10 de janeiro de 2011
Milhares de moradores do Sudão do Sul já votaram nos primeiros dos sete dias de consulta popular, que pode culminar na divisão do país em dois. Na área da futura fronteira, pelo menos 30 pessoas morreram na região de Abyei, rica em petróleo, segundo a BBC. Foram três dias de enfrentamentos, entre nômades árabes e integrantes de tribos sulistas. A Organização das Nações Unidas (ONU) também confirmou ter recebido relatos de violência.
Como o Sul tem altos níveis de analfabetismo, as cédulas de votação trazem dois desenhos, para serem assinalados pelo eleitor: uma mão simboliza a independência do sul; duas mãos dadas indicam preferência por manter o Sudão unificado.
As reiteradas declarações do presidente Omar Al Bashir de que irá aceitar e seguir o resultado, seja ele qual for, aumentou a expectativa de que o processo fosse pacífico. Mas caso o Sul efetivamente venha a separa-se, muito vai ter de se negociar antes da decisão ser completamente efetivada.
Um dos pontos mais complicados é a demarcação da fronteira.“Só sabemos o que é o Norte e o que é o Sul de forma geral”, diz Aly Jamal, doutor do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique, e especialista em conflitos africanos. “Mas uma diferença de 200, 300 metros pode ser motivo de discussão depois, percebendo que o poço de petróleo ou a mina de tantalita esteja para o outro lado”, explica.
A tantalita é um mineral composto de ferro, manganês, nióbio e tântalo, usado na indústria eletrônica, vidro e aço, cujas maiores jazidas estão nos estados brasileiros de Roraima e Amapá.
Confirmando-se a esperada separação do Sul, a região ficaria com a grande maioria das reservas de petróleo já descobertas no Sudão. Mas as estruturas de escoamento e refino, bem como a saída para o mar, ficam no Norte.
A ideia inicial era realizar, ao mesmo tempo, uma outra consulta popular simultaneamente, exclusiva sobre o futuro da região de Abyei, que fica exatamente na fronteira. Mas ela foi adiada, por causa tensão que a decisão vai causar.
Aly Jamal justifica sua preocupação citando o caso da Eritreia. O país foi o único surgido na África depois da criação da União dos Estados Africanos, em 1963 – que decidiu que, após o processo de independência, os países manteriam suas fronteiras, para evitar choques. “Em 1987, oito anos depois da separação, Eritreia e Etiópia envolveram-se em conflitos violentos por causa de uma porção de cadeia de montanhas, que alguém dizia que era importante sob o ponto de vista estratégico”, lembra. “Imagino o que pode acontecer onde há riquezas minerais comprovadas.”
Outros pontos que não foram esclarecidos antes do referendo é a cidadania dos moradores do Norte que atualmente vivem no Sul (e vice-versa), as regras de negócios entre os dois novos países e a divisão dos atuais ganhos com o petróleo.
Também é incerto o que vai acontecer no campo político no Norte. A única oposição atuante ao governo está no Sul do país. O partido no poder teria quase nenhuma resistência para impôr a lei islâmica, como já adiantou o presidente Omar Al Bashir. O Norte do Sudão tem maioria muçulmana, e o Sul é majoritariamente cristão.
Fontes
editar- Eduardo Castro. Pelo menos 30 pessoas morrem na região de Abyei no Sudão [inativa] — Agência Brasil, 10 de janeiro de 2011. Página visitada em 10 de janeiro de 2011
. Arquivada em 13 de janeiro de 2011
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |