Brasil • 9 de maio de 2005
Por decisão do Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fica suspensa por enquanto a distribuição da Cartilha do Politicamente Correto. A cartilha foi elaborada pelo Secretaria Nacional de Direitos Humanos e procurava banir o uso de palavras consideradas ofensivas.
A cartilha foi mal recebida por algumas pessoas da sociedade, como o escritor João Ubaldo Ribeiro, que perguntou se a cartilha não seria o "primeiro passo para instituir uma nova língua" no Brasil, característica de uma era autoritária. [1]
Os criadores da cartilha defendem-na e dizem que o objetivo é apenas tirar de circulação termos que são discriminatórios contra negros, mulheres, homossexuais, portadores de deficiência física e outros grupos sociais.
Alguns vocábulos citados na cartilha:
- Coisa ficou preta: forte conotação racista contra os negros, pois associa o preto a uma situação ruim.
- Anão: são vítimas de um preconceito peculiar: o de sempre serem considerados engraçados. Não há nada especialmente engraçado. O fato de ser anão não afeta a dignidade.
- Baianada: atribui aos baianos inabilidade no trânsito. É um preconceito de caráter regional e racial, como os que imputam malandragem aos cariocas, esperteza aos mineiros, falta de inteligência aos goianos e orientação homossexual aos gaúchos.
- Barbeiro: xingamento para motorista inábil. Ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar a barba.
- Beata: deprecia mulheres que vão com muita freqüência à missa.
- Cabeça-chata: termo insultuoso e racista dirigido aos nordestinos, cearenses em especial.
- Comunista: contra eles foram inventadas calúnias e insultos, para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, de caráter genocida, como durante o regime nazista na Alemanha.
- Funcionário público: depois de sistemáticas campanhas de desprestígio contra o serviço público, os trabalhadores dos órgãos e empresas públicas preferem ser chamados de servidores públicos, para enfatizar que servem ao público mais do que ao Estado.
- Homossexualismo: é mais adequado usar homossexualidade. Homossexualismo tem carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou movimento político.
- Ladrão: termo aplicado a indivíduos pobres. Os ricos são preferencialmente chamados de corruptos, o que demonstra que até xingamentos tem viés classista.
- Negro: a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta.
- Palhaço: o profissional que vive de fazer as pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade.
- Sapatão: usada para discriminar lésbicas,mulheres homossexuais. Entendidas e lésbicas são termos mais adequados.
- Veado: uma das referências mais comuns e preconceituosas aos homossexuais masculinos. Expressões adequadas são gay, entendido e homossexual.
- Xiita: um dos ramos do Islamismo se tornou no Brasil termo pejorativo que caracteriza militantes políticos radicais e inflexíveis.
Fontes
- Governo suspende a cartilha do "politicamente correto" [inativa] — Agências, SDH, PCdoB, 7 de maio de 2005. Página visitada em 9 de maio de 2005
. Arquivada em 11 de maio de 2005
- Suspensa a cartilha “politicamente correta” — O Estado de São Paulo, 7 de maio de 2005
- Acaba no lixo cartilha do "politicamente correto" [inativa] — ABC Politiko, 7 de maio de 2005. Página visitada em 9 de maio de 2005
. Arquivada em 5 de março de 2016
- Lula usa termos "pejorativos" vetados por cartilha — Terra, 6 de maio de 2005
- Cartilha do Politicamente Correto [inativa] — Síndrome de Estocolmo, 4 de maio de 2005. Página visitada em 9 de maio de 2005
. Arquivada em 9 de março de 2021