28 de julho de 2006
O presente conflito no Oriente Médio tem algumas diferenças de outros que colocaram em lados bem opostos árabes e israelenses. Uma parte considerável dos árabes, inclusive libaneses, desaprovou o seqüestro de dois soldados israelenses feito pelo Hizbollah. A maioria desses árabes considerou precipitada e irresponsável a ação do Hizbollah, que ela só serve aos interesses do Irã e da Síria, e que ela pode trazer mais prejuízos do que ganhos para os povos árabes.
No dia 13 de julho, os Príncipes da Árabia Saudita, próximos ao governo dos EUA, emitiram um comunicado oficial que condenou a invasão do território de Israel e seqüestro de seus soldados por militantes do Hizbollah:
"Examinando com grande preocupação os eventos sangrentos, dolorosos que ora acontecem na Palestina e no Líbano, a Monarquia gostaria de anunciar claramente que uma diferença deve ser delineada entre a resistência legítima e aventuras apressadas executadas por elementos dentro do Estado e aqueles por de trás deles sem consultar a autoridade legítima no seu Estado e sem a consulta ou coordenação dos países árabes, assim criando uma situação gravemente perigosa que expõe todos os países árabes e as suas realizações à destruição com aqueles países que não precisa dizer".
O sauditas atribuíram ao Hizbollah a culpa pela crise: "As visão da monarquia é que é o momento de esses elementos sozinhos assumirem a responsabilidade completa por esses atos irresponsáveis e que arquem sozinhos com a responsabilidade de terminar com essa crise que eles criaram". [1]
O Rei Abdullah da Jordânia manifestou solidariedade com o Líbano —inclusive material através da doação de mantimentos— porém num encontro com o Presidente Hosni Mubarak do Egito advertiu contra o que chamou de: "aventuras que não servem aos interesses árabes".
Um crítica dura foi feita pelo Editor-Chefe do jornal árabe Arab Times, Ahmed Al-Jarallah. Ele disse que "os países árabes, principalmente libaneses e palestinos, são mantidos reféns por um longo tempo em nome da "resistência à Israel". (...) Esquecendo os interesses de seus próprios países o Hamas e o Hizbollah chegaram ao extremo de representar os interesses da Síria e do Irã sem se preocupar com as conseqüências de sua ação".
E acrescentou: "Apesar de o povo palestino e o Líbano estarem pagando um preço por este sangrento conflito, os principais atores, que causaram o conflito, estão vivendo em paz e pedindo mais petróleo aos países árabes para apoiá-los na fachada de resistir à Israel".
Al-Jarallah fez ainda uma declaração que pode até parecer surpreendente para os ocidentais: "Infelizmente nós temos que admitir que em tal guerra a única forma de livrar-mo-nos desse "fenômeno irregular" é através do que Israel está fazendo. As operações de Israel em Gaza e no Líbano são do interesse dos países árabes da comunidade internacional".
O jornalista egípcio Khaled Salah disse para o canal de televisão Dream2 no dia 17 de julho: "O Hassan Nasrallah [líder do Hizbollah], embora eu goste dele, não é sagrado, visto que ele toma todas essas decisões sozinho. Ele devia ter consultado o governo nacional do Líbano, e um aviso devia ter sido transmitido aos cidadãos, que se viram noite adentro sob fogo de um inimigo cruel e desavergonhado que usa de qualquer meio para atingir os seus objetivos. (...) No que me diz respeito, o sangue árabe e o sangue de crianças libanesas são muito mais preciosos do que o levantamento de bandeiras amarelas [do Hizbollah] e dos quadros de Khamenei no Líbano".
O líder do Hizbollah Hassan Nasrallah pediu apoio ao povo libanês na televisão: "Ninguém deve se comportar de maneira que encoraje o inimigo. Agora é o momento de ficarmos unidos. Todos os políticos devem agir de modo patriótico. (...) Eu tenho recebido muitos telefonemas pedindo para retornar os soldados tão logo quanto possível. Este não é um pedido razoável".
Porém, nem todos os libaneses estão entusiasmados em aceitar as sugestões de Nasrallah.
