25 de junho de 2021

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Quantas das mais de 500 mil mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas no Brasil? De acordo com Pedro Hallal, epidemiologista e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, quatro em cada cinco mortes pela doença no país eram evitáveis caso o governo federal tivesse adotado outra postura — apoiando o uso de máscaras, medidas de distanciamento social, campanhas de orientação e ao mesmo tempo acelerando a aquisição de vacinas. Ou seja, de acordo com suas estimativas, pelo menos 400 mil pessoas não teriam morrido pela pandemia. Ele fez a afirmação nesta quinta-feira (24) durante audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, da qual também participou Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil e representante do Grupo Alerta.

— Quatro de cada cinco mortes teriam sido evitadas se estivéssemos na média mundial. Se nós estivéssemos na média, como um aluno que tira nota média na prova, nós teríamos poupado 400 mil vidas no Brasil — disse Pedro Hallal.

Senadores governistas, no entanto, criticaram essa estimativa.

— É superficial esse tipo de afirmação, com tanta certeza, sobre a possibilidade de se evitar o número de mortos com essa ou aquela política. O coronavírus não respeita barreiras políticas, ideológicas, econômicas ou sociais. [...] O que ataco é a pesquisa, que não serve de parâmetro para nada em razão dos dados — declarou o senador Marcos Rogério (DEM-RO).

Já Eduardo Girão (Podemos-CE) afirmou que seria importante que o levantamento considerasse outros países, para permitir comparação.

— Erros nós tivemos no mundo inteiro — argumentou. 

Além disso, Girão questionou o cálculo utilizado nas pesquisas para “depurar qual é a verdade”. Segundo ele, a CPI é uma guerra de narrativas. 

O cálculo do pesquisador da Universidade Federal de Pelotas leva em consideração que os seguintes dados: 2,7% da população mundial vivem no Brasil, mas o país concentra 13% das mortes. E projeta quantas mortes por covid-19 teriam ocorrido no Brasil se o país tivesse tido um desempenho dentro da média mundial. 

— Os cientistas não estão 100% certos sempre, estar 100% certo é muito difícil, mas o presidente errou 100% na condução da pandemia, e isso também é muito difícil — disse Pedro Hallal.

Segundo o pesquisador, só a demora na aquisição de vacinas e o ritmo lento da imunização resultaram em ao menos 95 mil mortes.

— Nós fizemos uma análise que estimou que especificamente o atraso na compra das vacinas da Pfizer e da CoronaVac resultou em 95,5 mil mortes. E, logo depois, outros pesquisadores analisaram os dados não especificamente dessas vacinas, mas o ritmo da campanha de vacinação que teria sido, caso tivéssemos adquirido [a tempo], e eles estimaram 145 mil mortes especificamente pela falta de aquisição de vacinas tempestivamente pelo governo federal — relatou.

Os dados apresentados por Hallal convergem com levantamentos do Grupo Alerta, formado por entidades da sociedade civil — como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a Oxfam Brasil, a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) e a Anistia Internacional Brasil. Sem considerar o impacto da vacinação, esse grupo aponta, em outro estudo, que a pandemia provocou, em um ano, 305 mil mortes acima do esperado no Brasil. E que ao menos 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas com medidas não farmacológicas, testagem e rastreamento.

— A gente poderia ainda no primeiro ano de história da pandemia ter salvo 120 mil vidas. E não são números. São pais, são mães, são irmãos, são sobrinhos, são tios, são vizinhos. A gente poderia ter salvo pessoas se uma política efetiva de controle, baseada em ações não farmacológicas, tivesse sido implementada — ressaltou Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil e representante do Grupo Alerta.

Fontes