Rio de janeiro, RJ, Brasil • 16 de agosto de 2008

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Uma tentativa de invasão na favela de Vigário Geral (zona norte da cidade do Rio de janeiro), que degenerou uma onda de tiroteio e ataques entre 14 e 15 de agosto, uns dos mais violentos do ano, deixou três pessoas mortas, interrompeu a circulação de trens em um dos ramais da SuperVia (sistema de trens metropolitanos do Rio), interdição de ruas e avenidas, cerca de 3.000 crianças de quatro escolas e três creches de Vigário Geral e Parada de Lucas ficaram sem aulas ontem.

O tiroteio começou no fim da tarde do dia 14. Horas depois os moradores de Vigário Geral continuavam assustados porque eram muitos tiros. Com medo, funcionários do Fórum do Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que fica perto da favela, evitaram sair. Segundo a polícia, a troca de tiros foi entre traficantes de facções rivais. Pelo menos três moradores de Vigário Geral foram baleados e levados para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Todos estão fora de perigo.

O tiroteio também prejudicou quem precisava de transporte. A Supervia mudou o esquema de circulação dos trens. Durante toda a noite, quem saía da Central do Brasil tinha de saltar em Cordovil, e os trens que partiam de Saracuruna paravam em Caxias. Na estação de Vigário Geral, passageiros esperavam, mas muitos desistiram e voltaram para casa, ou tentaram pegar ônibus, mas tiveram de enfrentar filas.

O trânsito chegou a ser interrompido na Rua Bulhões Maciel e na Avenida Presidente Kennedy e a Linha Vermelha ficou fechada por 40 minutos. Policiais orientavam os motoristas. A Polícia Militar (PM), dos batalhões de Olaria e Duque de Caxias, ocuparam as ruas da favela e no fim da noite o tiroteio parecia controlado.

Mortos e Feridos

Três pessoas foram atingidas por balas perdidas e outras três foram mortas, durante o tiroteio em Vigário Geral: Sueli de Souza (atingida na perna); Bruna Regina (23 anos) e um homem (inicialmente não-identificado), foram feridos na cabeça. Os três permanecem internados no Hospital Getúlio Vargas fora de perigo. O trânsito na Avenida Bulhões de Maciel e na Avenida Presidente Kennedy foi liberado apenas na noite.

Segundo a Secretaria da Saúde, os feridos começaram a chegar ao hospital Getúlio Vargas no início da madrugada. À 0h01, Anderson Rodrigues Cardoso, 29 anos, foi atendido na unidade com um tiro no peito e outro no rosto. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu. Os outros dois mortos ainda não foram identificados.

Mozart da Cruz Freitas, 24, foi atingido por um tiro na perna e deve passar por cirurgia. Ainda de acordo com a Secretaria da Saúde, outras três pessoas ficaram feridas e já foram liberadas. A PM afirma que as vítimas fatais tinham envolvimento com o tráfico na favela.

Trens

A SuperVia (concessionária dos trens que circulam na Grande Rio de janeiro) decidiu interromper a circulação das composições entre o início das operações até às 8h45 no ramal Saracuruna. Os trens circularam apenas entre a estação Penha Circular e a Central do Brasil. O trecho de 16 estações entre Brás de Pina e Vila Inhomirim ficou sem atendimento.

Operação

Horas depois dos tiroteios na quinta-feira dia 14, a Polícia Civil da mesma cidade fez uma operação com 80 homens, dois helicópteros e um carro blindado no conjunto de favelas Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Os agentes foram recebidos a tiros e reagiram. Um intenso tiroteio se seguiu por mais de 15 minutos e deixou em pânico os moradores do morro e da região. Os pedestres procuraram abrigo em lojas e restaurantes.

O delegado-titular da Delegacia de Repressão às Armas e Explosivos (Drae), Carlos Alberto Oliveira, comandou a ação e disse que cerca de 15 homens atiraram contra os helicópteros da polícia, provocando a reação dos agentes. "Foram muitos tiros e os policiais reagiram. Os criminosos fugiram para as matas que cercam a favela e encontramos rastros de sangue no caminho. Isso indica que alguém do bando foi ferido", afirmou o delegado.

A polícia ficou cerca de cinco horas na favela e apreendeu armas, granadas, drogas, rádios-transmissores, um colete falso da Polícia Civil e caixas de morteiros. No entanto, o principal objetivo não foi cumprido: prender Paulo Henrique Duarte Correia, o Juca Bala, de 32 anos, apontado como líder do tráfico na favela. Ele é acusado de comandar os roubos das armas cenográficas do filme "Tropa de Elite", no Morro Chapéu Mangueira, em novembro de 2006, e de duas metralhadoras do Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana, no ano passado.

Na operação, foram presos Gérson Porfilho, de 23 anos, que saiu há um mês do Presídio Vicente Piragibe, onde cumpriu pena de dois anos e quatro meses por tráfico de drogas; Carlos Wagner da Conceição e Adalberto de Oliveira Barbosa Lima, ambos com 23 anos, em posse de entorpecentes. Sem algemas, os policiais imobilizaram a dupla com fios de plástico. Na sede da Drae, os dois foram algemados.

Às 9h25 do dia 15, a Polícia Militar não tinha um balanço da operação.

Motivo

Os tiroteios iniciaram quando traficantes do CV (Comando Vermelho) invadiram no meio da tarde do dia 14, a favela de Vigário Geral para tentar retomar o controle da favela, hoje comandada pelo TC (Terceiro Comando). A tentativa da retormada da favela, gerou a onda de tiroteio, levando a PM a intervir na favela para por fim da violência.

O confronto ocorre no mesmo dia em que o traficante Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, membro do Comando Vermelho, era julgado no Rio por associação ao tráfico.

O confronto também ocorre depois que o líder do tráfico das favelas Vigário Geral e Parada de Lucas por 10 anos, foi morto pela polícia em 1º de agosto, Cauã da Conceição Pereira, mais conhecido como Furica, o que levou o CV aproveitar a morte do líder para tentar invadir Vigário Geral.

Repecussão Internacional

O confronto entre facções rivais de traficantes e a polícia teve repecussão internacional. Noticiários de países da América (como Argentina e México), Europa, Ásia, África e Oceania deram destaque os ataques.

Fontes