28 de julho de 2024
55% dos jovens do Marrocos que têm entre 18 e 29 anos de idade consideram a possibilidade de migrar, segundo um relatório recente do Afrobarometer. A maioria deles quer migrar para algum país do Ocidente, principalmente os Estados Unidos (26%), França e Canadá (23%) e Itália e Espanha (22%).
França, Itália e Espanha são países vizinhos ao Marrocos, sendo este ligado ao território espanhol pelas cidades portuárias de Ceuta e Melilla, dois enclaves espanhóis em solo marroquino. As duas cidades são as únicas fronteiras terrestres entre a União Europeia e a África, e lidam, anualmente, com a chegada de milhares de migrantes africanos e árabes ilegais.
"Desemprego e saúde são os problemas mais importantes que os jovens marroquinos querem que seu governo aborde, seguidos pela gestão da economia e educação", apontou o Afrobarometer em setembro de 2023, adicionando em fevereiro passado que uma pesquisa indicou que ao menos um membro adulto de cada família marroquina perdeu o emprego durante a crise causada pela pandemia de covid-19 e que o país ainda não se recuperou. Cerca de 2/3 dos marroquinos acreditam que a economia vai mal e 63% dos entrevistados disseram que haviam ficado sem comida ao menos alguma vez em 2023.
Um reinado corrupto e absolutista
O reinado absolutista de Maomé VI, que já está sentado no trono há 25 anos, nunca se solidificou e cerca de 60% dos entrevistados não estão convencidos de que o monarca e seu governo mereçam um voto de confiança. O índice é 33% menor quem em 2016, ou seja, Maomé perdeu o apoio de 30% dos marroquinos nos últimos 7 anos.
74% do marroquinos acredita que o sistema político e governamental é corrupto e 55% deles quer reformas imediatas.
Maomé VI não é só o chefe-de-estado do Marrocos, mas também o líder religioso, clamando os monarcas marroquinos seu parentesco direto com o profeta Maomé. Protegido pela lei de lesa majestade, o milionário Maomé se reserva o direito de não dar explicações e de passar grande parte do ano vivendo na Europa, sendo muitas vezes criticado pela imprensa estrangeira ou jornalistas marroquinos mais corajosos de não ser solidário com seu povo. "A repressão à liberdade de expressão e associação no Marrocos continuou com vários jornalistas, ativistas e líderes de protestos de alto nível presos em aparente retaliação por suas críticas à monarquia governante", reportou a Human Rights Watch em junho de 2023
Fontes
editar- El Marruecos de Mohamed VI: el 55% de los jóvenes se plantean emigrar por la situación económica y la corrupción — Europa Press, 28 de julho de 2024
- Rei do Marrocos: atuação estranha que tragédia do terremoto acentuou — Veja, 13 de maio de 2024
- AD765: Les Marocains se disent satisfaits de la riposte du gouvernement contre la COVID-19 — Afrobarometer, 6 de abril de 2024
- Unemployment, health, the economy, and education are top priorities of young Moroccans — Afrobarometer, 14 de setembro de 2023
- Morocco and Western Sahara — Human Rights Watch, 24 de junho de 2023
- Problema de saúde do rei e casamento de fachada: a família real de Marrocos — Terra, 8 de dezembro de 2022
- Entenda as circunstâncias em que ocorreu a avalanche de refugiados nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla — G1, 19 de maio de 2021