3 de agosto de 2020

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O Guerra Civil Síria já fez com que mais de de 1,6 milhão de pessoas fugissem, principalmente para o norte do país, e esta crise humanitária catastrófica agora é agravada pela pandemia de Covid-19 na região.

Na região de Idlib, por exemplo, os moradores já enfrentam condições drásticas diariamente. Embora Idlib tenha confirmado apenas um caso de Covid em julho, muitos fatores contribuem para o aumento das tensões, como a é a violência contínua e deliberada da aliança militar sírio-russa, que atinge a infraestrutura da cidade e que destruiu completamente seu setor de saúde. Segundo a Human Rights Watch, “o norte da Síria não está preparado para enfrentar a pandemia".

Hani al-Hariri, um ativista do sul da Síria que agora vive em Idlib, disse ao Global Voices que a situação pode ser catastrófica se a Covid chegar ao norte da Síria, onde os refugiados mal têm acesso a necessidades básicas, incluindo os de cuidados de saúde, água e comida, o que torna quase impossível manter o distanciamento social e a higiene.

Crianças pagam o preço mais alto da guerra

Em Idlib, as crianças costumam pagar o preço mais alto da guerra. Estima-se que o conflito armado levou 190.000 crianças órfãs às ruas, que sobrevivem entre as ruínas da cidade. No total, cerca de 290.000 crianças foram afetadas pela guerra apenas no norte da Síria.

Jamil al-Hassan, ativista sírio e jornalista de Idlib, realiza trabalhos humanitários há anos em regiões controladas por rebeldes. Ele conversou com o Global Voices sobre algumas de suas experiências: "Ahmad, Salah e Abdullah [os nomes mencionados foram alterados para proteger as identidades] são três menores de dez anos de Alepo e Idlib que perderam suas famílias devido à guerra iniciada em 2011, há quase 10 anos. Sem ninguém em quem confiar, exceto um no outro, seu único refúgio foi em uma das calçadas de Idlib. Eu os conheci durante um dos meus passeios diários pela cidade e compartilhei um vídeo na minha conta do Twitter na esperança de encontrar uma maneira de ajudá-los".

Hassan acrescentou que a situação no norte é catastrófica e ficaria muito pior com a disseminação da Covid. Ele explicou: "crianças dormindo nas ruas se tornaram uma imagem frequente e enquanto todos os moradores de Idlib enfrentam uma situação crítica, as crianças que vivem nas ruas estão particularmente em risco quando o coronavírus começa a se espalhar, pois não há como protegê-las".

Refugiados vivem em condições de vida extremamente precárias

O desastre humanitário em Idlib é resultado de uma série de campanhas militares lideradas por países que apoiam o governo de Bashar al-Assad, como a Rússia e o Irã, ou que apoiam a oposição, como a Turquia.

Idlib é a última fortaleza de rebeldes e jihadistas que tentam derrubar o governo de Assad, que agora controla quase 64% da Síria. Ela está sob o controle de várias facções rivais de oposição desde 2015. A região abriga mais de 4,5 milhões de pessoas, incluindo quase 1,6 milhão de refugiados que migraram internamente, principalmente mulheres e crianças, provenientes de várias províncias da Síria.

Essas campanhas repetidas causaram sofrimento insondável aos sírios. Centenas de civis foram mortos e quase um milhão de pessoas migraram à força em Idlib e arredores, apenas entre dezembro de 2019 e março de 2020, devido a bombardeios aéreos indiscriminados, bombardeios no solo, prisões, torturas e saques, de acordo com um relatório publicado em 7 de julho pela Comissão de Inquérito da Síria da ONU, que observou que a pandemia torna ainda mais dura a vida das pessoas na região.

Entre dezembro de 2019 e março de 2020, os migrantes se refugiaram em campos superlotados ao longo da fronteira turca, no norte da Síria, para tentar se proteger. Nesses lugares inóspitos, os refugiados foram expostos a temperaturas abaixo de 0ºC durante o inverno, aglomerando-se em tendas e abrigos improvisados ​​no que o Secretário Geral da ONU para Assuntos Humanitários, Mark Lockock, descreveu como a “maior história de horror humano do século XXI".

Em 28 de junho Hariri, um voluntário de uma organização em atua em Daraa, disse ao Global Voices que "as tendas não protegem do calor do verão ou do frio do inverno". Ele acrescentou que as barracas pegaram fogo como resultado das altas temperaturas, muitas vezes superiores a 40ºC, ou porque as pessoas cozinhavam em seu interior.

E os invernos não foram melhores, com tendas pegando fogo como resultado da queima de artigos como sapatos e roupas na tentativa de gerar calor para enfrentar as baixas temperaturas. Hariri disse: "viver nessas condições trágicas dentro das tendas é desastroso, porque elas são inabitáveis e são consideradas uma solução de emergência temporária para aqueles que perderam suas casas".

Incidentes de queima de tendas foram flagradas e divulgadas nas mídias sociais. Um usuário do Twitter postou: "uma criança morreu queimada após uma barraca pegar fogo no acampamento ao norte de Idlib, perto de Kafrlosen. Deus, por favor ajude".

Fora da panela e no fogo

Enquanto isso, a organização sem fins lucrativos Save the Children revelou que mais de 200.000 pessoas, metade das quais crianças, deixaram os campos no noroeste da Síria para irem para outros locais ou voltaram para suas casas destruídas. Instigadas pelo acordo temporário de cessar-fogo iniciado em 6 de março, essas famílias enfrentavam uma escolha impossível entre enfrentar o vírus ou enfrentar a guerra. A organização twittou: "a situação é de cortar o coração".

Essas famílias enfrentam condições terríveis devido à dura situação econômica, piorada por um aumento impressionante nos preços dos alimentos. Isso inclui a incapacidade de acessar serviços essenciais como eletricidade, água ou internet. No entanto, eles continuam a sobreviver, enquanto enfrentam um futuro incerto em meio a guerra em Idlib.

Enquanto o mundo dedica enormes recursos ao combate à pandemia, o regime de Assad, com ajuda de seus aliados, usou seus próprios recursos para a matança e para causar a fome entre o povo sírio. Com quase 4,5 milhões de pessoas sofrendo com a guerra em Idlib, se aproximam as consequências de outra catástrofe humanitária inevitável, a da pandemia de Covid-19.

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Fontes