17 de junho de 2016

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

Recentemente, em 2014, um projeto de lei reabriu a discussão a respeito da vida útil do viaduto mais conhecido de São Paulo, o Elevado Costa e Silva, também apelidado de “Minhocão”. Desde o início da reabertura do projeto, várias discussões sobre a questão e enquetes desenvolvidas com o intuito de ouvir o que a sociedade paulistana pensa da pauta foram realizadas.

O Jornal Folha de S.Paulo, no ano em que a discussão voltou à tona, deu espaço em sua sessão de opiniões para que duas vozes usassem seus argumentos sobre a manutenção ou destruição do Minhocão. Os autores, Thiago Carrapatoso e Coronel Telhada discorreram sobre a demolição e a manutenção da via. A discussão em torno do Minhocão ainda aborda uma nova possibilidade para o futuro da via: se tornar o primeiro parque suspenso de São Paulo.

O projeto da construção do Parque Minhocão começou na década de 1980 quando o então arquiteto Pitanga do Amparo propôs transformar o Elevado em um parque suspenso. A ideia não teve futuro concreto e a via continuou exercendo a sua principal função de ligar as regiões da Praça Roosevelt e do Largo Padre Péricles.

Nos anos 2000, uma iniciativa idealizada na cidade de Nova York trouxe de volta a vontade de Pitanga do Amparo. Com objetivo de revitalizar a área, o governo da cidade criou um parque linear sobre o elevado, com direito a jardins, árvores e até alguns restaurantes, o chamado “High Line”. Atualmente, o local é um dos pontos mais visitados da cidade, frequentado por milhares de locais e turistas diariamente. Em dezembro do ano passado um projeto semelhante foi aprovado em Cingapura, que construirá um parque sobre uma linha ferroviária da era colonial britânica, fechada em 2011. O local contará com ciclovias, parede de escalada, uma horta comunitária, dentre outras iniciativas.

Inspirada por estes e outros projetos, em 2013 foi criada em São Paulo a Associação Parque Minhocão, uma instituição sem nenhuma ligação com o governo ou partidos políticos que defende e oferece propostas de transformar o Elevado em um parque urbano. Para Felipe Morozini, diretor da Associação e morador da região do Minhocão há 16 anos, a transformação da via não afetaria em nada o trânsito da cidade, e ainda traria benefícios para os moradores da região. "Eu acredito que, se o parque acontecer, haverá uma melhoria em todas as camadas do seu entorno: social, econômica e também artisticamente, porque você acaba atraindo pessoas que normalmente não viriam para cá. Essa é uma forma de fazer poesia em um local que, durante 40 anos, não teve nenhuma qualidade de vida" - opina.

Enquanto alguns defendem a ideia de que a transformação do viaduto em parque geraria a valorização dos imóveis e, consequentemente, a expulsão dos atuais moradores, Felipe defende o contrário. "Eu acredito que construir um parque é devolver a dignidade para as pessoas que moram aqui. A especulação imobiliária já está acontecendo faz algum tempo, e seus efeitos negativos só podem ser evitados com medidas políticas. Tem que haver leis que garantam que as pessoas que moram aqui não sejam expulsas." - afirma o diretor da Associação, ao mesmo tempo em que declara compreender o aumento dos preços dos imóveis, no caso da transformação. "Eu entendo porque vai custar mais caro: porque estará melhorando o bairro. Assim como é muito caro morar na frente do Parque Ibirapuera, onde a qualidade de vida é elevada, o contrario também verdadeiro, e a região do Minhocão hoje só é mais barata porque a qualidade de vida aqui não é boa".

No artigo para o Jornal Folha de S.Paulo, Coronel Telhada é o defensor do mantenimento do Elevado, enquanto o jornalista Thiago Carrapatoso defende sua destruição. Dentre os pontos apresentados como forma de argumento de ambos, alguns são acordados, apesar dos representantes os apontarem sob perspectivas distintas. Por exemplo, a questão da população local e a consequência do Minhocão para esta é apresentada pelos dois. O Coronel refere-se à família de seu filho - que mora na região - e na qualidade de vida que esta teria com a construção de um parque sobre o Elevado, além do ganho que ciclistas teriam se fosse construída uma ciclofaixa. Já o jornalista Thiago Carrapatoso dá foco à especulação imobiliária da região caso o parque suspenso seja construído, obrigando os atuais residentes a se mudarem. Apesar de enfoques diferentes, ambos versam sobre aqueles que moram ao redor do Elevado, desse modo concordando que é importante considerar os mesmos.

Outro ponto de vista que, apesar de diferir também remete a concordância, é o real motivo para a demolição do Minhocão. Ambos questionam, ao fim de seus artigos, se o incentivo maior não seria político. O Coronel Telhada pergunta se “Não seria sua nomenclatura o real motivo para quererem derrubar o Minhocão? Estariam querendo acabar com nossa história e tirar qualquer nome de logradouro que lembre o período do governo militar?”, enquanto Carrapatoso escreve “Tentamos marcar uma outra audiência para mostrar a necessidade de participação popular, mas até agora ficamos sem resposta. Será que ainda queremos perpetuar uma política de cima para baixo que não contempla os cidadãos?”.

A esse respeito, Felipe Morozini afirma que 80% das pessoas que moram na região são favoráveis à construção do parque, e cita ainda o crescimento do número de seguidores e apoiadores do movimento nas redes sociais do Parque Minhocão, que chegou a 20 mil na rede social Facebook. "Se você vier ao Minhocão aos domingos, vai encontrar entre 10 e 20 mil pessoas, por entre crianças e idosos caminhando por aqui. A ressignificação já está acontecendo, já existe um parque sobre o asfalto." - conclui.

As dúvidas se o Elevado Costa e Silva deve ser demolido ou transformado em parque parecem estar longe de serem solucionadas, mas outro aspecto em que ambos os lados compartilham da mesma opinião fica a par da consideração de uma cidade menos dependente dos automóveis. “A cidade absorve o trânsito após o fechamento de uma via, então é como se eu fecho uma e eu tenho cinco vias que levam à zona Oeste. Aí eu tenho que escolher uma dessas vias” explica Felipe Morozini. A arquiteta Monica Ducker usa a Avenida Paulista como exemplo de como uma via importante consegue espalhar, pelos seus arredores, possibilidades de contornar o trânsito. Segundo Monica, “Da para converter o trânsito para suas vias laterais, como fazem na Avenida Paulista inúmeras vezes porque lá têm manifestações”. Entre vários aspectos divergentes, a idealização de uma cidade menos poluída sonora e ambientalmente pelos inúmeros carros e motos que circulam, é um ponto comum a todos.

Assim, com pontos convergentes e divergentes em discussão, o futuro do Elevado Costa e Silva mantém-se em voga, dividindo opiniões de paulistanos e permitindo uma conscientização acerca do futuro de São Paulo.

Fonte


 
Reportagem original
Esta notícia contém reportagem original de um Wikicolaborador.