25 de setembro de 2024

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O uso de celulares no ambiente escolar está se tornando cada vez mais comum. Essa prática pode levar não apenas ao prejuízo na concentração dos estudantes, mas também na diminuição da sua criatividade. O Ministério da Educação está finalizando os preparativos para divulgar, em outubro, um projeto de lei com o objetivo de proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas do Brasil. Sobre esse assunto, o professor Daniel Cara, da Faculdade de Educação da USP, comenta.

“Precisa regulamentar, sem dúvida nenhuma. É interessante observar que essa regulamentação, inclusive, tem desafios específicos para cada etapa de escolarização, é muito mais fácil realizar essa tarefa. No ensino fundamental, lamento dizer, também na educação infantil, infelizmente têm pais e mães que acabam cedendo e dando celulares para crianças na educação infantil de 5 anos, 6 anos, o que é de fato um absurdo, têm crianças que estão levando celulares para a escola, na pré-escola. No Ensino Médio, até nos anos finais do Ensino Fundamental, isso já fica mais complicado. Essa vai ter que ser uma regulamentação sensível e que traz também desafios para a gestão da escola”, afirma.

O professor também apresenta a dificuldade dessa implementação de medidas. Os aparelhos estão mais equipados com tecnologia, o que aumenta seu valor agregado. Daniel Cara fala a respeito dos empecilhos em relação à proibição do uso de telefones celulares nas escolas brasileiras e mundiais. O docente ainda afirma que o melhor caminho para combater o uso excessivo de telas é a conscientização, no entanto, essas medidas não estão se mostrando efetivas.

Linhas de estudos

Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, concluiu que o excesso de tecnologia leva a prejuízos na comunicação entre crianças e jovens, problemas no sono, atrasos no desenvolvimento cognitivo, entre outros problemas. Daniel Cara desenvolve a ideia da importância do uso de métodos tradicionais de ensino e comenta o impacto das inteligências artificiais nos estudos.

“Tem duas linhas científicas de análise, uma linha que vai dizer que a utilização das telas traz um prejuízo enorme ao aprendizado dos estudantes por vários fatores. O principal deles é que as telas não são nem tão problemáticas quanto o exercício de digitação. O ser humano tem três estratégias de memorização que foram desenvolvidas ao longo da história, uma delas é bem recente, que é a escrita. A escrita, quando ela é desenvolvida, é a que gera a maior capacidade de memorização. A audição é muito inferior à leitura. Primeiro a escrita, depois vem a leitura, depois vem a audição, em termos de capacidade de memorização”, disserta. “As telas e a digitação coíbem todas elas. A escrita, para ter de fato uma memorização forte, ela tem que ser feita à mão. É assim que se desenvolve a maior capacidade de memorização. Então esse é um ponto. A utilização das tecnologias reduz a capacidade cognitiva das gerações. E pela primeira vez nós estamos verificando uma queda de capacidade cognitiva da atual geração.”

Prejuízos do uso indevido da tecnologia

O uso de meios tecnológicos é, sim, benéfico para a sociedade, porém, o uso indevido da tecnologia interrompe o percurso natural de diversos fatores, dentre eles o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo. O pesquisador ressalta os malefícios desse uso inadequado de celulares. “A tecnologia deveria ser um caminho para aguçar a curiosidade e ela está matando a curiosidade. Teria que ser um caminho para uma elaboração mais estrutural do conhecimento. Então, por exemplo, para um estudante universitário ou para um estudante de Ensino Médio, de Ensino Fundamental, para melhorar, elaborar melhor as pesquisas e tem servido para não elaborar, mas para produzir os textos, o que é um equívoco, porque a gente perde a autoria “, ressalta.

Daniel acredita que as tecnologias estão sendo mal utilizadas e estão atrapalhando o próprio desenvolvimento da humanidade em termos de ter capacidade de resolver problemas e que isso reflete no atraso da solução de problemas emergentes, como a qualidade de vida da população de São Paulo. O professor conclui explicando que a tecnologia tem que ser um suporte, um meio e não o fim de uma produção intelectual.