Cidade do Panamá, Panamá • 5 de maio de 2009
O empresário do setor de supermercados, o opositor Ricardo Martinelli ganhou no domingo, dia 3, com folga as eleições presidenciais do Panamá sobre a adversária governista Balbina Herrera, contrariando a tendência de vitórias de líderes voltados para a esquerda na América Latina, geralmente corruptos e irresponsáveis.
O presidente do Tribunal Eleitoral, magistrado Erasmo Pinilla, informou que Martinelli foi o vencedor "indiscutível" da disputa. A proclamação oficial do resultado será feita somente na quarta-feira.
O presidente Martín Torrijos felicitou Martinelli em uma mensagem e o convidou à sede da presidência, para tratar da transição:
Tenho a certeza e a fé no futuro da nossa pátria.
Martín Torrijos
Após as apurações, Martinelli pediu unidade no país, para o combate à pobreza e à insegurança e propôs governo de união nacional. Pediu inclusive que adversários se unissem ao esforço:
Somos todos panamenhos e temos de mudar esse país para que tenha uma boa saúde, boa educação, bom transporte e boa segurança.
Marinelli
- Vitória
A experiência empresarial do candidato conservador de oposição conquistou os eleitores que estão preocupados com seu sustento em meio à crise econômica global que afetou o recente crescimento do Panamá.
O tribunal eleitoral declarou Martinelli vencedor quando a apuração mostrou uma vantagem inalcançável de 61 por cento dos votos, ante 37 por cento de Balbina Herrera, do partido da situação de centro-esquerda Partido Revolucionário Democrático (PRD).
"Não podemos continuar a ter um país onde 40 por cento dos panamenhos são pobres", disse ele em seu discurso da vitória.
Martinelli, um filho de imigrantes italianos de 57 anos educado nos Estados Unidos, prometeu aumentar o gasto público construindo um trem subterrâneo na Cidade do Panamá e apoiando a habitação popular para estimular a construção civil.
O empresário disse ainda que pretende criar um imposto único, com alíquota de 10 a 20 por cento, para atrair investidores estrangeiros que demandam um sistema fiscal mais claro.
- Derrota
Balbina Herrera já admitiu a derrota e disse que respeitará o resultado, mas não felicitou o adversário. A candidata derrotada prometeu uma oposição responsável, "mas muito enérgica, porque deixamos um país com crescimento econômico, a casa em ordem e com a ampliação do canal (do Panamá) em marcha".
O governo Herrera não conseguiu combater o crime e os preços altos, e Martinelli conquistou a vitória com apoio dos eleitores mais pobres.
Martinelli sucederá em julho o moderado Martín Torrijos, que apoiou Herrera, sob cujo governo o país alcançou taxas de crescimento de até dois dígitos, apoiado principalmente na exploração do Canal do Panamá.
A crise financeira internacional, iniciado em 15 de setembro do ano passado, no entanto, fará com que o Panamá cresça apenas cerca de 3 por cento este ano, segundo analistas, por conta do esfriamento do comércio mundial e também por uma menor demanda do setor de construção, outrora pujante.
O país, que usa o dólar como moeda, sofreu no ano passado a inflação mais alta desde o início da década de 1980.
"A cada 15 dias que eu vou ao mercado o preço da comida está mais caro. Você não consegue mais comprar carne", disse Oreida Sánchez, professora de 36 anos, após votar em Martinelli no bairro de Calidonia, na capital.
- Coalizão
A coalizão de quatro partidos de Martinelli também dominava as eleições de deputados para a Assembléia Nacional. Estava com 37 deputados, frente aos 23 da aliança de Balbina. Os restantes 71 cargos de congressistas em disputa deveriam ir para outros partidos. Foi a quarta eleição geral desde a queda do regime de Manuel Noriega, em 1989.
O futuro presidente, que é conservador, deve assumir o cargo em 1º de julho para um mandato de 5 anos, tem como metas incentivar o investimento estrangeiro e firmar acordos de livre comércio, particularmente com os Estados Unidos, principal parceiro econômico do país. Terá que enfrentar uma economia que retrocederá neste ano, por causa da crise global, após crescer sustentadamente nos últimos cinco anos. Também terá como responsabilidade o projeto de ampliação do Canal de Panamá, previsto para terminar em 2014.
Martinelli, 57 anos, já havia disputado a presidência em 2004, mas na época obteve apenas 5,3% dos votos. Ele é apoiado pelos mais pobres e pelos moradores da periferia da capital, Cidade do Panamá. Já Balbina, 54 anos, ex-ministra da Habitação do atual presidente, Martín Torrijos, era vista com desconfiança por alguns por um passado identificado com o antiamericanismo.
- Esquerda na América Latina
Líderes de esquerda como o venezuelano Hugo Chávez avançaram na América Latina nos últimos 10 anos, mas o Panamá tem uma ligação próxima com os Estados Unidos, que construíram o Canal do Panamá e derrubaram o general ditador Manuel Noriega em 1989. Porém, a esquerda enfrenta crises, com várias denúncias de corrupção entre os dirigentes e até não ter conseguido combater crise econômicas, como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e o próprio Hugo Chávez (Venezuela).
Fontes
- Oposicionista vence eleição no Panamá — Zero Hora, 4 de maio de 2009
- Milionário Martinelli vence eleição presidencial no Panamá [inativa] — Globo.com, 4 de maio de 2009, 08h07min. Página visitada em 5 de maio de 2009
. Arquivada em 6 de maio de 2009 - Após vencer eleições, opositor pede unidade no Panamá [inativa] — Estadão.com.br, 4 de maio de 2009, 12hs30min. Página visitada em 5 de maio de 2009
. Arquivada em 6 de maio de 2009 - Presidente eleito do Panamá promete governar com o povo — Portal G1, 4 de maio de 2009