Segundo Michael Young, editor do jornal libanês Daly Star os cristãos, muçulmanos sunitas e os druzos "não desejam pagar pela vaidade do líder do Hizbollah Hassan Nasrallah". Alguns até "ficaram contentes com a intervenção israelense" ante a possibilidade de poderem ficar livres de Nasrallah e seu grupo.
Segundo a BBC, os moradores da cidade libanesa de Bifkaya, maioria cristã e que vive do turismo, ficaram muito bravos com o Hizbollah. A reportagem citou a declaração de um morador: "Eu culpo Hizbollah pelos nossos problemas atuais".
Muitos blogs libaneses, geralmente de cristãos e muçulmanos não simpatizantes do Hizbollah são bastante críticos em relação à ineficiência de seus políticos e daquilo que eles consideram aventuras desastrosas do Hizbollah e seu líder.
Uma blogger libanesa que identificou-se como Rampurple acusou o Hizbollah de disparar foguetes contra libaneses cristãos na cidade de Ain Ebel . Ela disse: "Esta é a verdadeira imagem da nossa valente resistência islâmica: pôr civis e suas casas como escudos contra o bombardeio israelense. Deixem a mensagem se espalhar deixem aquele movimento de criminosos fora da aldeia definitivamente. Libertem Ain Ebel dos terroristas!"
Alguns bloggistas têm dúvidas se Israel é capaz de acabar mesmo com o Hizbollah, outros criticam o serviço de inteligência israelense e dizem que eles são ruins em acertar o alvo dos locais onde ficam as instalações do Hizbollah, outros apreciam a possibilidade de o Hizbollah ter seu poder diminuído mas têm medo da ofensiva israelense.
O blog libanês "Realm of R" começa seu comentário com uma pergunta sobre o Hizbollah: "Que porra está de errado com esses retardados? Raptar soldados israelenses? (...) E por que? Eles acham que a causa palestina é o bastante para arriscar o seu próprio "país"? Bem … eles não acreditam no país, … verdadeiro portanto adivinho que isto não é um argumento válido. E não ser estúpido? Você quer uma invasão israelense? (...) O Líbano estave no caminho certo, de maneira ou de outra, libertando-se dos sírios, "discussões" abertas no parlamento, rompendo antigos tabus … houve um vislumbre da esperança. O que somos agora? Uma nação novamente na lista dos [países] terroristas?"
Apesar da desaprovação feita por muitos árabes, ela não pode ser vista com excesso de otimismo pelos israelenses. Há ainda muitos árabes que apóiam o Hizbollah ou que não aceitam a existência do Estado de Israel, além de príncipes sauditas que ainda financiam grupos islâmicos terroristas.
Referências
Blogs libaneses
Fontes
- Andy Mosher. From Arab Leaders, Sympathy for Civilians but Not Hezbollah — Washington Post, 18 de julho de 2006
- Ahmed Al-Jarallah. No to Syria, Iran agents [inativa] — Arab Times, 15 de julho de 2006. Página visitada em 28 de julho de 2006
. Arquivada em 19 de julho de 2018
- Dream2 TV. Egyptian Journalist Khaled Salah Criticizes Hizbullah — MEMRI, 17 de julho de 2006
- Michael Young. The Lebanese really blame Hezbollah [inativa] — The Spectator, 22 de julho de 2006. Página visitada em 28 de julho de 2006
. Arquivada em 30 de agosto de 2006
- Michael Young. The Lebanese really blame Hezbollah — The Spectator, 22 de julho de 2006 (Google cache)
- Many Lebanese Angry at Hezbollah [inativa] — The Big Pharaoh, 12 de julho de 2006. Página visitada em 28 de julho de 2006
. Arquivada em 15 de julho de 2006
- Martin Patience. The divided loyalties of Lebanon — BBC, 20 de julho de 2006
- Youssef Ibrahim. Arab Majority May Not Stay Forever Silent [inativa] — The New York Sun, 17 de julho de 2006. Página visitada em 28 de julho de 2006
. Arquivada em 22 de julho de 2006
- Khaled Abu Toameh. Arab world fed up with Hizbullah [inativa] — The Jerusalem Post, 3 de julho de 2006. Página visitada em 6 de julho de 2021
. Arquivada em 21 de maio de 2008 - Serviço de Imprensa da Arábia Saudia
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