Agência Brasil

Brasil • 22 de agosto de 2009

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Apesar das filas para comprar ingressos e entrar nos estádios brasileiros, da falta de lugares marcados e até mesmo das más condições dos banheiros e da comida que é vendida nos locais dos jogos de futebol, o torcedor brasileiro reclama pouco. Segundo a Fundação Procon de São Paulo, apenas cinco reclamações de torcedores foram registradas pelo órgão neste ano.

Para o assessor chefe do Procon de São Paulo, Carlos Augusto Coscarelli, isso ocorre basicamente por duas razões. “Acredito que isso acontece por um comodismo ou porque o torcedor teme prejudicar seu time por causa de sua reclamação. É bom lembrar que o futebol não é um serviço como outro qualquer: ele envolve muita paixão.”

Para o jornalista esportivo Juca Kfouri, a razão é outra. As poucas reclamações ocorreriam, segundo ele, porque o brasileiro não se sente cidadão. “O torcedor não é tratado como cliente, não é tratado como consumidor”, disse ele à Agência Brasil.

As más condições dos estádios brasileiros são reconhecidas também pela empresa BWA, que administra atualmente cerca de 90% da venda de ingressos. “Os estádios brasileiros hoje não estão prontos para dar uma condição boa ao consumidor. Falta banheiro, o atendimento e a alimentação são precários”, disse um dos donos da empresa Walter Balsimelli Neto.

Mesmo com todos esses problemas nos estádios brasileiros, um ingresso para o jogo entre a seleção brasileira e a seleção do Paraguai, realizado em Recife, em junho, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, podiam ser comprados por R$ 50 (arquibancada) e R$ 250 (camarote). Em geral, o preço dos ingressos é estipulado pelos clubes ou pelo responsável pela promoção do evento – em alguns casos, as federações de futebol.

A decisão do preço de um ingresso é tomada pelos clubes, portanto são eles quem decidem se o preço deve ou não diminuir.

—informação por e-mail do Ministério do Esporte.

Para o dono da BWA, preços como esse se justificariam em casos de jogos ou campeonatos importantes. “Acho que o ingresso ainda é barato no Brasil. O grande erro da mídia é achar que futebol é utilidade pública. Vocês acham que as empresas que trabalham no futebol não podem ganhar dinheiro, não podem prestar um serviço adequado. Futebol não é ação social. É entretenimento em qualquer lugar do mundo e aqui não pode ser diferente”, defendeu ele.

Mas, para o jornalista Juca Kfouri, se o futebol brasileiro deve ser encarado como espetáculo, precisa oferecer mais do que o torcedor brasileiro está acostumado a encontrar quando pretende assistir a um jogo. “Por que a cadeira é suja e não há onde estacionar o carro? Por que o banheiro é imundo e a comida de má qualidade e para comprar ingresso é essa dificuldade? Que espetáculo você está me vendendo?”

O Estatuto do Torcedor reserva um capítulo especial sobre as condições de alimentação e higiene nos estádios e diz que cabe ao Poder Público, por meio dos órgãos de vigilância sanitária, fiscalizar a qualidade das instalações físicas e dos produtos alimentícios vendidos no local. “É direito do torcedor que os estádios possuam sanitários em número compatível com sua capacidade de público, em plenas condições de limpeza e funcionamento”, traz o Artigo 29 do Estatuto.

Cabe aos consumidores exigirem que os clubes melhorem os serviços prestados, tornando a qualidade compatível com os preços. No entanto, o Procon, em São Paulo, acompanha de perto as alterações de valores e se considerarmos o aumento do valor abusivo, iremos intervir.

—Coscarelli

Para Juca Kfouri, a saída para o Brasil se igualar a países como a Espanha e a Itália no quesito tratamento aos torcedores passa necessariamente pela profissionalização do esporte, com a ideia do clube se tornar uma empresa. Repetir o que ocorre nos estádios europeus em que praticamente não há filas, em que não há necessidade de se chegar com muita antecedência aos estádios e onde se pode sentar em lugares marcados nos bilhetes poderia ser uma realidade nos estádios daqui, caso os clubes deixassem de ser amadores.

A ideia também é abraçada pelo promotor de Justiça do Rio de Janeiro Rodrigo Terra, especialista em defesa do consumidor. “Se a gente mudasse realmente a estrutura, se o clube virasse empresa, a punição viria imediatamente em forma de resultado. Uma empresa que não faz seu serviço direito é punida pelo resultado que ela obtém.”

Fontes