Brasil • 2 de dezembro de 2014

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Defendendo causas distintas, e muitas vezes complementares, jovens brasileiros assumem a representatividade de seus pares em busca de voz na formulação de políticas públicas. “Eu não me sentia representado” é uma frase recorrente quando esses jovens são perguntados sobre o início do ativismo.

Em comum, além do amor pela causa, muito aprofundamento no assunto que defendem. Exemplo disso é o mineiro Diego Callisto, que aos 18 anos descobriu que tinha HIV e depois de um momento de reflexão decidiu assumir que tinha o vírus e lutar para que os jovens como ele tenham mais informação sobre o tratamento e para que os que não têm a doença se previnam.

“Comecei a buscar conhecimento, buscar os protocolos clínicos, a passar noites em claro estudando, juntando informações, perguntando a profissionais. Eu queria mostrar um outro lado do HIV, um lado vida, de viver com qualidade de vida, mostrar que a gente consegue viver bem fazendo o uso da terapia antirretroviral”, contou Callisto, agora formado em relações internacionais e membro da Rede Nacional de Jovens Vivendo com HIV/aids.

Depois de sete anos de ativismo, agora com 25 anos, Callisto já participou de eventos internacionais levando a experiência brasileira no campo do HIV/aids e trazendo as experiências de outros países. Entre os eventos, ele participou em 2012 do Fórum Consultivo da Juventude, na Tunísia, pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e, em 2014, da Conferência Mundial de Juventude.

“Quando eu assumi esse protagonismo frente à epidemia de aids, me tornei mais maduro, mais coletivo que individual, comecei a defender pautas que eu não defenderia antes. Eu nem entenderia a dinâmica. Acima de tudo, consegui dar voz e vez para a juventude frente ao cenário da epidemia de aids”, disse o jovem.

A jornalista Tâmara Terso, de 27 anos, também abraçou uma causa aos 18 anos, quando entrou na faculdade, porque viu que, assim como ela, que cursava jornalismo na Universidade Federal da Bahia, vários jovens precisavam de voz na defesa de direitos para conseguir prosseguir no ensino superior.

“Eu sou uma jovem do interior da Bahia, de Itamaraju, e fui para a capital muito nova para organizar a minha ida para a universidade. Sendo uma jovem negra, do interior, que fez o ensino médio em escola pública, ao chegar na universidade federal, eu me deparei com milhares de contradições”, relembra.

A jornalista diz que entrou na universidade quando houve uma grande quantidade de jovens negros e trabalhadores entrando em cursos no ensino federal por meio das cotas, mas quando ainda não havia uma estrutura para que esse jovem se mantivesse na universidade. “Pensei: ou eu me organizo aqui com meus colegas ou vou ter que sair da universidade”, contou. Tâmara participou de organizações estudantis universitárias e, ao longo do seu curso de jornalismo, o ativismo dela, em conjunto com outros colegas na mesma situação, conseguiu conquistas como a implantação de residências universitárias e do restaurante universitário na UFBA.

Hoje a jornalista atua no Coletivo Brasil de Comunicação Social - Intervozes defendendo a democratização da comunicação, sempre levantando a bandeira da igualdade racial. “Entrei na causa por ser mulher negra jovem e entender que essas barreiras colocadas pelo sistema capitalista, essa condição de desenvolvimento colocada hoje, exclui negros e jovens da condição de emponderamento. Se não há essa via de ativismo, você fica à margem”, disse Tâmara, acrescentando que quer sempre ser ativista na defesa da democratização da comunicação focando a causa racial.

Já o antropólogo Ivens Reis Reyner começou a defender a causa dos direitos sexuais ainda aos 12 anos, pois, diferentemente da maioria das escolas de Lavras, cidade do interior de Minas Gerais onde vivia, a escola dele orientava os alunos com relação à educação sexual. “A gente tinha um grupo que proporcionava essas discussões em outras escolas. Com o tempo, fui me engajando em uma rede que tinha a ideia de unir projetos parecidos com esse no país inteiro. Ele já tinha um cunho mais político, de como fazer com que políticas públicas acontecessem para efetivar isso, para não depender de iniciativas específicas” contou o antropólogo, de 24 anos.

Ainda muito jovem, aos 15, já fazia articulação com o Ministério da Saúde, por meio do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), e continua defendendo uma posição menos conservadora do governo para que o jovem seja informado sobre como se prevenir de doenças e agir para isso. “Apesar de o jovem ter o direito de ir à rede pública de saúde pedir uma camisinha, isso ainda é muito malvisto no Brasil. Então há um contrassenso, um país avançado no que diz, mas extremamente conservador na educação.”

Aos 18 anos Reyner entrou para a Youth Coalition for Sexual and Reproductive Rights, uma organização internacional que tem como proposta levar a temática dos direitos sexuais para a Organização das Nações Unidas, onde o jovem representa o país há cinco anos. Reyner diz que quer continuar sendo ativista na causa dos direitos sexuais e levar o tema para todos os fóruns que possam levar as discussões à prática de políticas públicas no Brasil. “Isso tudo só faz sentido se for concretizado. Não basta a discussão pela discussão, temos que ter ações”.

Diego, Tâmara e Reyner vão se unir a mais 47 jovens no Seminário Juventude e Política Internacional que começou hoje (2) e vai até a quinta-feira (4) em Brasília. O evento, organizado pela Secretaria Nacional de Juventude, ligada à Presidência da República, pretende mostrar aos jovens líderes como levar suas causas a fóruns internacionais de forma que eles levem as experiências nacionais mundo afora e possam também trazer ideias novas para aplicação no país.

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