24 de agosto de 2024
Nova variante do HIV está circulando em pelo menos três Estados do Brasil, revela estudo da Universidade Federal da Bahia e Fiocruz. Segundo os pesquisadores, a mutação é um resultado da mistura genética de dois tipos de vírus amplamente difundidos aqui no Brasil, chamados B e C. O especialista Ricardo Vasconcelos, infectologista e coordenador clínico dos Projetos de Prevenção de HIV do Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, comenta o surgimento dessa variante e explica quais os métodos de prevenção mais atuais.
Conforme o especialista, a recente descoberta de um novo subtipo do HIV gerou ampla repercussão e, em alguns casos, pânico entre pacientes e público em geral, mas esclarece que a situação não dá motivo para alarme. Segundo o infectologista, a nova cepa identificada é uma combinação dos subtipos B e C do vírus HIV, uma ocorrência comum em virologia.
De acordo com o especialista, o HIV se divide em dois tipos principais: HIV-1 e HIV-2. O HIV-1 é o mais prevalente globalmente e o responsável pela maioria dos casos de aids. O HIV-2 é menos comum e tem impacto menor, especialmente na África. No Brasil, o tipo predominante é o HIV-1, com o subtipo B sendo o mais frequente, e o subtipo C sendo encontrado principalmente no Sul do País.
- Prevenção
O especialista tranquiliza e conta que os métodos atuais de diagnóstico, prevenção e tratamento continuam eficazes. Os testes para HIV, além dos métodos tradicionais de prevenção como a camisinha, a profilaxia pré-exposição (PrEP) e os tratamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda são eficazes contra esse novo subtipo. “A eficácia desses métodos já foi comprovada com outras variantes no passado e a detecção de novas combinações de subtipos não é rara e não implica mudanças significativas na eficácia dos métodos de prevenção e tratamento existentes”, analisa.
Segundo o médico, não há evidências de que o novo subtipo apresente uma taxa de transmissão mais alta ou cause uma progressão mais rápida da doença. Ele esclarece, no entanto, que serão necessários mais estudos para entender as características específicas dessa nova combinação de subtipos, mas, até o momento, não há indicações de que seja necessário modificar os tratamentos atuais.
- Público e ciência
De acordo com Vasconcelos, a confusão gerada pela descoberta do novo subtipo pode ser atribuída ao aumento do interesse do público por informações científicas, especialmente após a pandemia de covid-19. O especialista enfatiza que, embora novas variantes de HIV apareçam, o conhecimento acumulado ao longo dos anos no combate a crises de doenças relacionadas ao vírus garante que as estratégias de prevenção e tratamento permaneçam eficazes.
Conforme o infectologista, é de fundamental importância o prosseguimento com práticas de prevenção e tratamento já estabelecidas, como o tratamento antirretroviral e o uso de PrEP injetável, método moderno que consiste na aplicação semestral de uma injeção subcutânea para maior resistência, caso o corpo entre em contato com o vírus. Ele afirma que o montante de conhecimento adquirido sobre o vírus ao longo dos anos não é descartado sempre que surge uma nova mutação, mas é aprimorado e utilizado na manutenção dos métodos de prevenção existentes.
“Hoje a gente tem medicamentos disponíveis no SUS muito potentes para tratamento de quem vive com HIV e pouco tóxicos, diferente daqueles utilizados na década de 90. Os remédios melhoraram muito e hoje são menos comprimidos, menos efeitos colaterais e melhor potência contra o HIV e estão disponíveis para qualquer cidadão que tenha sido exposto ao vírus. Por causa de tudo isso, não há motivo para nos desesperarmos”, finaliza.
Fontes
editar- ((pt)) Ricardo Vasconcelos. Métodos atuais de prevenção ao HIV continuam eficientes contra novas variantes — Jornal da USP, 23 de agosto de 2024
Esta notícia é uma transcrição parcial ou total do Jornal da Universidade de São Paulo. Este texto pode ser utilizado desde que seja atribuído corretamente aos autores e ao sítio oficial. Veja os termos de uso (copyright) na página do Jornal da USP |