Brasil • 4 de janeiro de 2006
"Ai dos partidos que estão sendo investigados e assim se comportarem", advertiu ontem (3) durante a reunião da CPI dos Correios, o relator deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), para a possibilidade de haver proteção a parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão, com o objetivo de abafar o caso.
Serraglio disse que a "CPI passa por um júri popular" e que não serão advogados, autoridades ou o relatório final que convencerão as pessoas sobre as conclusões das investigações, mas a própria população, pelo que está vendo ao acompanhar os trabalhos das comissões parlamentares de inquérito, que estão sendo transmitidos pelas emissoras de Rádio e Televisão. O relator disse:
"Nós vivemos hoje praticamente um grande júri popular. É diferente quando alguém depõe na Justiça numa sala e depois outra pessoa transmite o que foi ouvido.Hoje, o julgamento é diferente. Há um júri popular, aberto, franco e os juízes estão em casa, assistindo. E quando senta uma testemunha aqui, a pessoa viu, e captou o que foi dito".
O deputado Osmar Serraglio resolveu fazer essas observações depois que foi noticiado pela imprensa que um parlamentar governista apresentaria um relatório paralelo, com conclusões diferentes do relator, ao final dos trabalhos da CPI.
"Não será o relatório que vai convencer ninguém, o convencimento está sendo paulatino. Daí essa surpresa da população quando se diz que não existem provas," lembrou Serraglio.
O relator disse que alguns membros do governo dizem que não há provas porque não acompanham as reuniões da comissão, ao contrário da população em geral que, segundo ele, assiste assiduamente aos trabalhos.
O relator da CPI lembrou que os dados no relatório parcial que levaram à conclusão da existência de mensalão foram conseguidos matematicamente por um sistema que tabulou dados, padrões de conduta e hábitos que se repetiram, ajustados a períodos. Além disso, foram considerados as confissões que os próprios líderes de partidos fizeram, segundo ele.
Osmar Serraglio considerou positivas as recentes declarações do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando a entender que ele reconhece a existência de erros praticados pelo Partido dos Trabalhadores.
Osmar Serraglio disse que o relatório final será feito de acordo com as informações levantadas pela CPI e que aquele que for contrário ao relatório terá que explicar-se perante a população. O relator também perguntou como é possível fazer um relatório paralelo sobre um documento que ainda não existe, uma vez que ele apresentou apenas análise parcial das investigações.
Serraglio reconheceu que no relatório parcial apresentado no final do ano passado houve omissões e sendo relatados apenas alguns aspectos mais expressivos das investigações. Contudo, garantiu que essas omissões não foram intencionais.
O relator reclamou das dificuldades enfrentadas pela CPI que faz com que o ritmo dos trabalhos estejam lentos no início deste. Um dos depoentes que deveria comparecer à CPI faltou com a justificativa de que não recebeu o ofício de convocação dentro do prazo necessário. Há ainda alguns servidores que trabalham para a CPI que não voltaram das férias. Serraglio disse que acredita que na próxima semana o ritmo normal dos trabalhos da CPI seja regularizado e que a meta de terminar até o próximo mês de abril seja conseguida.
Fontes
- Silvia Gomide, Gorette Brandão. Serraglio diz que CPI passa por júri popular — Agência Senado (Brasil), 3 de janeiro de 2006
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