Agência Brasil

Brasília, Distrito Federal, Brasil • 15 de dezembro de 2011

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O primeiro-ministro da França, François Fillon, chegou ontem ao Brasil. A ideia é ampliar a cooperação entre os dois países e a parceria estratégica no setor de defesa. Fillon reune hoje com a presidenta Dilma Rousseff. Uma das propostas da França inclui a participação na construção de um dos porta-aviões do projeto de reaparelhamento da Marinha brasileira.

Fillon viaja ao Brasil com uma delegação de 40 pessoas, das quais 28 são empresários, além de parlamentares e três ministros de Estado. O primeiro-ministro tem uma agenda de quatro dias em território brasileiro.

De acordo com assessores de Fillon, com base no acordo assinado em 2009 entre a França e o Brasil para venda de armamento avaliado em U$ 12,3 bilhões, o primeiro-ministro vai demonstrar interesse em outros contratos no setor, como a participação na construção do futuro porta-aviões brasileiro. A empresa DCNS fez uma proposta para o design do futuro navio-aeródromo.

O governo da França também está interessado no projeto brasileiro de renovação da frota de fragatas e de patrulhas oceânicas e na fiscalização das fronteiras marítimas. A Aeronáutica civil é outro setor estratégico, e um dos objetivos é intensificar as relações nessa área.

O principal ponto das discussões é a compra dos 36 caças Rafale para renovação da frota brasileira. De acordo com o especialista em Defesa, Nelson During, o Rafale também está na disputa por um contrato da Marinha, que inclui 48 aviões.

No âmbito nuclear, o Brasil pretende adquirir até 2030 quatro novos reatores, além dos três que já existem nas usinas de Angra dos Reis. A França, conhecida pela sua experiência no desenvolvimento de energia nuclear para fins civis, pretende aproveitar esse interesse brasileiro para negociar.

A crise na Europa também terá destaque na visita. A questão será abordada durante um seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que contará com a participação de empresários dos dois países. O Brasil é o país não-europeu que mais recebe investimentos diretos da França. Cerca de 500 empresas francesas estão instaladas no país.

Durante a visita do primeiro-ministro francês, também serão assinados diversos acordos bilaterais. Um deles, ligado ao programa Ciências sem Fronteiras, prevê a formação de cerca de 10 mil estudantes bolsistas no país. Também há acordos nas áreas de tecnologia da informação e Previdência Social.

A agenda de Fillon ainda inclui a inauguração de um monumento em homenagem às vítimas do Voo AF 447, que caiu na noite de 31 de maio de 2009 no Oceano Atlântico. A cerimônia deve ocorrer sexta-feira (16), no jardim Parque dos Dois Irmãos, no Leblon. Ainda no Rio de Janeiro, Fillon deverá visitar o teleférico que liga os seis morros do Complexo do Alemão, recentemente ocupado pela polícia. O primeiro-ministro volta para a França no sábado (17).

São Paulo

Em visita à cidade de São Paulo, o primeiro-ministro francês, François Fillon, disse hoje (15) que o país está pronto para iniciar um diálogo “franco” sobre o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Fillon ressaltou, no entanto, que os países europeus não vão abrir mão de apoiar seus agricultores (uma das principais questões que hoje travam o avanço do acordo), mas destacou que o protecionismo não é um caminho aceitável.

“Sabemos que o que agravou a crise dos anos 30, que é bastante comparável com a crise atual, o que a tornou catastrófica, e que acabou levando para todas as desordens, foi a volta para o protecionismo”, disse, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O primeiro-ministro ressaltou que não há fundamento em dizer que há um “bloqueio” por parte dos europeus em negociar a abertura do mercado agrícola. Segundo Fillon, a agricultura é estratégica para a segurança de abastecimento do ponto de vista sanitário, e a Europa não irá abrir mão dela.

“Nós estamos prontos para um diálogo franco e transparente, mas, além da parte agrícola, temos de falar da parte industrial, o comércio, os serviços, o acesso aos mercados públicos. Estou convencido de que nós vamos encontrar uma solução aceitável”, acrescentou.

Há sete meses, as negociações entre o Mercosul e a União Europeia foram retomadas. Desde 2004, as conversas estavam paralisadas devido à falta de progresso na Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC), que prevê a criação de regras para o comércio global. Para os europeus, facilitar a exportação de produtos agrícolas do Mercosul pode prejudicar seus agricultores.

O primeiro-ministro fez referência ainda à participação da França nas forças de coalizão que fizeram uma intervenção militar na Líbia. Fillon defendeu a ação e disse que a medida foi baseada na proteção das populações e na defesa de um processo democrático nascente.

“Eu conheço as reticências que foram emitidas pelas autoridades brasileiras, durante a intervenção militar que conduzimos na Líbia. Entendo as reticências, mas também gostaria que entendessem as nossas”, disse.

Em 21 de setembro, em discurso na abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidenta Dilma Rousseff se colocou contrária às intervenções militares ocorridas nos países do Oriente Médio e do Norte da África, envolvidos em conflitos civis desde o ano passado, em uma série de revoltas conhecida como Primavera Árabe.

"Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso da força deve ser sempre a última alternativa", destacou Dilma ao discursar.

Brasília

O primeiro-ministro francês disse hoje, após encontro com a presidenta Dilma Rousseff, que seu país está determinado a controlar as finanças públicas, conforme acordo firmado no último dia 9, em Bruxelas. Segundo Fillon, que esteve também em São Paulo nesta quinta-feira, a França está empenhada em investir na retomada do crescimento europeu.

Ele disse que, na conversa com Dilma, a crise econômica internacional foi um dos temas, em particular, a crise da dívida enfrentada atualmente por alguns países da zona do euro.

Em declaração conjunta após o encontro, a presidenta reafirmou que o Brasil pretende contribuir, se necessário, com recursos para o FMI, mas destacou que isso depende da implementação de reformas que garantam maior participação de países emergentes nas decisões da instituição. "Reafirmei a disposição do governo brasileiro de realizar, se necessário, novos aportes de recursos ao Fundo Monetário Internacional, desde que tenhamos garantia de que a reforma de 2010 do fundo será implementada."

O primeiro-ministro francês elogiou os avanços do Brasil nas áreas econômica e social e concordou com o pleito da presidenta de maior influência do país nas instâncias internacionais. "Uma influência nova do Brasil no cenário internacional é legítima."

Dilma falou também sobre os resultados da Conferência do Clima, em Durban, África do Sul, encerrada no último domingo (11). Ela disse que o balanço foi positivo e reconheceu o esforço dos países desenvolvidos para reduzir as emissões de gases, mas ressaltou que ainda é preciso avançar nessa questão.

"Há ainda muito trabalho pela frente. Temos até 2015 para negociar um pacto climático sólido, que respeite os princípios das responsabilidades comuns, porém, diferenciadas. Ao tratar de medidas de mitigação de mudanças no clima, ressaltamos a importância da diversificação de fontes de energia", concluiu.

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