22 de abril de 2018
O visitante da exposição Disruptiva - A arte eletrônica na época disruptiva não vai ficar apenas na contemplação das obras. Se quiser, pode participar de uma experiência que usa a tecnologia para propor novas sensações.
Em muitos espaços culturais, o visitante é obrigado a manter distância, mas neste caso, vai poder tocar, balançar, deitar e interagir com as obras. Mas, se não quiser, pode apenas acompanhar os movimentos de quem esteja buscando uma participação diferente.
A exposição gratuita está instalada no térreo e no 1º andar do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio de Janeiro. Reúne mais de 120 obras de 85 artistas de 29 países, entre eles, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Polônia, Reino Unido, Argentina, Japão, Irã, Uruguai e México. Celina Portella levou para a mostra a obra Vídeo-Boleba, que provoca os visitantes com bolinhas de gude, que surgem a partir de uma imagem de vídeo.
Na obra Swing, de Christin Marczinzik e Thi Binh Minh Nguyen, quem quiser pode sentar em um balanço, botar óculos 3D e, com a intensidade dos movimentos, vai acionar animações em realidade virtual.
Uma outra obra que chama atenção do público é a Nemo Observatorium, de Lawrence Malstaf. Nela, o visitante poderá se sentir no centro de um furacão. O vento forte dentro de um cilindro de plástico movimenta minúsculas bolinhas de isopor que dão a sensação do fenômeno da natureza.
Do mesmo artista, também tem destaque na exposição a obra Shirink. Quem observa vê uma pessoa embalada a vácuo. Uma estrutura metálica sustenta duas grandes folhas de plástico transparente. Com o uso de aparelho, o ar interno entre elas é sugado gradualmente até que o corpo fique embalado e suspenso.
Performance
A pessoa que fica dentro da instalação é que regula o fluxo de oxigênio. Durante a performance, a pessoa se move lentamente. O público vai poder interagir também com a Shirink, mas terá o acompanhamento de profissionais e somente os performancers terão permissão para permanecer até 20 minutos na instalação.
“Esses performancers foram treinados para entrar lá e ficar até 20 minutos; serão os únicos que poderão chegar a este ponto. O público poderá entrar e experimentar através de uma orientação de uma das pessoas da nossa equipe no tempo que ele quiser, porque na hora em que se incomodar, ele só avisa a essas pessoas e é tirado da experiência. Aquilo lá está ligado a um aspirador de pó que faz a circulação do ar e ela [a pessoa que está dentro] tem o controle interno por um tubo”, disse Paula Perissinotto, curadora e organizadora da mostra junto com Ricardo Barreto.
A Disruptiva é uma iniciativa do Festival Internacional da Linguagem Eletrônica (File). Segundo a curadora, o conceito de disruptiva vem da economia para ilustrar uma situação de ruptura de um produto que se tornou obsoleto.
“Na verdade a gente incorporou isso como proposta e propõe uma ruptura no procedimento de comportamento dentro de um espaço expositivo. Você vem para uma exposição normalmente, e a proposta de visitação e a forma como se comporta é de contemplar, olhar, de não tocar e de não se envolver com a mostra. O que a gente propõe é exatamente o contrário. Você pode, sim, contemplar a interação do outro, a participação do outro, mas também vai poder vivenciar, experimentar, entrar em mundos virtuais e conhecer outras formas de produção artística”, afirmou.
Processo criativo
Paula Perissinotto contou ainda que o projeto do File acontece há 19 anos e, durante esse tempo, o seu processo criativo, com uso de instrumentos digitais, se desenvolveu. A curadora da mostra acrescentou que nos anos 2000 a grande novidade era o ambiente da internet, porque a rede ainda não era acessível. Os artistas começaram a explorar este novo território e passaram a usá-lo como expressão estética.
“De lá até aqui, essas ferramentas se tornaram acessíveis e muitas outras vieram, muitas plataformas surgiram e isso vai contaminando o processo criativo dentro desse universo que dialoga com o século XXI e a sociedade contemporânea”, pontuou.
De acordo com ela, o festival é uma plataforma internacional, embora seja uma iniciativa brasileira. “Nós somos de São Paulo, Ricardo e eu. Desenhamos a proposta e criamos o evento, que é totalmente brasileiro. Só que a gente construiu essa plataforma internacional, na época na internet, mas hoje a gente tem uma rede de criação e de pessoas que produzem no mundo inteiro”, observou.
Seleção de artistas
A mostra passou por uma seleção exclusiva, mas, em geral, o festival chega às propostas após um edital anual e as recebe de vários lugares do mundo. “Desde o ano 2000, quando houve o primeiro edital, já tivemos 70 propostas e, agora, a gente chega a receber 860, 1.200, 1.600; varia dependendo do ano também porque a produção desses projetos é muito árdua. Às vezes, um artista leva dois até três anos para realizar um projeto, porque envolve muitas variáveis, não só técnicas, como as financeiras”, destacou.
Paula revelou que durante esse tempo houve também uma evolução do público. “O público para gente é o grande presente dessa história toda. É a cereja do bolo, porque é muito realizador conseguir compartilhar o seu trabalho com um número grande de pessoas e a gente tem conseguido, porque esta linguagem aproxima o público. A exposição tem esse caráter lúdico porque aproxima as pessoas, mas, ao mesmo tempo, por trás desse lúdico, tem toda uma seriedade, tem uma qualidade de projetos e trabalhos. Não é assim que a gente oferece para um grande público qualquer coisa para trazer as pessoas, não, a gente escolhe a dedo trabalhos com qualidade”, destacou.
Faixa etária
A curadora acrescentou que não existe faixa etária específica para se envolver com as obras da exposição. “Isso também é uma outra característica interessante que a gente observa. Às vezes, vem a família e cada um usufrui de um jeito. Já presenciei de virem os avós com netos e todos estarem na mesma sintonia. Se você não estiver interagindo, você está contemplando a interação do outro. Existe uma relação de sintonia bastante interessante que não tem nenhum tipo de faixa etária limitada”, disse.
No fim da visita, depois de tanta interação e contemplação, o público sai com a certeza de que a exposição é bem diferente de muitas outras que existem pelo mundo, onde enfrenta muitas restrições para a sua movimentação. Para a curadora isso é resultado da liberdade que os artistas têm para criar.
“Um dos principais motivos do festival existir é ser uma plataforma em que os artistas têm liberdade de expor, porque a gente, de fato, não tem compromisso com mercado, então, são projetos de arte que cabem, normalmente, muito mais em uma relação institucional ou em pesquisas”, disse a organizadora da mostra, que poderá ser vista até o dia 4 de junho.
Fonte
- ((pt)) Cristina Índio do Brasil. Mostra no Rio leva público a participar de experiência com tecnologia — Agência Brasil, 22 de abril de 2018, às 14h13min
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |
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