Brasil • 23 de outubro de 2014

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A Universidade de São Paulo (USP) tinha núcleos de apoio à ditadura instaurada pelo golpe de 1964, segundo professores que viveram o período. O assunto foi discutido hoje (22) em um debate na própria instituição. O professor da Faculdade de Direito, Dalmo Dallari, disse que os grupos de pensamento conservador começaram a atuar vários anos antes da ditadura civil-militar. “Antes disso, já existiam discriminações dentro da USP. Já existiam núcleos tremendamente reacionários”, disse em sua exposição.

Faculdade de Direito da USP

Como exemplo, o jurista citou o veto à indicação de Oscar Niemeyer para lecionar na universidade. “Quando Oscar Niemeyer não tinha ainda feito Brasília, mas era um nome muito respeitado. Havia sido proposta para a contratação dele pela USP, para ministrar cursos na área de arquitetura. E houve um veto absoluto, porque ele era um comunista perigoso”, disse sobre os argumentos apresentados à época contra o arquiteto.

“Assim, foi sendo montado um dispositivo que teve grande atuação a partir do golpe de 1º de abril de 1964”, acrescentou explicando a importância que pessoas ligadas à USP tiveram durante a ditadura. “Foi extremamente importante a Faculdade de Direito, especialmente na pessoa do Gama e Silva, na montagem do dispositivo que formalizou as perseguições, as punições, as tremendas violências, dando um caráter de legalidade”, destacou. Professor, reitor e ministro da Justiça durante a ditadura, Luís Antônio da Gama e Silva foi , lembrou Dallari, responsável pela elaboração de parte dos atos institucionais, decretos autoritários que aumentaram os poderes da ditadura e cercearam direitos civis.

As perseguições também foram, de acordo com Dallari, muito fortes dentro da própria universidade. “Preparando listas e indicando nomes de professores para serem presos, demitidos, expulsos”, relatou o jurista que chegou a ser proibido de lecionar por um período. “Isso empobreceu a universidade das suas lideranças acadêmicas e intelectuais”, acrescentou o professor do Instituto de Geociências, Umberto Cordani, sobre as perseguições que também vitimaram muitos alunos. “Foram anos em que a universidade sofreu muito. Sofreu nos departamentos que mais interessavam aos militares que desaparecessem. Sofreu muito a Faculdade de Filosofia, toda a parte de sociologia”, lembrou.

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