30 de novembro de 2014
A crise econômica que atingiu o mundo em 2008 e que ainda hoje se faz sentir na maior parte dos países afetou em cheio o orçamento das empresas públicas de comunicação, que dependem principalmente de recursos públicos para funcionarem. Além disso, precisam disputar a audiência com as novas tecnologias online, notadamente em relação ao público jovem. O assunto foi abordado por executivos de televisões públicas mundiais, reunidos no Rio, de 26 a 28 de novembro, durante a 23ª Conferência Public Broadcaster International (PBI).
O diretor de Assuntos Internacionais e Jurídicos da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), José Lopes de Araújo, disse que o maior problema é o corte de verbas anunciado pelo governo português. “O grande desafio é sobreviver. Temos um orçamento muito reduzido, limitado. O governo decidiu que não vai dar mais um euro do orçamento do Estado para a televisão pública. Desde então, vivemos apenas com a taxa paga por cada lar, que é 2,65 euros por mês por contribuição ao audiovisual, e com seis minutos de publicidade de comerciais por hora”, disse Araújo.
Segundo o executivo, o valor é insuficiente para cobrir todos os custos da estatal. “Temos que viver apenas com este valor, com uma estrutura muito pesada, com mais de 1.600 trabalhadores e estúdios em todo o país. Temos dois canais nacionais abertos, dois canais temáticos no cabo e dois canais internacionais: a RTP Internacional e a RTP África. O nosso orçamento anual é de 220 milhões de euros e nossa receita está 20 milhões de euros abaixo do custo. Esta diferença temos que superar com a redução de custos e a busca de outras formas de financiamento comercial”, disse.
Para melhorar a audiência, segundo ele, uma das estratégias é investir mais em esportes, principalmente o futebol. “Nos últimos três anos, perdemos audiência. Mas faz seis meses que a estamos recuperando. Um dos conteúdos que dão muita audiência é o futebol, que é um produto âncora. Os portugueses, ao serem perguntados sobre o que gostariam que a televisão pública mostrasse, disseram que era o futebol. O futebol e o esporte em geral farão aumentar nossa audiência. Da mesma forma que a melhoria na qualidade dos programas de informação e de ficção.”
A crise financeira também se fez sentir de forma contundente no maior grupo público de mídia mundial, a britânica BBC. O diretor de Políticas Editoriais, David Jordan, disse que a BBC tem sofrido com a redução das taxas de licenciamento nos últimos três anos e meio, que estão congeladas pelo governo e são corroídas pela inflação. “Isto é um grande desafio. Temos que buscar formas de economizar. Existe o perigo de precisarmos reduzir o nosso serviço, se continuarem a cair as taxas. O grande desafio é como se adaptar à situação em que o nosso orçamento está muito restrito e ao mesmo tempo continuar a garantir todos os serviços que costumamos oferecer”, explicou Jordan.
Segundo ele, o orçamento anual da BBC é de 3,5 bilhões de libras, recebidas pelas taxas de licenciamento pagas por cada casa com televisão, que atualmente é de 144 libras por ano. A taxa está congelada faz três anos e meio e deverá ficar assim pelo próximo ano e meio. “Ganhamos uma pequena parcela de dinheiro com a operação comercial, com a BBC internacional, o que garante algumas centenas de milhões de libras, vendendo programas e formatos de programas.”
Por causa da redução no financiamento, a empresa vem fazendo cortes de pessoal, principalmente nos setores administrativo e de gerenciamento. A maior parte dos 20 mil empregados é dos setores de produção de conteúdo e de jornalismo.
A programação da BBC, segundo o executivo, atinge 96% das pessoas no Reino Unido, que acessam semanalmente algum dos serviços oferecidos, seja através do rádio, da televisão ou da internet. “Globalmente, temos o objetivo de atingir 500 milhões de pessoas até o final desta década. Atualmente, são cerca de 270 milhões de pessoas por ano.”
Para garantir e aumentar a audiência, principalmente junto ao público jovem, a empresa vem investindo em novos canais, incluindo mídia online para tablets e celulares. “Encaramos dois desafios quanto aos jovens. Um é que a tecnologia está mudando e temos que estar aptos a prover toda a nossa programação de diferentes maneiras, seja em tablets ou em celulares. Também temos que apresentar o nosso conteúdo de forma que os jovens queiram acessar, o que é diferente de como os pais deles e os avôs faziam. É importante deixar os conteúdos disponíveis online e temos ajustado a nossa oferta neste sentido. Temos de permanecer relevantes para os jovens, oferecendo conteúdos nas plataformas que eles queiram e dando a eles conteúdos que desejem.”
Ao mesmo tempo, Jordan ressalta que é preciso atender ao público tradicional, que gosta de acessar o conteúdo sentado na poltrona de casa, ouvindo um velho rádio ou na frente da televisão. “O desafio é como continuar a servir nossa audiência tradicional, que gosta de escutar rádio ou ver televisão, e também a nova audiência, que usa tablets e celulares. É um grande desafio não só para a BBC, mas para toda a mídia mundial.”
A Conferência PBI ocorre anualmente, desde 1991, e esta foi a primeira vez que ocorreu em um país da América Latina, organizada pela Empresa Brasil de Comunicação - EBC. A próxima será realizada em 2015 na Alemanha.
Fonte
- Vladimir Platonow. Edição: José Romildo. TVs públicas lutam pela audiência e contra a falta de recursos — Agência Brasil, 30 de novembro de 2014, 13h10
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |
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