos, mas para mais tarde. “Não tivemos tempo para visitar, mas com certeza teremos que ir.”
Fonte
- Vinícius Lisboa (Repórter) e Talita Cavalcante (Edição). Vila Olímpica: o condomínio da diversidade cultural do esporte — Agência Brasil, 3 de agosto de 2016, 15h17min
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |
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