19 de setembro de 2019

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A secretaria de Estado de Segurança Pública do Paraná e o Ministério da Justiça anunciaram nesta quinta (19) a identificação do assassino de uma menina de nove anos ocorrido em Curitiba (capital do Paraná) no final de 2008. A elucidação do crime foi possível graças a comparação do DNA encontrado no corpo da menina na época do crime e com o assassino no Banco Nacional de Perfil Genético, mantido pelo Ministério da Justiça.

A integração da base de dados entre os Estados do Paraná e o São Paulo com a cidade de Brasília (no Distrito Federal) permitiu a identificação, que ocorreu depois de um match genético de 23 características entre 23 possíveis, garantindo 100% de certeza de que o assassino da menina é o autor do crime. Apesar da identificação do assassino, o acusado já está preso desde 2016, mas por outros crimes.

A menina em questão é a Raquel Genofre, estudante que foi encontrada dentro da mala, numa Rodoferroviária localizada em Curitiba no dia 5 de novembro de 2008, depois de dois dias desaparecida, com sinais de estupro. O brutal assassinato teve grande repercussão nacional e mobilizou polícias de outros estados pra encontrar o assassino, pois o sêmen foi encontrado na área vaginal.

O assassino identificado é o Carlos Eduardo dos Santos, que na época do crime, tinha 43 anos. Agora com 54 anos, está preso na Penitenciária II de Sorocaba (no interior do Estado de São Paulo) desde 2016 por outros crimes. Foi condenado a 22 anos de prisão por estelionato, estupro, roubo e falsificação de documento. Os crimes ocorreram em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O delegado-geral-adjunto da Polícia Civil, Riad Farhat, responsável pela entrevista coletiva e o anúncio do crime solucionado, disse que de acordo com as investigações, na época do crime, Carlos Eduardo dos Santos morava na Rua Alferes Poli (Centro de Curitiba), a 750 metros de distância do Instituto de Educação, onde a Raquel Genofre estudava e trabalhava como porteira em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O delegado Riad Farhat disse ainda que o criminoso cometeu seu primeiro crime de abuso sexual em 1985, quando tinha 20 anos.

Elucidamos esse crime emblemático hediondo que chamou a atenção do Brasil todo. Esse homem tem uma ficha gigantesca de crimes cometidos em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande dos Sul. Tem passagens por estelionato, roubo, estupro.

Delegado-geral-adjunto da Polícia Civil, Riad Farhat

O secretário de Estado de Segurança, coronel Rômulo Marinho Soares, disse que a polícia ainda não sabe as circunstâncias do crime e por isso, vai pedir a remoção do criminoso para Curitiba, para que seja feita a reconstituição do crime.

Começamos a partir da agora várias etapas para encaminhar o inquérito, que será coordenador pela secretaria em conjunto com a delegacia de homicídios. A Polícia Civil vai peticionar ainda nesta quinta um pedido na Vara de Execuções Penais que executa as sentenças de Carlos Eduardo dos Santos para que ele seja transferido para o Paraná e depois ouvido pelo delegado responsável pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Marcos Fernando da Silva Fontes.

Secretário de Estado de Segurança, coronel Rômulo Marinho Soares

Os pais de Raquel, Maria Cristina Lobo Oliveira e Michael Genofre, acompanharam o anúncio da secretaria de Estado de Segurança. Em entrevista à imprensa, o pai de Raquel disse que espera Justiça e que ainda tem muitas perguntas.

A gente ainda não tem muitas informações. Vamos conversar com o delegado. Por um lado é um alívio, mas por outro, nós precisamos ver a Justiça ser feita. Nós tivemos momentos de muita desesperança, mas agora chegamos num novo momento: esperamos saber porque, como, de que forma, porque ele escolheu a Raquel, de que forma.

