Brasil • 19 de novembro de 2005
O empresário do setor de transportes Sérgio Gomes da Silva, mais conhecido como Sombra, prestou depoimento na quinta-feira (17) para a CPI dos Bingos. Gomes da Silva negou envolvimento no seqüestro e morte do prefeito Celso Daniel (PT) e no susposto esquema de corrupção em Santo André. Bastante nervoso ele não conseguiu responder todas as perguntas feitas pelos senadores da CPI.
Gomes da Silva foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo acusado de ser o mandante do assassinato de Celso Daniel, em janeiro de 2001. Ele teve prisão preventiva decretada em janeiro de 2005 mais foi solto em julho.
O empresário demonstrou descontentamento com a alcunha "Sombra" que ele ele disse ter-lhe sido atribuída pela imprensa e Ministério Público. Ressaltou que é uma vítima que não teve direito de se defender.
A quebra do sigilo bancário de Sérgio Gomes da Silva revelou que ele fez vários depósitos nas contas bancárias de outras pessoas, entre elas sua ex-esposa, seu ex-sogro e a companheira de Celso Daniel, Ivone Santana. Gomes da Silva explicou que esses depósitos foram empréstimos pessoais a amigos. Em relação aos depósitos feitos em sua própria conta corrente, Sérgio disse que alguns deles foram pagamentos de serviços prestados por sua empresa.
Os senadores perguntaram a Sérgio, sobre o faturamento da sua empresa de segurança na época dos depósitos. Segundo o empresário o faturamento era de aproximadamente R$ 250 mil. Os depósitos feitos nas contas de terceiros somam R$ 182 mil.
Sérgio Gomes da Silva era o motorista do automóvel Pajero blindado que levava o prefeito Celso Daniel na noite do crime. Ele negou que tenha facilitado a acção dos bandidos. Disse que a porta do carro abriu sozinha e que não conseguiu trocar as marchas para colocar o automóvel em movimento e poder fugir com o prefeito.
Sérgio, que já recebeu treinamento em técnicas de segurança pessoal, não conseguiu explicar por que não reagiu, mesmo tendo um revólver em sua bolsa, ou porque os seqüestradores levaram apenas o prefeito e deixaram-no no local, ileso, com a arma e o telefone celular.
Depoimento não convence senadores
Emocionada, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) que já foi integrante do Partido dos Trabalhadores disse que no passado defendeu Sérgio Gomes da Silva porque acreditava na sua inocência. Contudo, após ter analisado a sua movimentação bancária e de ter ouvido as gravações telefônicas feitas pela polícia, disse que não consegue mais acreditar na inocência de Sérgio.
Os senadores disseram que não ficaram convencidos com o depoimento de Sérgio Gomes da Silva e declararam que acreditam que a morte do prefeito foi encomendada por alguém. O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) afirmou: "Foi um depoimento cheio de falhas e contradições que reforça a tese de que houve um crime planejado". E acrescentou: "O depoimento levou a uma conclusão de que o senhor Sérgio era operador de um esquema de corrupção e tráfico de influência em Santo André".
No mesmo dia, antes de Sérgio Gomes da Silva, prestaram depoimento para CPI o ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André, Klinger de Souza, e o empresário do setor de transportes Ronan Maria Pinto, apontados pela CPI como suspeitos na operação do esquema de corrupção em Santo André. Sobre esses depoimentos o relator da CPI declarou: "Não acrescentaram nada porque os dois se empenharam em negar os indícios e até mesmo as evidências que comprometem e que levam à suspeita da formação deste esquema de tráfico de influência".
Intervenções de Suplicy quebram monotonia do depoimento
As intervenções do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) chamaram a atenção por duas vezes.
Na primeira, Suplicy descrevia uma conversa que teve com o filho sobre o seqüestro do prefeito: "Pai, a Pajero passa em cima de um carro. É como um tanque. Passa no que tiver. A Pajeto é capaz de passar por cima de outro automóvel de tão forte que é." Suplicy continuou, e questiou o facto de Sérgio Gomes não ter reagido, apesar de ser treinado em defesa pessoal e de estar com um revólver no momento da abordagem feita pelos bandidos: "Uma pessoa especialista em artes marciais, com experiência de ser segurança, o seu melhor amigo está sendo levado..." Num dado momento, o senador empolgou-se e gritou, assustando alguns dos presentes: "O que aconteceu com a sua presença de espírito de segurança para chegar e falar? Ô espera aí! Mãos ao alto!"
Suplicy observou que se tivesse uma arma e que se a sua colega senadora Heloísa Helena estivesse a ser seqüestrada, nas condições em que ocorreu o seqüestro do prefeito, que ele teria reagido, mesmo que corresse risco de vida.
A segunda interveção de Eduardo Suplicy que provocou alguns risos da comissão, foi quando o senador comentou uma conversa que tivera com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o seqüestro de Celso Daniel. Suplicy disse que conversava sobre o Presidente sobre o facto de os seqüestradores terem assassinado rapidamente Celso Daniel, sem mesmo terem pedido algum resgate em dinheiro. Segundo Suplicy, Lula teria dito que os seqüestradores talvez tivessem se assustado, pelo facto de terem capturado um "peixe grande". Segundo Suplicy Lula fez uma analogia com uma pescaria: "Certo dia por exemplo fui [Lula] pescar no Mato Grosso do Sul. Estava com uma vara pescando e eis que vem um babacu de 35 quilos! Fiquei assustado."
O senador Magno Malta (PL-ES) disse que a CPI "não pode virar história de pescador" e falou que a história contada por Suplicy "é papo de aranha".
Flashes do depoimento
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Ver também
Fontes
- Sérgio não explica movimentação bancária e diz que é "vítima" — Jornal do Senado (Brasil), 18 de novembro de 2005
- Mylena Fiori. Empresário diz não lembrar de detalhes do seqüestro de Celso Daniel — Agência Brasil, 18 de novembro de 2005
- Mylena Fiori. Empresário diz na CPI que não tem elementos para concluir alguma coisa sobre morte de Celso Daniel — Agência Brasil, 18 de novembro de 2005
- Mylena Fiori. Sem habeas corpus, Sombra terá que depor na CPI dos Bingos — Agência Brasil, 18 de novembro de 2005
- Mylena Fiori. CPI dos Bingos toma três novos depoimentos — Agência Brasil, 18 de novembro de 2005
- Mylena Fiori. Relator da CPI dos Bingos vê contradições de Sombra reforçando suspeitas — Agência Brasil, 18 de novembro de 2005
- Sombra diz que é "a vítima" no caso Celso Daniel — Folha de S. Paulo, 18 de novembro de 2005