Agência VOA

Moçambique enfrenta sérios desafios na divulgação de campanhas de saúde. Mais de 40 línguas locais e mais de metade da população analfabeta dificultam o passa a palavra.

18 de novembro de 2014

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Com mais de metade da população analfabeta e o seu povo a falar mais de 40 línguas locais, Moçambique faz face a desafios colossais para disseminar informação sobre saúde entre a população, mas o país está a lançar novas campanhas nacionais de saúde, e os especialistas em comunicação estão a tornar-se mais entendidos na forma de fazer chegar informação aos moçambicanos.

Fernando de 14 anos sai de uma unidade móvel onde se fazem circuncisões masculinas em Xinavane, puxando o colarinho da camisa até às orelhas, acenando de forma confiante aos amigos que exibem um olhar de aprovação.

É um procedimento rápido, que pode ajudar a reduzir o risco de doenças sexualmente transmissíveis e o VIH em Moçambique. Mas a circuncisão masculina é algo difícil de obter aceitação.

Há cartazes pendurados na unidade móvel onde as enfermeiras fazem cerca de 50 circuncisões masculinas por dia. Tem mensagens como “Eu tinha receio mas tomei a decisão acertada” e “Circuncisa-te e usa o preservativo”.

Os rapazes que estão à espera dizem ter aprendido sobre os benefícios da circuncisão dos professores, ou que foram as mães que os levaram depois de amigos ou líderes tradicionais da comunidade lhes terem falado sobre o assunto.

Os líderes comunitários são a chave para passar mensagens de saúde diz Patrick Devos, especialista em comunicação que trabalha em organizações e o ministério da saúde de Moçambique: “Acreditamos que para que haja uma verdadeira mudança comportamental, a comunicação tem que ter lugar no diálogo com a comunidade. Percebemos de investigação formativa que “eu sinto-me limpo” “sinto-me saudável, mais atraente” são tipo de coisas que atraem os jovens rapazes. É sair, ir falar com as pessoas, ter discussões de grupo. Depois moldamos as nossas mensagens em redor de coisas que os podem atrair.”

Cartazes e panfletos com gráficos ilustrados explicando a circuncisão masculina, VIH e malária são idealizados e testados em conjunto com as comunidades para criar uma mensagem eficaz baseada na língua e no imaginário que entendem.

Num país onde a tradição de contar historias é forte, testemunhos em vídeo e em áudio provaram ser extremamente poderosos em facilitar o debate e em desencadear mudança social, diz Devos.

“Neste momento, o alcance da televisão aumenta rapidamente mas a rádio continua a ser extremamente poderosa sobretudo se quisermos traduzir os anúncios para línguas locais", explica.

A rádio comunitária desempenha um papel vital em transmitir mensagens de saúde num país onde apenas 5% da população tem acesso à Internet e mais de metade da população é analfabeta. Apesar de cerca de 50 por cento dos moçambicanos ter uma televisão, mais de 90 por cento tem acesso ao rádio.

Acção da Rádio Comunitária de Xai-Xai

A imprensa escrita tem falta de dinamismo para tratar com profundidade questões de saúde, dizem os grupos de saúde. A circulação é limitada às cidades da zona sul e raramente um jornalista é incumbido de fazer cobertura de temas de saúde. Teresa Zita na rádio comunitária de Xai-Xai.

A rádio comunitária no Xai-Xai, 200 quilómetros de Maputo, a capital, chega a cerca de 3.500 pessoas num raio de 70 quilómetros. Ali recrutam voluntários como apresentadores de rádio devido à limitação de recursos. Teresa Zita, coordenadora de programas diz que os dramas radiofónicos com mensagens de saúde e debates longos onde as pessoas podem enviar uma mensagem de texto ou conversar com um especialista em saúde são parte da programação regular.

“Organizamos diferentes tipos de debates. Por exemplo no próximo vamos falar do vírus Ébola e convidamos os médicos a vir e falar sobre o tema. As pessoas podem telefonar e perguntar, por exemplo, como se sabe se temos cancro da cervical, e outros tipos de perguntas. Os médicos por vezes deixam panfletos com informação e assim nós podemos informar os ouvintes", conta Teresa Zita.

Campanha contra a Malária

Do outro lado da cidade, as mulheres olham divertidas para equipas vestidas com uns macacões bege e capuz condizente encarregues de ir de porta-em-porta como parte de uma iniciativa do Centro de Controlo de Doenças e do Governo.

A iniciativa envolve desinfestar com insecticida as paredes do interior das casas para matar ou controlar mosquitos e reduzir a taxa de malária/paludismo.

Os estranhos fatos dão credibilidade às equipas de informação, escolhidas dentro das comunidades para disseminar informação sobre efeitos do uso do insecticida, e familiarizando as pessoas para as equipas de técnicos que vão aparecer para fazer o trabalho.

Apesar de ser árduo e levar imenso tempo, muitos projectos de saúde estão a descobrir que dar informação de porta-em-porta assegura que aqueles a quem a media tradicional não chega, recebem informação que lhes pode salvar a vida.

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