“Se cada uma das companhias que trabalham em Moçambique escolher um ou dois distritos apoiar o trabalho que lá se faz isso seria óptimo”
18 de novembro de 2014
Os orçamentos de saúde em África estão sob imensas pressões (com agências de ajuda estrangeiras a dizer que estão com falta de dinheiro). Os governos cada vez mais procuram fundos de companhias privadas para cobrir o déficit.
A Coca-Cola é uma dessas empresas, na lista das alternativas à falta de financiamento. Presente em todos os países africanos, com mais de 900 mil lojas de retalho, desde o sopê do Kilimanjaro (Quénia) até aos bares de Timbuctu (Mali), a Coca-Cola está em toda a África.
"Se a Coca-Cola chega a todos os cantos do mundo, porquê que os nossos medicamentos não conseguem?”, esta foi a questão que Gabriel Jaramillo, gestor do Fundo Global da Luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária, colocou e impulsionou a Fundação de Saúde Clinton a estabelecer uma parceria com a Coca-Cola em Moçambique, para melhorar a aquisição, o armazenamento e a distribuição dos medicamentos essenciais.
A Coca-Cola empresta camiões durante a terceira e a quarta semanas do mês, quando as vendas da bebida são mais baixas, para a distribuição dos medicamentos dos armazéns para as instituições de saúde em seis províncias.
Lise Ellyn, a directora da Fundação Clinton em Moçambique, diz que o investimento privado em cadeias de suprimentos é uma situação em que todos ganham.
“É fundamental expandir a base de parceiros doadores para que se possa avançar com para muitas dessas áreas, engajando de facto o conhecimento que eles têm", repara, acrescentando que "há fundos mas não estão a ser usados de forma eficiente e que o sector privado ajuda a tornar tudo mais eficiente, até porque são projectos a longo-prazo”.
Apesar das décadas de assistência internacional, poucos países da África sub-sariana gastam o mínimo entre 34 a 40 dólares por pessoa anualmente, que segundo a Organização Mundial de Saúde é o valor necessário para garantir à população os cuidados de saúde básicos.
Aproveitar o dinheiro e a experiência do sector privado começa a tornar-se uma forma rápida para o reforço do desenvolvimento dos esforços em África.
No ano passado, a Agência americana para o Desenvolvimento Internacional disse ter angariado cerca de 400 milhões de dólares através de parcerias com o sector privado.
O exemplo Mozal
Na província de Boane, no sul de Moçambique, as mulheres aglomeram-se à porta de uma clínica gerida pela Jhpiego, uma organização de saúde sem fins lucrativos, apoiada financeiramente pela Mozal, uma companhia de alumínio. Boane tem uma incidência de VIH-SIDA de 20 por cento (quase o dobro da média nacional).
Leonardo Chavane, director do projecto Jhpiego, diz que no âmbito do projecto Mozal já foram aconselhadas e testadas mais de 30 mil pessoas nos últimos 12 meses, recorrendo aos conselheiros comunitários, de forma a que eles possam fazer a diferença: "Se cada uma das companhias que trabalham em Moçambique escolher um ou dois distritos apoiar o trabalho que lá se faz isso seria óptimo”, afirma.
Mas o envolvimento do sector privado está a ser vigiado pelas entidades que fiscalizam as ajudas (muitas preocupadas que esta ajuda seja explorada em nome dos lucros marginais e da expansão dos mercados).
Nick Dearden, director do Movimento do Desenvolvimento Mundial, é bastante crítico no que toca a empresas como a Mozal, que têm benefícios fiscais brandos por parte do Governo moçambicano.
“A quantidade de riqueza perdida devido à evasão fiscal e da repatriação de lucros e por aí fora, torna estas ajudas totalmente mínimas. É dinheiro que está a ser espoliado de países como Moçambique e por isso é um pouco difícil acreditar que as mesmas empresas que tiram o dinheiro de Moçambique se virem e digam «Também vamos proporcionar-vos serviços públicos»”, refere o director daquela entidade.
Onde o sector privado pode de facto destacar-se, dizem muitos em Moçambique, é empregando os locais e incorporando melhores condições de trabalho e ética nos seus modelos de negócio.
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