Brasil • 19 de dezembro de 2014

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Dados preliminares de uma pesquisa feita pelo Instituto Pereira Passos, órgão da prefeitura do Rio, mostram que 83% dos adolescentes das comunidades pacificadas da cidade estudam e 13% trabalham. O levantamento constatou ainda que entre os jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, 43% estudam e 43% trabalham. Dos que trabalham, 41,8% têm carteira assinada e 19,2% participam do Programa Jovem Aprendiz

A pesquisa faz parte do projeto Agentes da Transformação – O Perfil da Juventude das Áreas Pacificadas, que reúne informações sobre o que 3.500 jovens das comunidades pacificadas pensam a respeito de assuntos como mercado e trabalho, educação, família, lazer e acesso à internet.

O levantamento, feito pelos próprios jovens das comunidades, que foram escolhidos e treinados para o trabalho, mostra ainda que as principais atividades deles nos últimos três meses foram ir ao shopping (70%); à praia (63%) e ao cinema (60%). Além disso, 29% dos entrevistados praticaram exercícios físicos ou esportes no mesmo período. Entre as principais modalidades estão futebol (66%), corrida (50%) e bicicleta (48%).

O projeto foi criado em 2013. O levantamento deste ano envolveu sete comunidades de diferentes regiões do Rio. Em cada uma, dez jovens percorreram durante seis meses as casas dessas localidades para fazer as entrevistas. Eles foram acompanhados e orientados por coordenadores, também moradores das comunidades.

A coordenadora do projeto, Andrea Pulici, disse que os dados serão úteis para secretarias e institutos que desenvolvem políticas sociais nas favelas cariocas. “Notamos, por exemplo, que os jovens desejam fazer curso técnico, mas nos institutos que oferecem cursos gratuitos sobram vagas, pois não são vagas em áreas de interesse deles. Vamos enviar os números para essas entidades para que elas aprimorem seus projetos junto às comunidades", disse.

Para o assistente da comissão de campo do IPP Eduardo Duarte, o trabalho ajuda a desmistificar estereótipos envolvendo os jovens das favelas. “Várias pessoas têm a visão de que os moradores das comunidades são todos iguais. Assim como o asfalto não é homogêneo, a favela não é homogênea. Verificamos que a renda é até semelhante, mas outros aspectos variam bastante. Um exemplo é que, em uma comunidade, percebemos que a maioria é evangélica. Em outra, a maioria se declarou como não tendo religião”, adiantou.

Um dos participantes do projeto, Igor Monteiro da Rosa, de 16 anos, mora em Manguinhos. Ele reforça a ideia de que a pesquisa desconstrói preconceitos. “Muita gente acha que os jovens das comunidades são desocupados, mas, com os resultados da nossa comunidade, vimos que os jovens estudavam ou trabalhavam, ou ainda estudavam e trabalhavam. Eles têm visão de futuro e correm atrás.”

Coordenadora dos jovens na comunidade de Manguinhos, Paula Bezerra acredita que a iniciativa de escolher o próprio público alvo para promover a pesquisa, facilita a apuração das informações. “Quando uma pessoa de fora visita as casas da comunidade, talvez os moradores fiquem mais desconfiados. Já com os próprios jovens do local à frente do trabalho, eles moradores ficam mais à vontade, e mostram maior interesse em participar e responder às perguntas”, destacou.

Também coordenadora da pesquisa em Manguinhos, Simone Quintella ressaltou que um projeto só tem sucesso nas favelas se atende às necessidades da população. "Essa pesquisa foi importante para perceber que cada região tem sua particularidade. Não adianta fazer um projeto e aplicar em todas as comunidades, ele precisa ser direcionado para o que o jovem necessita e gosta", disse.

O Instituto Pereira Passos informou que vai apresentar nota técnica com um resumo dos pontos mais importantes do estudo em 2015, mas não adiantou o mês em que isto será feito.

Fontes