Agência VOA

País acordou chocado hoje pelo assassinato de Paulo Machava.

28 de agosto de 2015

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Em Maputo, capital de Moçambique, Paulo Machava, uns dos conceituados jornalistas do país, foi morto a tiro na manhã desta sexta-feira (28), entre a avenida Agostinho Neto e a Rua Lenine, no centro da cidade, quando realizava os seus habituais exercícios físicos matinais nas ruas do centro de Maputo.

Testemunhas disseram que os assassinos faziam-se transportar numa viatura branca, onde foi surpreendido por um grupo de desconhecidos, de onde dispararam quatro ou cinco tiros de uma arma do tipo AK-47 que calaram a voz de um dos mais conhecidos jornalistas moçambicanos.

Os seus familiares confirmaram à imprensa local que Paulo Machava foi baleado mortalmente. «Ele foi morto entre as 5 horas e 30 minutos às 6 horas, quando se preparava para ir para o jornal», disse à agência AFP o seu sobrinho, Fernando Machava.

A polícia disse ter iniciado as investigações do brutal assassinato e já anunciou à imprensa que não tem pistas, embora sem avançar mais detalhes.

A classe de jornalistas moçambicanos mostra-se chocada com mais este bárbaro assassinato. O choque chega também à classe política: o líder do MDM, segundo maior partido político da oposição manifestou solidariedade e pesar com a morte de Paulo Machava.

Veterano do jornalismo moçambicano, Machava ganhou notoriedade inicialmente na Rádio Moçambique, em particular no programa "Onda Matinal", um programa de denúncia. Depois, passou pela imprensa, onde trabalhou no semanário Savana, antes de fundar o Diário de Noticias.

Reações

O Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ) condenou o assassinato do jornalista Paulo Machava. O CPJ lembra ter documentado, desde 1992, quando o país encerrou os mais de 20 anos de guerra de independência e interno (1965-92), assassinato de apenas um jornalista em Moçambique relacionado com a sua actividade profissional.

O filho do ex-presidente Joaquim Chissano foi acusado como autor intelectual, mas morreu antes do julgamento.

lembra o Comité de Protecção de Jornalista com sede em Nova Iorque.

Sue Valenine, coordenadora do departamento de África da organização de defesa da liberdade de imprensa e dos jornalistas, reagiu com nota:

Estamos consternados com o vergonhoso assassinato de Paulo Machava e apelamos às autoridades a investigarem o crime de forma eficiente, identificar o motivo e processar os assassinos.

Sue Valenine

Valentine considera que "o assassinato de Machava não pode ter lugar num país que se esforça para construir uma democracia duas décadas depois do fim de um conflito civil" [de 1992].

O assassinato do jornalista Paulo Machava repercutiu internacionalmente, coincide quase um mês depois do assassinato do fotojornalista mexicano Rubén Espinosa, ocorrido em 1º de agosto.

Histórico

Paulo Machava é o segundo jornalista moçambicano assassinado na história recente de Moçambique, depois de Carlos Cardoso.

Em Novembro de 2000, Carlos Cardoso, editor do boletim diário Metical, foi assassinado a tiros em Maputo após ter publicado uma investigação sobre a corrupção num importante banco moçambicano Banco Comercial de Moçambique.

Em 2001, Anibal dos Santos, mais conhecido como Anibalzinho, foi preso e apontou como mandante do crime o empresário Nyimpine Chissano, filho do então presidente moçambicano na época Joaquim Chissano, como uns dos principais suspeitos, mas foi encontrado morto em 2007 de forma suspeita, embora seja ataque cardíaco, antes de ir ao julgamento.

No mesmo ano, outros seis homens foram presos pelo assassinato e em 2003, eles foram condenados pelo assassinato. Já Anibalzinho, escapou três vezes da cadeia, mas recapturado em seguida.

A suspeita do filho do presidente ser apontado como mandante do assassinato do jornalista foi umas das causas de Joaquim Chissano a não candidata-se às eleições presidenciais de 2004.

A execução de Machava surge a três dias do julgamento de dois jornalistas e um economista, acusados de crimes contra a segurança do Estado. Os eventos do assassinato de Machava e o julgamento agendado para segunda-feira próxima (31) são vistos como ameaças à liberdade de imprensa e ao Estado de Direito em Moçambique.

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Fontes