3 de Agosto de 2018

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O secretário de Segurança Pública de Goiás, Irapuan Costa Jr, disse nesta sexta-feira, 3, para a rádio Sagres AM, de Goiânia, que as mulheres são em parte culpadas pelos crimes que sofrem. "Esse é o tipo de crime que conta com aquilo que nós chamamos de cumplicidade das vítimas", disse em áudio que circulou nas redes sociais e no dial da emissora.

Goiás é o terceiro estado em números de violência contra a mulher, conforme dados do "Atlas da Violência" 2016 e 2017, lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pesquisadores da área apontam o machismo como uma das características culturais da violência que incide em Goiás. "O que se vê no Estado é uma violência multifacetada, tendo a violência contra a mulher dados sólidos e confiáveis. Sabemos a quantidade e o problema, mas os gestores de segurança pública não criam políticas específicas para o combate da violência", diz o advogado, mestre em Direito e doutor em Sociologia da Violência, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Welliton Carlos.

Para ele, a primeira ação deveria ser pedagógica: "Gasta-se inúmeros recursos com publicidade e propaganda, mas para enaltecer a figura do gestor. Deveriam usar as verbas publicitárias para uma mudança global e coletiva de comportamento. Isso é possível. Existem estados da Índia e Estados Unidos que reduziram drasticamente a criminalidade contra a mulher por meio de campanhas".

Para jornalistas do Estado, caso da comentarista Cileide Alves, "culpar a vítima é mais uma violência contra ela".

A frase foi uma das mais comentadas nas redes sociais e despertou a indignação das mulheres, que acusaram ainda o governo de impedir o acesso delas e outras minorias aos principais escalões da administração pública goiana.

O secretário de Segurança de Goiás não é especialista da área nem tem qualquer experiência no combate da violência. Ex-governador e ex-marido da senadora Lúcia Vânia (PSB), Irapuan tem opiniões polêmicas, como a que mexeu com a emoção das mulheres e a defesa militante de uma sociedade armada.

Sem conhecer a área que atua, Irapuan teria tentado utilizar conceitos da sociologia criminal que dizem respeito ao capítulo "Vitimologia". Sob este ângulo, o estudo do crime analisa se a vítima ou sujeito passivo de alguma forma de crime contribui para sua existência. Mas o estudo estaria mais relacionado a personalidades e comportamentos e não ao fato de ser homem ou mulher.

Pesquisas de Von Henting sugerem que a vítima pode ser colaboradora do ato criminoso, mas sem se concentrar nos aspectos de feminalidade ou masculinidade.

Fontes