Manica • 30 de agosto de 2021

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Agência VOA

Uma caravana militar das forças moçambicanas e ruandesas chegou, no sábado, 28 na vila de Palma com centenas de deslocados, que ajudou a evacuar de um abrigo precário em Quitunda, perto do porto de Afungi, onde se refugiaram há quatro meses, após o assalto a vila que acolhe o projeto bilionário de gás natural.

A informação foi confirmada a VOA por várias fontes no local, mas apesar desse avanço há notícias de que a sul de Palma, junto à costa do posto administrativo de Mucojo, em Macomia, um total de 10 pessoas foram decapitadas na quinta-feira, 26.

A caravana de sábado é a primeira evacuação para ajudar deslocados a saírem de um vasto campo e a regressarem às suas casas numa vila dilacerada pelo ataque mais visível dos jihadistas moçambicanos, a 24 de março, e que deixou dezenas de mortos e milhares de deslocados.

“Os carros militares chegavam escoltados e com pessoas e suas trouxas e distribuem em cada bairro. Muita população está a regressar”, disse à VOA Sadique Ismael, um morador de Palma, que descreveu um ambiente de “muito ânimo” pela presença da força estrangeira no local.

A imprensa ruandesa reporta que a força conjunta ajudou a evacuar 684 pessoas de um campo de deslocados em Quitunda, situado perto do porto de Afungi e que chegou a acolher mais de 10 mil pessoas.

Num vídeo amador enviado a VOA no domingo, 29, um morador de Palma mostra o mercado local a “ressurgir” dos escombros, com poucos produtos a serem comercializados nas bancas.

“Este é o mercado de Palma-sede, estou a mandar para meus conhecidos em Nampula, só que peixe está longe para filmar”, diz o morador no vídeo que mostra esqueletos de viaturas enferrujadas nas proximidades, queimadas aquando do assalto a vila.

Ainda segundo a imprensa de Kigali, o processo de ajuda para as pessoas regressarem às suas regiões de origem foi iniciado com os deslocados internos em Quitunda, mas também será feita noutras áreas da província de Cabo Delgado.

As forças conjuntas escoltaram os retornados até às suas casas e também vão continuar a garantir a sua segurança.

“A situação está calma em Palma desde que chegou essa força estrangeira. A força da SADC ainda não chegou aqui”, disse o residente, Belsazar Amade, acrescentando que a vida tende a voltar à normalidade.

Novas decapitações

Entretanto, mais a sul de Palma, junto à costa do posto administrativo de Mucojo, Macomia, um total de 10 pessoas foram decapitadas na quinta-feira, 26, supostamente pelos jihadistas moçambicanos, quando fugiam dos confrontos entre estes e as forças conjuntas de Moçambique e Ruanda.

O grupo tentava fugir de Mbau, a sul de Mocímboa da Praia — onde foram registados violentos confrontos na semana passada entre os rebeldes e a força estatal — para chegar à costa e navegar para Pemba, quando caiu numa emboscada dos insurgentes.

“Eles foram encontrados a fugir para o mar, e incluía pescadores, então sofreram, morreram mesmo”, disse um morador de Macomia.

Outra fonte disse a VOA que “acredita-se que as pessoas estavam a fugir naquele lado de Mocímboa da Praia (onde houve confrontos) para a costa, e foram encontrados pelos insurgentes e mortos”.

“As autoridades avisaram as pessoas a não fugir para a costa”, por supostamente os insurgentes terem-se distribuído em pequenos grupos junto à costa, acrescentou.

A VOA fontes militares disseram que desde terça-feira (24), a força conjunta tem realizado várias operações contra grupos de insurgentes junto à costa de Cabo Delgado, entre Mocímboa da Praia e Macomia, onde se supõe estejam abrigados os insurgentes após terem saído da estratégica vila de Mocímboa.

Das operações que prosseguem no terreno, prosseguiu a nossa fonte, a força conjunta recuperou a base de N’tchinda, em Muidumbe, que tinha sido tomada pelos jihadistas no início de 2020, além de ter desalojado o grupo terrorista do posto administrativo de Mbau.

Recorde-se que a província de Cabo Delgado é alvo de uma violência armada de jihadistas moçambicanos desde outubro de 2017, que já expulsou cerca de 820 mil pessoas das suas casas, segundo as Nações Unidas, e matou mais de 3.000 pessoas, segundo o colector de dados de conflitos ACLED.

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