Brasil • 9 de outubro de 2014
A inclusão de jovens de comunidades pobres no mercado de trabalho da indústria cinematográfica e do audiovisual é uma das preocupações dos organizadores do RioMarket 2014, setor de negócios do Festival do Rio, um dos grandes eventos do cinema mundial. Por isso, pelo segundo ano consecutivo, desenvolvem o projeto RioMarket Jovem. A ideia, segundo a diretora do Festival do Rio e coordenadora do RioMarket, Walkíria Barbosa, é torná-lo atuante o ano todo e não apenas durante os dias do festival. “A nossa ideia é manter o RioMarket Jovem o ano inteiro. Fazer com que ele aconteça durante todo o ano, e possa preparar de fato esses meninos para serem grandes executivos e criativos do audiovisual do Brasil”, disse. Segundo Walkíria, já existem parceiros privados dispostos a participar do evento. Ela informou ainda que, depois da eleição, pretende ir a Brasília para tentar patrocínio público.
Durante as duas semanas do Festival do Rio, os jovens que se inscreveram no evento puderam acompanhar encontros sobre roteiros, direção de arte, oficina de atores e figurinos. Um deles foi David Silva Caripunas, de 22 anos. Ele participa pela segunda vez do RioMarket Jovem. No ano passado, pouco tempo depois de chegar de São Luís, no Maranhão, conseguiu uma vaga no projeto e cheio de planos fez workshops com especialistas em diversos setores da indústria cinematográfica. Um ano depois, disse que, nesse período, deixou a Vila do João, comunidade da zona norte do Rio, e foi morar no centro da cidade. Fez um documentário e participou da produção de outro filme. Mas, o acesso para o curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma de suas metas, ainda não foi possível.
“Eu não entrei na UFF porque ela é muito concorrida. É tão concorrida como direito e medicina, e eu não consegui. Mas, pelo projeto Cinema Nosso [desenvolvido por uma organização não governamental (ONG) ligada ao cinema] eu consegui fazer um documentário e, após o contato de um professor, consegui fazer assistência de produção de outro filme”, disse, acrescentando que o plano, agora, é fazer vestibular para o curso de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Do RioMarket Jovem, David ressaltou que esperava mais este ano. Ele ainda aguarda a promessa dos organizadores de transformar o projeto permanente, com aulas e workshops durante todo o ano. “O pessoal falou no ano passado que a gente teria estágio e mais wokshops durante o ano, e não aconteceu. Falaram a mesma coisa este ano. Espero que este ano aconteça, e vai me surpreender. Se acontecer, vai ser muito bom para gente que tem essa vontade de trabalhar com audiovisual”, disse.
De acordo com Walkíria, já fazia parte da proposta do projeto repetir os alunos que participaram da programação do ano passado, e nesta edição houve a inclusão dos universitários. “A ideia é ser um programa de três anos com esses grupos, e sentimos necessidade de ampliar para os alunos de universidades que também vão fazer parte do projeto no ano que vem”, explicou.
Para a aluna de comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Daila Cristina Ferreira, moradora da comunidade do Arará, em Benfica, na zona norte da cidade, a participação pela primeira vez do RioMarket Jovem foi uma experiência positiva. “Achei uma oportunidade sensacional, principalmente, para pessoas que moram em comunidade e que não têm acesso àquele tipo de evento. A gente teve palestras e workshops com pessoas que normalmente não teríamos acesso se não fosse o evento”, disse à Agência Brasil.
Daila ficou sabendo do projeto pela internet, tentou a vaga e foi selecionada. Na avaliação dela, a variedade dos temas das palestras e dos encontros foi fundamental. “Eu pude entender como funciona cada processo de criação, desde a criação de um filme até a sua produção”. A estudante também espera que o projeto seja permanente. “Eles disseram que estavam procurando patrocínio para conseguir custear uma bolsa, para que a gente pudesse participar do evento. O que para nós é um sonho, porque muita gente não pode participar porque precisa trabalhar. Foram 15 dias maravilhosos. Quando acabou a gente ficou com o gostinho de quero mais. A gente teve muita troca de conhecimento, muita troca de informações com pessoas do meio, que a gente conheceu e trocou currículo. Não deixa de ser uma esperança para o futuro”, ressaltou.
A diretora do festival, Walkíria Barbosa, informou que na edição de 2015 será incluída oficinas para produção de publicidade. Na avaliação dela, este é um segmento que tem que estar próximo ao setor de audiovisual. “A função do festival é ampliar e fortalecer todos os segmentos e acreditamos que dessa maneira a gente tem como avançar no sentido de estreitar as nossas relações entre o setor e a publicidade”, disse.
Fontes
- ((pt)) Cristina Indio do Brasil. Jovens de comunidades participam de projeto de inclusão na indústria do cinema — Agência Brasil, 9 de outubro de 2014
A versão original, ou partes dela, foram extraídas da Agência Brasil, sob a licença CC BY 3.0 BR. |
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