Michael Genofre, pai da Raquel

Histórico

Na tarde do dia 3 de novembro de 2008, a estudante de nove anos Raquel Genofre desapareceu ao caminho de casa. Seu desaparecimento foi alertada pela polícia no início da noite pelos pais dela que estanharam a não chegada dela, sendo seguido alertado pela imprensa horas depois e no dia seguinte (4 de novembro).

Às 2 horas e 30 minutos da madrugada do dia 5 de novembro, um pai de família indígena que passava com seus familiares na Rodoferroviária em Curitiba, que estavam no local há duas semanas, escolheu debaixo da escada do setor de transporte estadual da Rodoferroviária para dormir, encontrou mala aparentemente abandonada.

Como a mala estava atrapalhando o local onde os indígenas dormiriam, tentaram arrastar do lugar. Ao mover, estranharam o peso e o pai chamou fiscal da Urbanização de Curitiba (Urbs), que resolveu abrir a mala. Ao ver o que tinha dentro da mala, o fiscal e o grupo de familiares se assustaram com o corpo de uma menina morta.

Imediatamente, o funcionário da Urbs acionou a Polícia Militar (PM), que chamou o Instituto Médico Legal (IML), que verificou que a menina vestia a camiseta do uniforme de um colégio (Instituto de Educação) e envolvida dum lençol, apresentava sinais de estrangulamento e ensaguentada, que ajudou a identificação dela.

A imprensa chegou em seguida no local para cobrir o brutal assassinato que posteriormente ganha repercussão nacional de uma menina desaparecida há quase dois dias: a estudante de nove anos Raquel Genofre, dentro duma mala e embaixo da escada, que posteriormente foi chamado de "o Crime da Mala de 2008".

Exames médicos realizados no IML divulgados pela imprensa informaram que a menina sofreu violência sexual e marcas de mordidas antes de ser morta, além de encontar sêmen na área varginal. Segundo o IML, a causa da morte foi asfixia e o horário da morte foi entre 24 e 36 horas antes da entrada do corpo no Instituto, o que supõe que ela tenha morrido no dia 4, menos de 24 horas depois do desaparecimento.

No enterro da Raquel Genofre, atraiu milhares de pessoas e estudantes do Instituto de Educação, que pedriram a punição do responsável do crime. Na primeira fase, a polícia civil investigou os contatos dela na internet, no site de relacionamentos Orkut (extinto em 2014) que ela apresentava a idade de 20 anos (o site permite apenas maiores de 18 anos, mas há casos de menores de 18 usando perfis) e o e-mail dela. Na segunda fase, os contatos dela no colégio, familiares e amigos.

No entanto, o caso ficou comprometido por causa do sumiço das sacolas que estavam envolvidas na vítima no local do crime (desconhecidos descartaram as sacolas que seria alguma prova para encontrar alguma digital no lixo), a falta de testemunhas e câmeras de segurança nos locais (as câmeras na Rodoferroviária de Curitiba estavam sem funcionamento).

Em 2009, o caso esfriou depois que centenas de presos ou meros suspeitos do estupro em outros estados brasileiros, tiveram o exame de DNA comparado com o sêmen encontrado na vítima e todos deram negativo. Desde então, familiares e amigos da Raquel Genofre pediram o empenho da polícia no caso e anualmente, reuniram para lembrar do caso.

No entanto, nos anos seguintes, crimes de homicídios de grande repercussão local e nacional em Curitiba e região metropolitana não foram solucionados, o que aumentou a possibilidade do caso não ter solução. Apesar disso, o caso se manteve aberto para busca de novos suspeitos por causa do sêmen coletado. Havia a possibilidade de haver criminoso sexual em série atuando na cidade, mas isto nunca foi comprovado.

Em 2019, após a posse do novo governo (Jair Bolsonaro) e novo uso de compartilhamento de DNA em estados (defendido por ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro) foi colocado em prática. Desde então tem resolvido os crimes que até então eram dados como não solucionados. O caso da Raquel Genofre foi solucionado quase 11 anos depois do crime.

Fontes