23 de fevereiro de 2022

Email Facebook Twitter WhatsApp Telegram

 

O bolívar, a moeda legal na Venezuela, vem perdendo terreno desde pelo menos dezembro, e estima-se que em fevereiro metade das transações que foram feitas em Caracas foram em moeda estrangeira, de acordo com uma pesquisa apresentada pelo Observatório Venezuelano de Finanças (OVF).

O estudo, apresentado esta terça-feira, mostrou que 50,2% das vendas registadas foram em moeda estrangeira, das quais 34,3% em numerário e 15,9% através de instrumentos financeiros como o serviço de transações monetárias Zelle. Os 49,8% restantes das transações foram em bolívares.

Essa relação em dezembro era de 57% em bolívares e 42,9% em moeda estrangeira – contando caixa e outros instrumentos financeiros.

Situação semelhante ocorreu ao perguntar ao lojista ou prestador de serviços como eles pagavam seus fornecedores. 51% desses compromissos foram pagos em bolívares e 49% em moeda estrangeira, a grande maioria em dinheiro. Em dezembro foi de 57,1% contra 42,9%, respectivamente.

O trabalho também avaliou a marcação de preços na capital venezuelana, sejam eles em moeda local ou estrangeira.

Nesta linha, o saldo está mais inclinado para o bolívar, sendo que a moeda em que se encontravam 62,7% dos preços em fevereiro, enquanto em moeda estrangeira — principalmente dólares — foi de 37,3%.

No entanto, em dezembro eram 73,4% dos preços em bolívares, contra 26,6% dos preços em moeda estrangeira, de modo que a moeda local também vem perdendo espaço nesse indicador.

Dolarização informal e caótica

O Observatório explicou que a pesquisa, realizada com o apoio da empresa ANOVA, foi realizada em mais de 350 estabelecimentos comerciais e de serviços, onde ocorre a maioria das transações, nos cinco municípios de Caracas.

José Guerra, economista e membro da OVF, explicou na apresentação dos resultados que a dolarização é um fenómeno que ocorre quando “perde-se a confiança na moeda”, que no caso da Venezuela “é destruída pela hiperinflação”.

Os últimos dados macroeconômicos fizeram o governo de Nicolás Maduro falar em uma saída, depois de mais de quatro anos , do processo hiperinflacionário no país.

O especialista comentou que, embora os países tenham saído desse fenômeno, a dolarização costuma ficar por um tempo.

“É o caso do Peru. O Peru acabou com a hiperinflação no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, e mesmo nesse contexto, no Peru hoje, mais da metade dos depósitos dos peruanos são em moeda estrangeira", disse ele.

Além da cifra, Guerra afirmou que “a dolarização na Venezuela é muito, muito, muito incompleta. É informal, é caótico, não tem norma”.

Apesar de o governo ter descrito este processo de dolarização como uma "válvula de escape", o Parlamento venezuelano aprovou recentemente uma lei que impõe impostos sobre as transações de câmbio dentro do país para, entre outras coisas, "fortalecer o bolívar".

A este respeito, Guerra disse que não se sabe se a lei terá o efeito esperado, "mas o que vimos nos dois primeiros meses deste ano (...) presença tanto na marcação de preços como nos meios de pagamento.

Fontes