Brasília • 6 de junho de 2008
Preso por deserção na madrugada de anteontem (4) em São Paulo, após dar uma entrevista à Rede TV e dias após revelar em entrevista à Revista Época um relacionamento homossexual com um colega de trabalho, o sargento Laci Marinho de Araújo, que se encontra sob cuidados médicos, foi transferido hoje para Brasília. Segundo o Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Laci Araújo e o companheiro Fernando de Alcântara sofreram ameaças ao se recusarem inicialmente a viajar.
“Eles foram ameaçados com a possibilidade de dar ao sargento Laci um sedativo para que fosse transportado. Um helicóptero da FAB pousou próximo a um hospital para buscá-los, com pessoas com metralhadoras para fazer escolta, como se fosse uma praça de guerra”, relatou à Agência Brasil o advogado do Condepe, Francisco Lúcio França.
O Exército Brasileiro considera o sargento Laci desertor por ter faltado a oito dias de trabalho. Entretanto, o militar alega que a ausência foi motivada por problemas de saúde. Em Brasília, o sargento foi encaminhado para o hospital militar, mas segundo o seu companheiro, Laci teria sido desrespeitado durante a viagem. “Ele foi jogado da aeronave algemado”, afirmou o sargento Alcântara.
Os senadores Eduardo Suplicy (PT- SP) e José Nery (Psol-PA) visitaram Laci e afirmaram que o sargento está insatisfeito em ser enquadrado como desertor. Eles recomendaram ao militar que escreva um carta ao senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e que aponte os motivos de sua insatisfação.
Sobre o tratamento dispensado ao preso, Suplicy defendeu um voto de confiança às autoridades. “Confiamos na palavra do ministro da Defesa (Nelson Jobim) e do comandante do Exército (Enzo Peri) de que ele [Laci] será tratado com o devido respeito.”
O Condepe expediu ofício ao Conselho Federal de Medicina para que faça uma perícia independente sobre as condições de saúde do militar preso. Outro pedido é para que o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana acompanhe o caso em Brasília.
Esclarecimento do Exército Brasileiro sobre o caso
O Centro de Comunicação Social do Exército expediu a seguinte mensagem, no site do Exército:
A propósito da matéria veiculada na última edição do periódico “Época” e em emissora de televisão, envolvendo militares do Exército, o Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que aqueles militares já respondem a procedimentos judiciais, que estão na esfera da Justiça Militar da União.
As medidas cabíveis que a situação exige estão sendo adotadas de forma tempestiva, sem se descuidar dos princípios basilares da carreira das armas, enunciados no Estatuto dos Militares, dentre outras leis e respectivas regulamentações.
O Exército cumpre rigorosamente os instrumentos legais, agindo com impessoalidade e observando os direitos pétreos previstos na Constituição Federal[1]
Fontes
- Marco Antônio Soalheiro e Marcos Chagas. Exército transfere para Brasília sargento preso por deserção após se confessar homossexual — Agência Brasil, 5 de junho de 2008
- Gabriela Guerreiro. Sargento gay é transferido para Brasília; comissão do Senado acompanha caso — Folha Online, 5 de junho de 2008
- Marina Mello. Preso, sargento gay é transferido pra hospital no DF — Portal Terra, 5 de junho de 2008
Referências
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |