Agência Brasil

8 de setembro de 2015

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A organização não-governamental (ONG) Educafro iniciou hoje (8), em São Paulo, as aulas da quinta turma do curso básico de português para refugiados estrangeiros que vivem na cidade, em sua maioria, africanos.

O curso é ministrado de segunda a sexta-feira, com uma carga horária de três horas e meia por dia. São dois módulos, cada um com três meses de duração. As aulas são voltadas para apresentar o vocabulário cotidiano, para que os estrangeiros consigam ter autonomia.

“O grande drama deles é o trabalho. E o português é a ferramenta para iniciar no mercado de trabalho”, diz o presidente da Educafro, frei David dos Santos, em entrevista na sede da ONG, no centro de São Paulo. Por isso, a evasão do curso é, muitas vezes, um sinal de um primeiro sucesso. “Eles não têm escolha quando aparece o primeiro empreguinho: Entre vir para a aula e ir para o trabalho, são obrigados a ir para o trabalho”, explica o religioso.

“Desconfio que o fato de a entidade ser voltada para negros brasileiros, acaba atraindo mais africanos, que se sentem mais em casa”, comentou o presidente da Educafro, frei David dos Santos em entrevista na sede da ONG, no centro de São Paulo, sobre o primeiro dia de aula. Nenhum dos sírios inscritos na turma apareceu para a aula de hoje, mas o frei atribuiu as ausências à chuva e ao frio.

As perseguições políticas e a guerra são, segundo o frei David dos Santos, as principais razões que fazem com que os refugiados deixem seus países. Há ainda um número expressivo que deixa os locais de origem devido à situação econômica difícil. “Para nós, é muito grave o volume de irmãos que estão fugindo por causa da fome”, ressaltou.

Com medo de ser preso, Nick Trusti (30 anos) foi obrigado a deixar o Congo-Brazzaville há cerca de dois meses. “Eu tentei proteger alguns estrangeiros. Porque lá eles estão expulsando os estrangeiros. Fui ameaçado e queriam me prender. Eu fugi”, contou. De acordo com o refugiado, o cenário político é muito ruim, com ameaças e abusos de todo tipo. “Não há lei, lá”, resumiu.

Agora, Nick disse que está apenas esperando a emissão da sua carteira de trabalho para procurar uma oportunidade. “Qualquer coisa, para que eu possa pagar uma casa para viver”, disse, sobre a disposição de ocupar praticamente qualquer vaga disponível. O congolês, no entanto reclamou da falta de apoio do governo brasileiro: “O governo brasileiro deveria ajudar os africanos que vêm para cá, que precisam de documentos para se integrar e trabalhar. Da África para cá, é muito longe. Se alguém vem, é porque precisa de ajuda”.

Para frei David, falta apoio e orientação aos refugiados para o acesso a serviços básicos, especialmente para os vindos dos países africanos. “Não há uma orientação para o refugiado e para o migrante ter acesso à rede de saúde brasileira. Bem, como não há um treinamento dos funcionários para esse acolhimento. Os refugiados e os migrantes são muito mal atendidos nessas redes públicas de saúde”, exemplificou.

As ações do grupo terrorista Boko Haram foram a principal razão para que o comerciante Samuel Chukwwica deixasse a Nigéria. “Boko Haram estava matando gente aqui e ali. Então, deixei o meu país por segurança”, explicou. Com 35 anos, Samuel disse que escolheu o Brasil, em parte, pelas referências que tinha pelo futebol: “O Brasil é um país que eu gostava desde a minha infância”.

Assim que aprender o português, Samuel espera poder dar continuidade aos estudos e fazer um mestrado em ciência política: “Eu não tenho nada ainda por causa da barreira da língua. Por isso, eu estou aqui para aprender melhor o português. Sem [dominar] a língua não dá para fazer nada. Língua é poder”.

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