29 de julho de 2020
O assunto começou em novembro de 2019, quando um grupo de pastores de Angola se manifestou contra a maneira pela qual a Igreja Universal do Reino de Deus (UCKG), uma das maiores congregações evangélicas do mundo, administrava seu ramo angolano. Naquela época, os pastores angolanos assinaram um manifesto acusando seus colegas brasileiros de corrupção, racismo e denunciando sua política de vasectomia forçada.
Em junho de 2020, um grupo de pastores angolanos formalmente rompeu os laços com a Igreja Universal do Brasil, formando a Igreja Universal de Angola. O grupo alega ter assumido o controle de 42% dos templos do país.
A BBC Brasil informou que o ramo angolano da Igreja Universal reagiu com uma declaração oficial sobre os eventos: "Alguns templos no país foram invadidos por um grupo de ex-pastores que se afastaram da Igreja por desconsiderar a conduta moral que, em alguns casos, é criminosa e contra os princípios cristãos exigidos pelo ministério de adoração".
A polícia angolana foi chamada para reforçar a segurança nas igrejas em várias cidades e as autoridades angolanas iniciaram uma investigação sobre os eventos.
No dia 23 de junho, o pastor Agostinho Martins da Silva, porta-voz do Comitê Fundador da Igreja Universal em Angola, disse ao Jornal de Angola: "Os angolanos ainda estão testemunhando atos de discriminação racial, castração, abortos forçados das esposas de pastores angolanos e a perda do poder da assembléia geral de pastores. Tivemos uma reunião com as lideranças brasileiras, que prometeram, sem sucesso, promover reformas relacionadas ao racismo, ao fim da autonomia, como a inclusão de pastores angolanos e suas respectivas esposas em importantes cargos da igreja. Os deste país são excluídos e os do exterior ocupam seu lugar em nosso território. Há pastores angolanos neste trabalho há mais de 18 anos, que têm 40 anos e foram impedidos de se casar porque se recusaram a fazer uma vasectomia".
O grupo afirma que o ramo angolano da Universal será assumido pelo bispo Valente Bezerra Luiz, vice-presidente da Igreja.
Em 26 de junho passado, os dissidentes declararam que as igrejas seriam fechadas em todo o país devido à falta de segurança para os pastores e para as congregações. Num vídeo publicado no Twitter em 28 de junho, um pastor angolano alega que os brasileiros estão promovendo atos que violam os direitos humanos e a Constituição da República Angolana: "Pastores da Igreja Universal são expulsos dos templos angolanos. Eles estavam preparados para sair e muitos estão na rua. Estou esperando que eles voltem para o Brasil", escreveu.
Em 6 de julho, a Agência Pública, uma organização de jornalismo investigativo do Brasil, destacou que Edir Macedo atribuiu o “golpe” em Angola a dois ex-bispos brasileiros, os ex-bispos João Leite e Alfredo Paulo. Estimava-se, na época, que os angolanos haviam assumido o controle de 220 dos quase 300 dos templos da instituição no país nas duas semanas anteriores.
Uma ladainha de problemas
Fundada no Brasil no final dos anos 70, a Universal chegou à Angola no início dos anos 90 e hoje é uma das maiores congregações religiosas do país africano. A Universal possui a RecordTV, uma rede de comunicações brasileira com filiais em 150 países, incluindo Angola.
Em 2013, a Universal teve suas atividades suspensas em Angola durante fevereiro e março, depois que dez pessoas morreram de asfixia depois de serem esmagadas durante um culto no Estádio da Cidadela, que estava com a capacidade lotada.
Em 2019, a pesquisadora Teresa Cruz e Silva relatou que a Igreja Universal entrou em Moçambique em 1992 em um contexto de crise após a guerra civil, o que contribuiu para o grande número de pessoas que ingressaram na igreja. Da mesma forma, sabe-se que outros conflitos estão ocorrendo em outros países africanos de língua portuguesa, como São Tomé e Príncipe.
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Esta notícia é uma transcrição parcial ou total do Global Voices. |
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